Um dos meus planos desde o ano passado era estudar Grego
neste ano...e tenho milhares de motivos, intuições e desafios em mente ao
pensar e ao desejar isto...mas como pelo visto não vai rolar, pois surgiram
certos impedimentos a alguns integrantes de um grupo de grego em São
Leopoldo...vou me dedicar na solidão dos meus botões a estudar mais os
gregos...começando pelos Pré-Socráticos - sem prejuízo das aulas e mesmo com
alguns rebatimentos e parcerias com as demais disciplinas científicas sobre o
surgimento de certas interrogações e investigações naturais, geométricas e
teóricas...tanto para a física, quanto para a química, a matemática e a
biologia isso é um prato cheio...e em uma pequena lição sobre os filósofos
gregos antigos já deu para ver os olhos brilhando de alguns alunos que tem
predileção por estas matérias...
Mas tem mais, ainda um dia estudando Nietzsche por minha
própria conta e risco lá nos idos dos anos 80 - quando não havia no horizonte
nenhuma certeza sobre universidade, filosofia, professor ou sequer morar em
Porto Alegre me dei por conta de que Nietzsche é um grego tardio ou que - para
usar a forma que hoje designo esta relação: Nietzsche dialoga diretamente com
os gregos e com mais ninguém e faz isso usando a língua grega...e já ali
entendi que para compreender Nietzsche é preciso ler os gregos....ainda que eu
leia os gregos para compreender e avançar sobre muito mais do que Nietzsche
hoje....
Além disto, ainda que não vá estudar filologia grega, língua
grega ou mesmo comparar traduções e traçar novas etimologias teremos um
encontro com certos termos os conceitos que eles carregam em si e suas relações
semânticas e sintáticas originais...podes estranhar que eu use aqui a relação
sintática também para referir a conceitos e seus significados..trata-se do fato
de que certos conceitos e termos gregos trazem junto suas constelações próprias
de significação e que esta significação não foi fixada na história e é apenas
encontrada sem alterações ou evoluções de significado ao longo do tempo....ao
contrário cada conceito e termo grego tem uma história....
Confiando na intuição de Havelock sobre a revolução da
escrita grega e suas consequências culturais e a história da formação da língua
grega e a sua tarefa historiográfica, isto é, a necessidade de compreender a
dimensão antropológica e também histórica da língua, da literatura e da
filosofia nos períodos clássico e arcaico, penso que ei de lidar sim com
situações em que há o conceito, mas não há o termo e também onde há o termo mas
o conceito que originalmente era um passa a ser outro ou a ganhar outra nuance
e âmbito de aplicação..
Uma das coisas que mais me impressionou em minhas leituras
do ano passado tanto de Platão como de um texto de Heidegger sobre o Sofista em
que o avanço de Aristóteles para Platão se mostrou efetivamente muito mais
interessante do que pensamos antes e em que se fez a inversão, também, na ordem
de exposição e apresentação do Mito da Caverna de Platão e da Teoria do
Conhecimento Aristotélica aos alunos, o que veio por mostrar o quanto esta
evolução e o aprimoramento de Aristóteles produzia clarificação e simplificação
de algo que ainda pode ser tratado mais de novo e mais clarificado ainda em
outras direções... assim, ainda que Heidegger faça um juízo tão positivo do
trabalho de compreensão de Aristóteles sobre Platão - como se verá na citação a
seguir, precisamos mais uma vez rever o antecedente à luz do seus sucessor e de
seus outros antecessores (os Pré-Socráticos)...e tem sido uma aventura
maravilhosa e carregada de descobertas este exercício e estas
leituras..HEIDEGGER - O SOFISTA:
"Até aqui foi usual interpretar a filosofia platônica
de tal modo que se avançava de Sócrates e dos pré-socráticos até Platão.
Queremos tomar o caminho inverso, retornando de Aristóteles para Platão. Esse
caminho não é inaudito. Ele segue o antigo preceito da hermenêutica, de que se
deve partir da interpretação do claro para o obscuro. Pressupomos que
Aristóteles teria compreendido Platão. Assim como em geral se precisa dizer
quanto à questão da compreensão que os que vêm depois sempre compreendem melhor
os antecessores do que estes compreenderam a si mesmo. (...) O que Aristóteles
diz é aquilo que Platão lhe entrega em mãos, só que com cunhagem mais radical,
mais científica. Aristóteles deve nos preparar, portanto, para Platão (...)
(HEIDEGGER, 2012, p. 11).
ver: HEIDEGGER, Martin. Platão: O sofista. Trad. Marco
Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
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