Meu amigo facebookiano e professor
da UFRGS, Junior Baracat, Dr. Em Língua Grega
está traduzindo um texto de Olimpiodoro, o jovem, da Escola de Alexandria (circa
495-570 d.C.) - que comenta aquela primeira passagem que tanto cito em trabalhos
e abordagens de Aristóteles Metafísica 1, livro 1, que ele – Olimpiodoro - designa
por Teologia, veja isto:
“Aristóteles, ao iniciar sua teologia,
diz: ‘todos os homens, por natureza, desejam o saber, e sinal disso é o amor
pelas sensações’; eu, porém, ao iniciar da filosofia de
Platão, diria isso de um modo melhor: todos os homens desejam a filosofia de
Platão, querendo todos dela retirar algo útil, esforçando-se para serem
possuídos por seus mananciais, e detendo-se apenas quando plenos do entusiasmo
platônico” - Olimpiodoro, Comentário ao Alcibíades de Platão, 1.
O que Olimpiodoro disse sobre
isso e Platão eu não conhecia, mas esta passagem de Aristóteles é tão clássica
para mim...He he...que eu sempre prego ou grudo, fixo e impassível no amor à
sabedoria que aqui tem a versão do prazer das sensações e do desejo de conhecer
e é uma combinação tão maravilhosa para mim quanto um baralho novo..em qualquer
ponto que você cortar aparecem cartas novas em folha e imagens que você parece
que está vendo pela primeira vez...eu não resisto a esta passagem nunca...
Mas que se diga também que Platão
é tão genial que nenhuma descrição pode suplantar o seu alcance....vale para
ele o que vale para Deus: o gênio tem sempre um pouco de loucura e a loucura
tem sempre algo do gênio...o que para nós pode ser grande para Deus pode ser
pequenino e o que nós é pequenino para Deus pode ser gigantesco...e a República
parece meio imensurável mesmo.....me pego pensando muito em alternativas em
argumentos e não encontro melhores nem mais elegantes...mas chega de retórica e
arte....
Penso também em nós que lemos
estes autores 2.400 anos após suas escrituras e que também temos forte
impressão tanto pelo que eles dizem aqui e ali, quanto pelas conexões
intertextuais e outras. Sou daqueles que adora ler Aristóteles e reencontrar
argumentos e formas de argumentação que pulam daqui para lá. E eu fico pensando
no tipo de impressão que os alexandrinos e outros tinham e na forma como
liam....a retórica do texto "detendo-se apenas quando plenos" diz
tudo para mim. Eu comecei minha dieta grega por Aristóteles, mas quando cheguei
em Platão de forma mais madura e experiente o que é algo recente foi que vi o
quanto ele é realmente grandioso. Dos tratados de Aristóteles cuja exposição
astuta e elegante do conhecimento, cuja forma de exposição parece linear aos
assaltos argumentativos de Platão em seus diálogos - com todos os "olha
isso" e "olha aquilo" que me acometem, na leitura - pula se do
cientista cauteloso e metódico para o poeta genial. Mas, o que é demais mesmo é
que jamais se lê impunemente Platão... e quando digo isto não trato das idéias,
mas sim da vida....
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