Em minhas aulas inicio com um tema
que creio que é fundamental, à saber: o que é uma atitude filosófica? Abono esta dica à professora Marilena Chaui
que bem a posta no inicio, em seu primeiro capítulo, de sua obra didática
Iniciação à Filosofia.
Interrogo isso e, de certa forma,
me posiciono dizendo também que nem toda atitude filosófica leva à uma
filosofia, ou se realiza em uma obra filosófica, pois pode apenas envolver uma
postura, uma conduta uma propriamente atitude mais interrogativa, crítica e que
submeta velhas questões ou discursos a novas perguntas, mas que esta atitude
também pode levar a um pensamento melhor sobre algo. Que esta atitude através
de suas interrogações, traga novas formas de interrogações, e que da construção
de novas alternativas de respostas venham novos pensamentos ou pensamentos diferentes,
que respondam às provocações da realidade ou às influencias culturais.
E avanço, também, no questionamento
sobre como é possível que se produza um pensamento diferente de sua época, de
tal modo que surja a filosofia lá na origem e hoje uma nova filosofia possa ser
possível? Como sabes a base disto e uma espécie de confronto ou mudança de
estilo e forma em relação à tradição. Resumo o desafio do professor em tentar
contribuir para que o pensamento seja mais bem elaborado – na perspectiva kantiana
do ensinar a filosofar, não no ensinar filosofia - e usei claramente a metáfora da comida nesta
introdução em que construir um pensamento é como cozinhar e que não nada melhor
do que um bom ou excelente pensamento para alimentar a nossa alma.
Sobre a revisão da filosofia antiga,
na retomada da filosofia moderna começamos também com a definição de conhecimento
de Platão como crença verdadeira justificada e somamos a isto as nuances da
Aristóteles na relação com os sentidos. E este tema avançou, também, no seminário
integrado, por uma questão de retomada das aulas do ano passado nos segundos
anos, por uma questão de iniciação ao método e também de certa análise do
discurso, para promover tanto a percepção de diferenças como contribuir para
ajuizar as escolhas – no sentido de operações do nosso pensamento, tenho usado
uma distinção praticamente canônica de Platão entre doxa e episteme, tenho
agregado o termo endoxa de Aristóteles, para ilustrar que nem toda opinião é
ruim, prisioneira ou cativa dos erros dos sentidos ou é exclusivamente inútil ao
nosso conhecimento.
Para o pessoal do seminário temos
usado textos sobre a diferença entre opinião e conhecimento do professor Fabio Ribeiro
Mendes, inseridos no seu Livro Iniciação Científica: Para Jovens Pesquisadores,
cujo texto á pagina 17, Ciência e
opinião, praticamente reproduz a posição de Platão de modo a gerar co preensão
e distinção básica entre discursos de ciência
e discursos de opinião.
E, além disso, se perderes o fôlego,
faça uma pausa, também tenha apresentado adicionalmente certa distinção entre três
tipos de discurso: o discurso de opinião, o discurso informativo e o discurso
de conhecimento e tenho dito que há dentro destes, também, distinções de grau
quanto à qualidade do conteúdo apresentado, sua forma e, ainda, quanto a sua relevância
para compreender a realidade, os pensamentos ou as idéias das pessoas que são
apresentadas em discursos diferenciados, sobre diversos assuntos. Compreendo
também que isso é importante – e introduzo exemplos de diversos tipos de fontes
de opinião, informação e conhecimento, por óbvio à nossa observação é preciso se
compreender que não se trata mais de um contexto em que temos exclusivamente os
discursos dos sofistas e dos filósofos, do populacho na ágora e dos sábios. Que
no mundo de hoje multiplicadas as mídias passados já 500 anos da invenção da
prensa de Gutenberg, da impressão de livros, jornais, revistas, folhetos,
panfletos, do rádio, da internet, televisão e cinema, telefone e celular há uma
multiplicidade de discursos que permitem que se exercite o discernimento tanto
de seu caráter como dos seus graus de aprofundamento, precisão e rigor.
E, por fim, me parece ainda importante
dizer que todos estes discursos alimentam nossas almas e que talvez seja melhor
pensarmos mais do que os gregos sobre nossas dietas e onde obtemos nossas instruções
e na qualidade das instruções que obtemos sobre as coisas. Assim, não podemos
perder de vista não por capricho as distinções clássicas, mas o cuidado com
aquilo que recebemos para alimentar nossa alma, respeitadas as distinções,
compreendidas as diferenças e percebendo-se que trata-se ai também de nossas
escolhas para a ação e para o pensamento.
“Para concluir vamos recordar uma idéia que já nos havia
legado Platão: Platão chama as ciências, que consistem nos logoi, nos
discursos, de alimento da alma, da mesma forma que a comida e a bebida são os
alimentos do corpo. “Por isso na sua aquisição, deveríamos ter o mesmo cuidado
para não sermos aliciados a comprar mercadorias ruins. Há muito mais perigo na
aquisição do saber do que na aquisição dos alimentos. Isto porque os alimentos
e a bebida que alguém compra de um comerciante podem ser depositados numa
vasilha em casa, antes de serem ingeridos e ali permanecem até que venha um especialista
capaz de aconselhar sobre o que se deve comer ou beber e o que não, sobre a
quantidade e o tempo de ingeri-los. Nessa aquisição o perigo não é tão grande.
O saber, porém, não pode ser separado e guardado numa vasilha especifica sendo inevitável que,
tendo pago o seu preço, ele seja imediatamente digerido pela própria alma, e
assim sejamos instruídos, seja para o mal, seja para o bem.”
(vide Protágoras 314ab) citado em
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método II: complementos e índices. Cito texto a página
43 do ensaio de 1953, Sobre a verdade nas
ciências do espírito. Tradução de Enio Paulo Giachini, Supervisão da Tradução
de Márcia Sá Cavalcante-Schuback. 6ª Edição.
Petrópolis: Editora Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São
Francisco, 2011.
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