FELIPE NETO NO RODA VIVA:
UM MENINO DE 32 ANOS ASSUMINDO
O MEIO CAMPO DO BRASIL COM
MUITA INTELIGÊNCIA E CLAREZA
Em política, em especial, em
política numa acepção democrática aprendemos a respeitar os adversários e a
compreender seus erros ou descaminhos, principalmente quando sabemos que
podemos errar também, sabemos que não somos infalíveis e quando sabemos também
que não se faz política sozinho. Quando uma personagem aparece no espaço
público com sabedoria, inteligência e senso de responsabilidade, todos nós
ficamos admirados e admiramos. Porque isso é um bom exemplo e isso é um ótimo
sinal: ainda há serenidade em meio a esse Pandemônio todo.
Assisti ontem, após uma overdose
de lives muito boas durante o dia e a noite, o menino Filipe Neto. A minha
impressão é que ele virou um cidadão pleno, honesto e muito bem posicionado. A
concepção de responsabilidade dele na sua atividade de influenciador ou de
emissor de mensagens para milhões de jovens é irretocável. O que me admirou
mais não foi a autocrítica dele, o reconhecimento dele do seu papel no Golpe e
no processo que levou certamente até Bolsonaro no poder, mas sim os
posicionamentos dele que são extremamente atuais e não tem nenhum traço de
omissão, covardia ou lanheza com o fascismo e o autoritarismo.
Ele obteve, com a dura
experiência, mas muito bem sucedida de youtuber ou influencer, uma certa
humildade no trato do tema Político que merece muito respeito de todos nós,
porque aponta para questões necessárias e essenciais sem parecer dissimulado e
sem parecer ser falso ou procurando agradar marinheiros ou náufragos com um
canto de sereia.
Eu gostei muito dessa entrevista.
Ela me lembrou muito a sabedoria de alguns jogadores de futebol que mesmo vindo
de famílias modestas ou humildes demonstram extrema inteligência e maturidade,
responsabilidade social e clareza histórica. E eu acredito que como ele muitos
outros jovens devem estar despertando para uma outra relação com a política e
com o Brasil. A percepção que eu tenho desses jovens é que eles são uma espécie
de órfãos de educação criados nessa transição e abismo que apareceu entre o
mundo real e o mundo virtual que muitos educadores e líderes não conseguiram
acompanhar e que chegou explodindo na forma dos protestos de 2013 como uma
revolta justa – não é só vinte centavos, que foi sequestrada e manipulada pela
direita e ultra direita. Eu olho para ele e avisto milhões de jovens ali
dizendo que não sabiam, que precisam aprender, que querem mudar e que querem
mudar o nosso país com muita coragem e não por vaidade, mas porque é
necessário. Se todos virarem antifascistas, o que requer muita água sob a
ponte, tanto melhor.
Ele também citou Amoedo e Ciro
Gomes, sem citar Lula ou o PT nesse quadro, como pessoas que ele monitora. Ora,
isso me parece que ele aponta sua perspectiva de observador do centro político.
Acho que ele falou ou expressou que está usando ambos como balizas. Mas ele de
fato se posiciona no centro do debate e isso é muito bom. No futebol, para
lembrar minha comparação anterior e esboçar um mapa do espectro político, ele
não é goleiro e nem zagueiro, não é ponta e nem centroavante, não é lateral.
Ele é um meio campo distribuidor e pode acabar virando goleador. É uma ótima
posição e uma posição necessária não para construir uma terceira via, mas para
ajudar a organizar o time e contribuir para o povo brasileiro com o apoio da
juventude comece a vencer, derrotar e dissolver o fascismo e o autoritarismo.
Acredito que até 2022, podem
mudar muito mais, apesar da paciência e da resistência que vamos ter que fazer
para isso. Por fim, a citação dele e o enfoque dele sobre a questão de não se
tolerar mais os intolerantes na democracia é absolutamente crucial. Se ele
entendeu isso passa imediatamente para o nível daqueles que não são pseudo
democratas e assume um dos maiores desafios da democracia que é se imunizar ao
fascismo e ao autoritarismo e impedir fascistas e autoritários de sequer
fazerem proselitismo ou propaganda na sociedade democrática.
Talvez muitos subestimem esse
menino, por seus erros do passado e por alguns sinais dele que precisam ser
melhor interpretados, mas a posição dele é excelente. Não poderia ser melhor. E
ele demonstra claramente que sabe exatamente do seu papel nesse processo. Eu
realmente fico muito feliz também porque ele se apresenta com um senso crítico
e auto crítico, com compreensão dos seus limites em relação ao conhecimento,
aos temas da autoridade e da Democracia que é inédito pela lucidez e a
precisão. Está extremamente bem posicionado no espectro ideológico.
Tem também uma noção bem clara de
limites. Para mim, tanto ao apontar contra a meritocracia, portanto, contra a
desigualdade, e contra a opressão, portanto, contra o fascismo e o
autoritarismo ele coloca a bola de futebol no centro do gramado. Parece um
capitão de um time que tomou um gol e foi lá no fundo da rede da goleira, pegou
a bola e trouxe para o meio para retomar o jogo.
Eu posso estar enganado e ele
pode errar, mas já acerta muito mais agora do que muitos outros antes dele.
Acho que ao apontar para o Amoedo e o Ciro Gomes ele faz um gesto muito claro
de que esses dois personagens se posicionam nas posições intermediárias, mas
que podem e devem ajudar mais. Como petista, sem rancores e com certa
experiência pedagógica e histórica que considero respeitável e razoável, acho
que não poderia ser melhor a indicação dele. Ele está correto, porque se
corrigir só na sugestão e no apontamento esses dois meias direita e esquerda,
será possível organizar o time para vencer o fascismo. O nosso papel à esquerda
desse espectro é ajustar o time da saga, passando pela lateral e a ponta
direita. Se fizermos isso dá jogo, dá composição e vamos virar juntos essa
página, reconstituindo um pacto democrático e progressista nesse país.
A única alternativa contra essa é
uma revolução, mas até onde eu sei, apesar de ter tanto desejo disso, não há um
partido revolucionário no Brasil. Nós todos, incluso PSOL, PCO, PCdoB, PT e
várias pontas de outros mais a esquerda de outros partidos somos todos
reformistas modernizadores. No quadro atual, um pacto honesto e democrático
entre todos, é a melhor saída.
Não sei se ele é possível, mas
não creio que devemos abdicar disso tanto para os diálogos políticos, quanto
para as disputas eleitorais e os governos. O desafio é construir a pauta para
acabar de vez com certas corporações militares e jurídicas que precisam ganhar
limites e ter as devidas tarefas constitucionais ajustadas, abolindo
privilégios e punindo abusos. Eu não vejo como fazer isso sem uma nova
Constituinte e uma reforma política profunda, bem como uma transformação
radical do estado brasileiro e dos estatutos legais de diversos poderes.
A Pandemia é uma tragédia, mas
pode ser a oportunidade para a gente começar a colocar a conta inteira na mesa,
no centro do debate, e também para criar dispositivos de política econômica que
limitem a interferência abusiva do poder econômico do mercado, dos especuladores
e dos rentistas na economia nacional.
O Brasil vive agora uma tragédia
política em meio a essa pandemia, essa tragédia foi construída e cevada com a
ajuda de muitos jogadores, mas mesmo assim tem tudo para dar certo, mas é
preciso fazer um pacto à quente com uma nova plataforma. E não vai ter ninguém
mais para poder dizer que é o dono da bola. Ou o pais joga inteiro como time ou
não haverá jogo e vamos perder todos de goleada, uma goleada trágica e mortal.
Ser dono da bola ou tentar o tempo todo forçar a mão para ser o dono da bola
pode ser chamado de hegemonismo também. E esse é sim um problema recorrente nas
disputas intestinas e pequenas de liderança no país.
E esse menino aponta claramente
para isso, ainda que com muita modéstia, mas se trata mesmo de chamar a
responsabilidade aqueles que pretendem liderar o nosso país. Dando um recado de
que ninguém vai liderar sozinho, nenhum time vence o jogo sem uma organização e
esquema tático - ou projeto comum. É muito razoável portanto usar a posição
dele como ponto de partida para derrotar o fascismo e reconstruir a Democracia
no Brasil. Virar essa página e dar dignidade, justiça social e uma boa vida
para todo o povo brasileiro.
RECOMENDO.
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