Duas perguntas de um grande aluno:
1º: O que
te fez estudar Filosofia?
2º: O que te faz estudar outras coisas além de
Filosofia?
Dediquei já alguns textos a falar sobre isto que estão no meu
blog. O que me fez estudar filosofia foi uma experiência de vários encontros
com ela ao longo da minha vida. Que começa do meu primeiro encontro com ela aos
8 anos de idade através da descoberta em uma banca de revista do volume dos
pensadores dedicado a Sócrates e, também, através de um professor de história
que temporariamente lecionou na escola que eu frequentava e que possuía
formação em filosofia.
Ao ler Sócrates me impressionei com o pensamento dele e com o
episódio da sua morte ao ingerir cicuta em virtude de seu confronto com as
autoridades da época. E meu professor de história tracejou por algum tempo a
relação entre o pensamento humano e a história de uma forma que me impressionou
também. Após isso comecei a prestar atenção a tudo que fosse relacionado à
filosofia em jornais e também tive certo acesso a obras de filosofia de minha
tia e a outros livros em
casa. Ao iniciar minha militância estudantil ao final dos
anos 70 acabei estudando as teorias de Marx em cursos de formação política e de
forma autodidata acabei estudando muitas coisas de filosofia. Nesta formação
política vez por outra acabava entrando em debates de caráter mais filosófico
ou fundacionais ou conceituais do que propriamente políticos ou econômicos.
Cito um episódio clássico para mim que foi vivenciado nas leituras de O Capital
em que eu argumentava e questionava certas questões e o instrutor da época me
respondia que aquilo que eu perguntava era mais filosófico do que propriamente
econômico na teoria da mais valia. Dizia meu interlocutor que o buraco era mais
embaixo e que a o que eu perguntava era filosofia. Devo citar também a forte
impressão causada por Jean Paul Sartre no panorama do final dos anos 70 e
inicio dos anos 80 e suas idéias na minha formação militante. As leituras de
Leon Trotski e, também, de outros pensadores marxistas. Acabei lendo Michel
Foucault e também Nietzsche e, ao mesmo tempo, fui fortemente provocado pela
leitura bem precoce do texto de Kant sobre o Que é o esclarecimento? Em que o
homem deveria entender a necessidade de sair da sua menoridade e ousar saber e
pensar por si mesmo que me deixou convicto sobre a importância do pensamento
filosófico. Mas devo confessar também que tinha muita simpatia e interesse em
estudar medicina. Que era a atividade profissional que mais me atraia. Quando
conclui o ensino médio, entretanto, acabei me conformando em estudar filosofia,
mas também com algum entusiasmo em ser professor por conta daquilo que eu
visualizava também como uma atividade profissional muito digna e que de certa
forma também cuidava das pessoas. Vale comparar aqui a maiêutica socrática com
a minha visão hoje muito clara de que o educador ou o professor cuida sim das
pessoas, da saúde mental e física das pessoas ao educá-las. Assim o que me fez
estudar filosofia foi a forte impressão que as idéias filosóficas tiveram sobre
a minha forma de compreender o mundo, a vida, minha militância política e
também minha relação com as outras pessoas. Curiosamente não tive um professor
de filosofia durante toda a minha educação básica e tive contato pedagógico e
formal com esta disciplina somente na faculdade.
O QUE ME FEZ ESTUDAR OUTRAS COISAS? Bem de certa forma devo
dizer que as outras coisas vieram primeiro porque sempre fui muito curioso e
sempre gastei um bom tempo da minha infância tentando investigar sobre mais
coisas do que aquilo que me era ensinado em sala de aula. E devo admitir que
tive vários estímulos para isto. Minha relação com as atividades profissionais
dos meus pais, com meus irmãos, parentes e amigos. A oficina elétrica do meu pai e os diversos profissionais que lá
aturam que me ensinaram um pouco disto e um pouco daquilo estimulando e
tratando com muito carinho minha grande curiosidade que se manifestava de forma
precoce. Na loja de minha mãe na estação rodoviária o contato com diversas
pessoas, os diálogos, os assuntos cotidianos e a discussão das notícias e da
vida e também do conhecimento. Na época a Unisinos ficava sediada próxima a
rodoviária ser a freqüente entabular e trocar informações com professores e
professoras universitários, bem como, com acadêmicos. E também a troca de
informações com pessoas viajadas, pessoas do povo e pessoas que de passagem
queriam jogar alguma conversa fora. A leitura de muitos jornais e revistas.
Morar perto de uma casa de estudante e ter muitos vizinhos no edifico em que eu
residia que eram acadêmicos e, além disso, a interação política cotidiano com
eles. O acesso a muitos livros, revistas e informações em casa. A interação e a
convivência com gerações de jovens mais velhos que eu. A tutela intelectual
marcante da minha tia Clara – irmã da minha mãe que era ávida por conhecimento
e informação e poliglota - sobre as bases da minha formação cultural em geral. Então , em
resumo, sempre fui muito curioso e sempre gostei da experiência de descobertas
e investigações e de certa forma fui privilegiado ou fui capaz de me beneficiar
positivamente de um ambiente propicio a este desenvolvimento. Com vistas
freqüentes e cotidianas ao museu histórico a uma quadra de casa, à biblioteca
pública e também à Unisinos ou o Instituto Anchietano de Pesquisas cujos
corredores frequentava desde muito jovem por curiosidade e por ser meio metido
na minha área de alcance e acesso. E também tive uma plêiade de professores que
hoje considero maravilhosos durante meus anos de escola e formação porque
souberam, me impressionar e me deixar admirado com este ou aquele conhecimento
muitas vezes. Bem, tudo creio que responde a questão proposta.
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