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sábado, 15 de agosto de 2015

STANFORD, AUSTER E O HOMEM COMUM AMERICANO




A situação descrita na breve história de fundação da Universidade de Stanford em que ocorre desprezo por parte da secretária do reitor e do reitor de Harvard, por um casal de senhor e senhora que pretendia homenagear o filho morto e que, por conta disto, acabam fundando a Universidade de Stanford é só mais uma entre tantas demonstrações e típicos textos culturais que fazem certa homenagem ou reverência ao homem comum, modesto e humilde na América. 

É também mais um caso de história que sofre certa transformação ficcional e fica mais bonita. Mas nesta histórica o que eu mais gosto não é sequer o tema da diferença entre a aparência modesta do casal e o juízo discriminatório da secretária e do reitor - justamente o elemento ficcional destacado e criado - mas sim o tema do homem comum, modesto e trabalhador cuja aparência é desprezada somente por sábios presunçosos, pessoas preconceituosas e  que não entendem com certa facilidade a importância e o respeito que devemos aos homens e às mulheres comuns, sem os quais a comida não chega em nossas mesas, casas não são construídas, o lixo não é recolhido, não há luz para o baile, nem transporte para as viagens, muito menos razão e sentido em se ter algum conhecimento, estudo ou qualquer distinção ou autoridade quando não compreendemos a sua importância. E isso é justamente uma das características que eu mais admiro em certa tradição cultural presente na américa do norte, em especial, em certas regiões dos EUA, onde qualquer um - do mais rico ao mais pobre - sabe que é do homem comum que deriva toda a riqueza, todo poder e toda sabedoria. Muitos elogiaram este elemento da américa de Alexis de Tocqueville à Hannah Arendt. 

E eu me rendo a isso, reconheço a grandeza disto naquele país, porque sei que este é justamente um dos elementos culturais que nos falta aqui no nosso pais. Um país que foi colonizado pela sub-elite européia, cuja arrogância com o povo comum, o desprezo permanente e a discriminação com as pessoas simples ou pobres, esconde e encobre apenas esta ferida de um narcisimo fragilizado pela subalternidade, subordinação e submissão persistente aos  Impérios Coloniais Europeus.Para mim é justamente disto que que se deriva tanto o complexo de vira-latas, quanto as fugas para Miami, a adoração à última moda em París, Londres ou Berlim e, também, é claro esta persistente e repetida presunção de que o povo brasileiro não merece respeito, consideração ou elogio em qualquer coisa que faça, procure fazer ou já tenha feito. Aqui, ao contrário do que a historinha conta ali um casal modesto sequer seria atendido pela secretária do reitor, pelo gabinete do prefeito e etc. Lá, e é isso que eu gosto de elogiar nesta grande tradição cultural deles, um cidadão qualquer é a base da liberdade de todos. 

Para terminar com um exemplo, estes dias comprei em um sebo um livro extraordinário organizado e introduzido por Paul Auster - Achei que meu pai fosse Deus e outras histórias verdadeiras da vida americana, pois nele constam histórias reais narradas por pessoas comuns de toda parte da américa e ao ler me deliciei com a quantidade de tramas originais e muito significativas para roteiros de cinema, canções ou mesmo cenas de teatro ou imagens a serem criadas, pintadas, em colorido ou preto e branco, desenhadas por cartunistas ou até virarem temas de cenas e todas as formas possíveis de criações que estendam, com mais ou menos ficção, seus enredos incríveis e muitas vezes surpreendentes de alguma forma para nós. 

E após ler fiquei pensando se isso seria possível ser feito no Brasil e como seria. A ideia que levou a isso é muito simples receber e ler por escrito histórias de pessoas comuns em um programa de rádio: pois ele recebeu em um ano 4000 histórias de uma, duas, três e até quatro páginas. Mas que apelo teria aqui no Brasil histórias contadas por pessoas comuns para uma parte da elite que é ensimesmada e para outra parte de nosso povo que parece desprezar sua própria condição?

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