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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

FIM DE JOGO

Boa parte da nossa vida consiste em jogar um jogo cujas regras e atalhos, ataques e recuos vamos apenas aprendendo, errando e acertando, tateando como que no escuro. Quando, afinal, para alguns de nós, de fato aprendemos algumas coisas, o jogo simplesmente acaba. Neste filme, O Sétimo Selo (1956), de Ingmar Bergman - entre diversas outras coisas tão ou mais interessantes quanto esta - nos mostra que é preciso ser um verdadeiro artista parta escapar da morte, ludibriá-la e retardar sua vitória sobre nosso frágil corpo. Nesta cena o cavaleiro busca entender esta vida e vencer a morte num jogo de xadrez cujo final todos devem saber, posto que a morte ali - como o absoluto ou a totalidade negativa - é quase a única fonte de todas as jogadas possíveis, pois possui em si uma espécie de depósito de todas as sutilezas, gambits, manobras e esquivas produzidas por todos os outros homens que ousaram desafiá-la de alguma forma. E tanto a humildade como a arrogância podem muito bem acompanhar esta desafio, pois quando olhamos para morte jamais olhamos para um vazio mas sim para nós mesmos em nossa completa observação. Assim, desta forma eu vejo este olhar do cavaleiro para a morte: olhando para si mesmo e tentando ocultar o que pensa. Mesmo não sendo possível fugir à morte é, então, ainda possível pensar nisto. Por esta estreita passagem projetamos sobre nós e os nossos a imortalidade como uma aposta da razão, que não nos custa nada e nos conforta, porque com toda dor e sofrimento, ainda assim tentamos e persistimos mais um pouco.Não há nada de insensato nisto, pois justamente a partir daí que se abrem as nossas mais nobres esperanças de que as coisas possam um dia ser melhores ou diferentes, ainda que o jogo se encerre para nós. 


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