As pessoas que propõem
intervenção militar são muito ingênuas, na minha bem franca opinião.
Desconhecem as conseqüências graves de suas propostas. Negam por ignorância os
crimes cometidos na ditadura, o arbítrio, a tortura, as condenações e execuções
sem provas e a violação dos direitos humanos de mulheres, crianças, pais e
filhos, mães, jovens, estudantes e trabalhadores. Elas esquecem que o poder
adere à pele de quem o usurpa. A última vez que isso aconteceu no Brasil levou
mais de 25 anos para descolar. E a questão moral de fundo aí é o arbítrio e a
usurpação do poder que sempre leva a violência e não a justiça. O nome
intervenção ou golpe não muda a natureza do processo de usurpação do poder e de
ilegalidade e a sua lógica imoral e a maior prova disto é que foi exatamente
isto o que aconteceu em 1964 e até hoje os addictos aos militares chamam de
revolução e os adversários e mesmo alguns simpatizantes decepcionados chamaram
de golpe. Naquela época, as razões para o golpe ou a intervenção militar também
eram baseadas em opiniões arbitrárias, emocionais e sentimentais insufladas
pela ambição daqueles que se viam afastados do poder pela via democrática e que
perdiam espaços nos legislativos e executivos por todo o pais, e caso
prosseguisse o processo histórico que eles tentaram interromper não teriam mais
vez como elite neste país e já antes com o suicídio de Vargas, com a eleição de
JK e com a renuncia de Jânio e ainda assim com a solução Parlamentarista que
foi derrotada em plebiscito. Sobre gostar ou não de polícia, exército eu vejo
uma única questão ai o do controle legal da violência legítima do estado que
deve ser limitada pela justiça e pelo respeito à lei constitucional. É mentira
dizer que aqueles que deram o golpe ou que promoveram a intervenção militar ou
a revolução salvaram a pátria do fantasma do comunismo. Eles colocaram o país
no período mais arbitrário de sua história. E o arbítrio levou a violência
sobre os opositores do regime, contra os sindicatos, contra a liberdade de
opinião e permitiu que fosse feita uma série de lambanças na economia
brasileira que até hoje nos impedem de colocar o estado brasileiro em pé. Um
exemplo disso são os diversos tipos de dívidas previdenciárias, de
empreendimentos e de gestão das empresas estatais e também da alargada
corrupção protegida pelo regime de força. Estas dívidas e desvios foram geradas
a partir da distribuição de benesses aos que sustentavam o regime. E você pode
olhar como isso se deu bastando buscar nominalmente aos detentores de poder do
regime e seus herdeiros. Filhas solteiras de militares é bem pouco comparado
com todo o resto. Ninguém gosta de violência e quem gosta de violência não tem
mesmo cabeça boa. Todo mundo quer justiça, mas nem todo mundo quer pagar na
justiça mesmo que seja numa boa. É um problema de caráter moral e bem natural
no fundo. Assim aqueles que defendem uma intervenção militar não são razoáveis
e possuem apenas uma opinião irresponsável e extremada sobre os fatos que não
resolve mesmo nenhum problema e pode apenas abrir um outro ciclo de mais
problemas sendo encobertos e maquiados sob a forma de sustentação de mais um
regime de arbítrio. Não creio, enfim, ser possível fazer justiça baseado e
dilemas e concepções cuja única base é a mera opinião, sem correspondência com
os fatos e sem uma análise apurada e rigorosa dos fatos...e isso hoje em dia só
pode ser produto do que tenho chamado de ignorância voluntária...
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