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domingo, 11 de dezembro de 2016

PENSANDO - 28 DE NOVEMBRO DE 2016

Na mais absurda ideia que já tive sobre a distância entre nossa vida interior e este mundo dos fatos que lhe corre em paralelo e que parece tentar nos absorver em seus acontecimentos importantes, terríveis e dramáticos.

Pensando na Separação deste Mundo.


Na mais absurda ideia que já tive sobre a distância entre nossa vida interior e este mundo dos fatos que lhe corre em paralelo e que parece tentar nos absorver em seus acontecimentos importantes, terríveis e dramáticos. Pensando no mundo interior que resiste e reside em cada um de nós que possui de reflexões, comentários e diálogos, coisas que ocorreram ou que poderiam ter ocorrido nesta caminhada da vida, as nossas criações reconfortantes e suas narrativas ficcionais, idéias imaginárias, memórias reencontradas, lembranças e retomadas de coisas pessoais, projetos e sua abissal distância do que ocorre no mundo à nossa volta e que parece tentar nos tomar todo nosso tempo de vida, como se a vida que vale fosse apenas esta ocupação com o mundo. Fica fácil compreender porque se escreve ficção, se criam personagens em carne e osso, porque alguns autores e autoras vivem isto tão intensamente e, assim, se observa com lupa e muito carinho pequenos detalhes da vida das pessoas que vistos de muito perto parecem não ter nenhum sentido nos termos que muitos gostam de dar para suas escolhas e decisões, mas que pelo surpreendente e até absurdo podem ser vistos como maravilhosos, excepcionais e determinantes atos de liberdade perante o mundo. No sentido que percebo aqui - talvez delirante e alienado do bem - em que estas coisas frente ao tal grande vale de lágrimas que é o mundo, frente aos absurdos e abusos bem visíveis de poderosos ou notórios tornam estas coisas comuns admiráveis. Gostar tanto de uma coisa ao ponto de dedicar parte razoável de sua vida àquilo parece fazer sentido mesmo para poucos. Mas eu compreendo isto sim. Dar tanta importância ao seu lugar no mundo e seu papel na sociedade ao ponto de lançar sua vida inteira e o que sobrar dela no grande redemoinho do mundo. Suportar e encarar bravamente esta realidade no qual esta usina de poder e sucesso que é o mundo para alguns reduz homens bem vestidos e belas mulheres em pedaços de gente, escombros de aviões em um cemitério no deserto - a imagem que eu vi ao olhar para os jornais estes dias - restos ou mortos vivos que ainda andam sobre a terra mas que estão há muito tempo condenados pela história que um dia será contada. Pessoas e aviões que não voam mais, mas que conquistaram um lugar só seu até que algum desmanche ou triturador resolve moer suas carcaças, quebrar seus vidros e transformar algumas poucas pecas em souvenirs. É possível ver sim o triste destino de tanto sucesso, poder, vaidade e imaginar o quão importante é um pequeno jardim, um belo retrato, uma pintura modesta, um móvel restaurado, uma boa mesa, um álbum de belas imagens e alguns sons e textos espalhados sobre a mesa nos lembrando que em momentos diferentes alguém fez algo mais belo, algo que será realmente eterno e admirado não porque é visto todos os dias, mas porque ao ser revisto, reencontrado ou escutado e lido pela primeira vez terá mais valor do que aquilo que fica tão presente aos nossos olhos, mas que parece não trazer mais significado algum. Dá para entender sim a fuga e a travessia de muitos para uma realidade interior e própria como a realização mais modesta mas mais importante de um domínio de si, de uma demarcação de um território ou lugar só seu neste mundo e que será reservado apenas para que se deixar entrar e que lhe compreender o sentido e a grandeza. Dá para compreender sim os poetas, os idealistas,o s loucos, os anti sociais, os as autistas ou puristas e aqueles todos que tratam de construir para si um espaço de isolamento que seja impenetrável só terrível drama e perturbador ciclo de acontecimentos incontroláveis e avassaladores deste mundo em que vivemos. Que todos consigam ter um pouco disto para si e que saibam cuidar desta parte que lhes cabe desta vida e que só eles podem ser, tecer, sentir e viver. Só um grande e generoso afeto explica tudo isto..

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