Sobre a orientação aos militares
para não comemorarem a Redentora de 31 de março de 1964, posso dizer que se eu
fosse a presidente faria a mesma coisa e provavelmente pelas mesmas razões, que
não tem nada de pessoal e que por mais que alguém queira atribuir estas razões
como centradas na vida pregressa dela deveriam ser bem consideradas como razões
de estado, e, razões de estado no sentido mais clássico e canônico possível.
Nenhum general ou oficial militar
suporta, tolera ou permite qualquer tipo de quebra de hierarquia sob o seu comando.
E é isso para mim o principal
motivo da orientação da presidenta: alinhar o comando e impedir o elogio àquela
triste aventura.
Ditadura não é fazer isto ou
impor esta orientação, ditadura é, no fundo, o risco que corremos se virar moda
de novo quebrar a hierarquia ou se assanhar com isso, como alguns oficiais da
reserva por irresponsabilidade e também por déficit de formação, estão a fazer ao
promover, estimular e fomentar qualquer forma de sedição ou afronta a
presidenta legitimamente eleita e no comando deste pais.
E foi justamente o que eles
fizeram em 31 de março de 1964 contra João Goulart.
Estou falando como um brasileiro.
Isso aqui não é um chiqueiro, nem
uma república de bananas e o respeito à constituição e a ordem civil deve ser
defendido, inclusive, pelos militares
O comandante em chefe do exército,
o comandante supremo do nosso exército é o presidente, cabe a ele deliberar
sobre guerra, sobre paz e não a meia dúzia de militares ou ideólogos obscuros.
Dá para imaginar e perceber facilmente
o quanto este tipo de conduta, elogio e atitude é uma ameaça à democracia do
nosso país e às liberdades dos cidadãos e direitos dos homens e mulheres deste
país. Quanto à deixar isso solto é perigoso para nós todos? Não é perigoso para
a presidenta, mas para o próprio povo e é um elogio á violação das normas
constitucionais que ocorreu em 1964 tentar comemorar aquele evento. Eu penso que
isso é inadmissível e digo mais penso também que o fato dela orientar contra
isto é um sinal de que estamos superando também esta política de amedrontamento
e ameaças da caserna sobre a vida política brasileira. E é uma resposta que com
caráter de orientação tem papel educativo inclusive e cabe somente a presidenta
fazê-lo. E aguardaria, por exemplo, que os deputados federais e os senadores
deste país subscrevessem esta atitude dela e mais que isso que o próprio
Supremo Tribunal Federal endosse isto, posto que de fato é a rigor uma atitude
de defesa máxima da ordem constitucional. Eu prefiro a ordem das leis do que a ordem da força
e isto é justamente o que está se impondo aqui. O respeito às leis e o fim do elogio
irresponsável e inconseqüente às aventuras.
E é bem importante perguntar não
o que isso significa para os militares, mas sim para o Brasil?
E penso que é recomendável que se
leia a constituição: que todo poder emana do povo e que em seu nome deve ser
exercido é o fundamento principal desta orientação. E a presidenta é autorizada
pelo povo e exerce legitimamente este poder que deve ser acatado.
Com poder não se brinca e com
autoridade também não e quem tem o poder e a sua autoridade emanada do povo é a
presidenta, não meia dúzia ou uma centena de militares saudosos ou inspirados
em elogio ao golpe constitucional.
E nos dias de hoje em que saem das
sombras cada vez mais crimes e cometidos
pelos militares e pelos civis que os
apoiaram e cada vez menos admissível que tal elogio ou comemoração seja feita e
realizada em afronta também às vítimas dos atos bárbaros e vis cometidos por
eles. Hoje que sabemos cada vez mais coisa piores da ditadura, deve haver cada
dia menos espaço para o elogio a isso.
O testemunho de Almino Afonso
sobre os antecedentes "ideológicos" do Golpe Militar e sobre o pregresso
conflito entre os EUA e os militares do Brasil em relação à posição de
não-alinhamento de Jango é muito esclarecedor a este respeito. Sobre a atitude
dos militares valeria um raciocínio adicional sobre porque e em que condições
estão autorizados a suplantar os poderes constituídos. E não é muito difícil compreender
isto, pois na minha opinião o problema não é só as razões, mas as conseqüências
desta razões. E creio mesmo que sempre a finalidade deveria ser considerada a
causa maior. E a finalidade da ação dos militares no golpe não era neste caso a PAZ ou a
Democracia, muito menos a questão de que o governo Jango era comunista. Isso me
leva a crer que faltou juízo e discernimento aos mesmos. Mas enfim não seria a
primeira vez na história que um governo e tratado como inimigo, porque não quer
a guerra. Mas é e foi uma entre tantas vezes que um pais e jogado na
polarização da guerra fria justamente por discordar dela. E a forma como isso
foi feito, promovido é vergonhosa. Jango viu este seu governo constitucional,
eleito democraticamente ser derrubado em uma conspiração com origem externa e
simpatia ideológica e materialmente interessada internamente. E isto por si só
bastaria para justificar que a atual comandante em chefe da forças armadas
ORIENTE A NÃO COMEMORAÇÃO DO GOLPE.
Porque bem claramente dito:
ocorreu um crime de LESA PÁTRIA...
A seguir uso aqui de novo o recorte de
Renato Janine Ribeiro da entrevista de Almino Afonso, no Valor, evocando o
golpe, para concluir:
"- A política externa não
agradava aos americanos. O Brasil reatou relações com a União Soviética, foi
contra a expulsão de Cuba da OEA. Na crise dos mísseis, Kennedy mandou uma
carta que era verdadeira convocação para o Brasil acompanhar os Estados Unidos
num ataque a Cuba. Lembro a data: 22 de outubro de 1962. Jango reuniu, no
Palácio, Francisco Clementino de San Tiago Dantas, chanceler; Evandro Lins e
Silva, procurador-geral da República; Antônio Balbino, ex-consultor geral da
República; general Albino Silva, então chefe da Casa Militar, e este jovem.
Jango mostra a carta e já traz sua opinião, com anotações à mão, uns
garranchos. A opinião dele era o respeito ao princípio de não intervenção. San
Tiago escreveu o texto da recusa. Em Genebra, numa conferência sobre
desarmamento, o Brasil anuncia que é não alinhado, não se subordina a nenhum
bloco militar. Tudo isso contrariava a estratégia dos Estados Unidos, que
tinham a América Latina como território seu. Daí o apoio aos golpes em todo o
continente. No caso do Brasil, está provado, tropas americanas desembarcariam
em Pernambuco se houvesse resistência. Jango já sabia disso, avisado pelo
ex-chanceler Afonso Arinos. Não precisaram intervir, pois o financiamento a
entidades como Ibad e Ipes, a campanha massiva anti-Jango na imprensa, acabaram
por convencer os militares de que o governo ia comunizar o país."
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