Leia a história de MARILENA
VILLAS BOAS PINTO (1948-1971)
“Estudante do segundo ano de
Psicologia da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro (RJ), Marilena
passou a viver na clandestinidade a partir de 1969. Juntamente com seu
companheiro Mário de Souza Prata, ela foi presa e morta nos primeiros dias de
abril de 1971, no Rio de Janeiro. Ambos eram integrantes do MR-8, com
militância anterior na ALN. A versão oficial divulgada pelos órgãos de
segurança registrava que, em 2 de abril, os dois teriam entrado em
enfrentamento com agentes da Brigada de Paraquedistas do Exército, na rua
Niquelândia, no 23, em Campo Grande. Mário teria morrido na hora, enquanto
Marilena, ferida, teria falecido posteriormente. Segundo relatório de prisão
feito por Inês Etienne Romeu em 1981, Marilena foi levada para um sítio
clandestino em Petrópolis (RJ), que ficou conhecido como “Casa da Morte”. Em
abril de 1997, Inês confirmou tal informação: “A pedido, confirmo integralmente
o meu depoimento de próprio punho, sobre fatos ocorridos na casa em
Petrópolis-RJ, onde fiquei presa de 8/5 a 11/8 de 1971. Esse depoimento é parte
integrante do processo no MJ-7252/81 do CDDPH, do MJ. Nesse depoimento está
registrado que o ‘dr. Pepe’ contou ainda que Marilena Villas Boas Pinto
estivera naquela casa e que fora, como Carlos Alberto Soares de Freiras,
condenada à morte e executada.”
No dia 15 de março de 2015, em
meio às manifestações em São Paulo, foi visto um cidadão chamado Carlinhos Metralha
discursando e sendo aplaudido pelos manifestantes contra o governo Dilma, em
plena Avenida Paulista. Ora, para quem não sabe, Carlinhos Metralha, é um
ex-agente do DOPS, um sujeito responsável – como o nome já diz – por algumas
execuções covardes de jovens que foram aprisionados em combate contra a
ditadura militar. É o mesmo sujeito que com a maior cara de pau disse que não
havia tortura na ditadura militar, enquanto existe uma abundância de depoimentos de
vítimas com dolo físico e psicológico comprovados da mesma prática e que, além
disso, matava jovens a sangue frio; ele teve participação em casos de detenção
ilegal, tortura e execução. Dentre tudo que foi visto na manifestação isso é
uma das coisas que doem na alma de qualquer ser humano. Quando Adorno afirmou
que após Auschwitz a educação teria certas tarefas, me vejo aqui desfiando
palavras contra certa possibilidade de que aquilo se repita.
"A exigência que Auschwitz
não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede
quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não
consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria
algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca
consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta
provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da
persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de
consciência e de inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas
educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que
Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a
educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de
uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo
enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta
regressão. E isto que apavora. Apesar da não-visibilidade atual dos
infortúnios, a pressão social continua se impondo. Ela impele as pessoas em
direção ao que é indescritível e que, nos termos da história mundial,
culminaria em Auschwitz."
Theodor Wiesegrund Adorno
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