Muitas teorias procuram dar conta da diversidade estética gerada pela modernidade. Não é esta minha especialidade, nem minha maior área de interesse, mas após ousar adquirir IMAGENS de Ingmar Bergman, sem ter vistos sequer uma terça parte de seus filmes, o que por si só já é um acidente biográfico razoável e iniciar uma das leituras mais prazerosas que já realizei pelo misto entre vida e obra ali presente e sentir uma intensa afinidade entre ideias e criações - e entre suas ideias e algumas impressões minhas e algumas questões e conceitos com que ando zanzando sobre a vida,a liberdade, crença, fé, arte, relações e etc, e também sobre autenticidade, felicidade, educação, segredos e revelações, culpas, doenças, maturidade e infância, menoridade, interpretação, verdade, depressão e discurso, me alegro com o que leio e com o que vi. E fiquei pensando que com ele - assim como com alguns outros artistas - a questão não é a do filme ou obra intelectual ou intelectualizada, ou do papo cabeça, mas sim de uma certa relação entre o que eu chamaria de Estética Autêntica e Vida, que se resume conceitualmente para mim entre a nossa forma de ser e a nossa forma de pensar...num tempo em que muitos querem ser uma coisa, pensando em outra, este encontro na na obra dele e na pessoa dele me gratifica. Pois a honestidade com que ele narra e nos apresenta bem objetivamente suas ideias e experiências sentimentais e existenciais próprias e paralelas com seus filmes é uma grande lição de reflexão e auto-consciência. E para mim isto é absolutamente necessário para uma verdadeira arte que faça sentido ou que desperte um desafio real - ainda que seja com fantasias e delírios, sonhos e imagens, ao sentido. Haveria, então para mim, uma estética da autenticidade, como a letra da canção que ontem improvisei para minha filha gremista que me pintava à caneta: NÃO ME PINTA COM TUAS CORES ANTÔNIA, PORQUE SE VOCÊ ME PINTAR, EU FICAREI AZUL..., naqueles meus acordes a rima entre Pinta, Antônia e Azul é perfeita, e isto ao entardecer de uma tarde, após passarmos vibrando pelo Beira-Rio na ida e na volta da Fundação Iberê Camargo e excitados com a possibilidade de assistir ao nosso primeiro jogo de futebol juntos com a Isabella e, ao mesmo tempo, premidos pelo tempo e outars agendas familiares. Uma obra singela como esta tem a mesma dimensão para mim de uma grande obra, ela vem da vida e pertence à vida do seus autor. Neste tipo de estética não há nas suas emoções aquela contenção forçada que sói aparecer nos que fazem muitos planos. Nestas obras eu sinto como que um fluxo entre argumento, narrativa, roteiro, enredo e aquele mundo paralelo e real do autor que acompanha este processo. E Bergman ilustra isto muito bem com algo que me deixou também impressionado: ele fez muitos filmes premidos pelo tempo curto de filmagem: de 30 a 45 dias, e lhe saiu aquelas obras de cuja autenticidade e significatividade não podemos duvidar e cujas impressões e perfeições não conseguimos nos descolar ao assistir tão rapidamente. O tempo na arte é um relativo fundamental com a intensidade do sentimento que o acompanha e isto só se mostra se houver alguma relação entre a estética e a autenticidade, entre a forma de ser e a forma de pensar.
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