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sexta-feira, 27 de junho de 2014

ESPAÇO PARA A IMAGINAÇÃO - ENTRE REFLEXÃO E AÇÃO

Estamos chegando na primeira quadra do século XXI. Não desconheço o imaginário como instância singular de deliberação e produção do sentido. O caminho crítico de Kant me parece indicar isto também. E lembre-se que o caminho crítico que, segundo Kant, é o único que resta, ultrapassa, segundo ele também, as altas pretensões dogmáticas e os excessos céticos. O ceticismo na versão e confidência de Kant o "despertou do sono dogmático", mas não lhe é suficiente, é preciso ir além. E já havia afirmado que estávamos muito ocupados estabelecendo relações entre reflexão e ação, discurso e ação, mas que precisamos atentar para o surgimento da imaginação com um estatuto diferenciado e relevante no século XX. Sinto que Foucault percebia isto - entre outras indicações - quando tratava de "outros lugares ou outros espaços", lá onde a velha ciência não chega. Penso muito em cinema, música, teatro e muitas outras artes e linguagens e, também, na abundância literária do século XX. Nunca se leu tanto, nem se publicou tanto, em toda a história, o que não parece que virá a se reduzir com o impacto das tecnologias digitas no acesso a informação e conhecimento ou como espaço de disseminação de opinião e produção de novos conteúdos.

Mas encontrei outra indicação que me parece também interessante para minha discussão inicial sobre a invenção ou a recepção do "imaginário" no século XX eu deveria ter uma boa exposição teórica e narrativa desta invenção, mas vou ficar em pistas aqui somente. Some-se às abordagens também maravilhosas de Cornelius Castoriadis, esta de André Maulraux.

O MUSEU IMAGINÁRIO - ANDRÉ MALRAUX

Sinopse:"O papel do museu na nossa relação com as obras de arte é tão considerável que temos dificuldade em pensar que ele só existe entre nós há menos de dois séculos. Esquecemos que os museus impuseram ao espectador uma relação totalmente nova com a obra de arte. Até ao século XIX, todas as obras de arte eram a imagem de algo que existia ou não existia, antes de serem obras de arte. Só aos olhos do pintor a pintura era pintura; e, muitas vezes, era também poesia. A Ásia só recentemente conheceu a existência de museus, sob a influência e a direção dos europeus, porque, para o asiático contemplação artística e museu eram inconciliáveis; a fruição das obras de arte acima de tudo estava ligada ao isolamento. Há mais de um século que a nossa convivência com a arte não cessa de se intelectualizar. O museu impõe uma discussão de cada uma das representações do mundo nele reunidas, uma interrogação sobre o que, precisamente, as reúne. Afinal, o museu é um dos locais que nos proporcionam a mais elevada ideia do homem."

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