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terça-feira, 18 de março de 2014

NÃO À COMEMORAÇÃO DO GOLPE DE 1964

Sobre a orientação aos militares para não comemorarem a Redentora de 31 de março de 1964, posso dizer que se eu fosse a presidente faria a mesma coisa e provavelmente pelas mesmas razões, que não tem nada de pessoal e que por mais que alguém queira atribuir estas razões como centradas na vida pregressa dela deveriam ser bem consideradas como razões de estado, e, razões de estado no sentido mais clássico e canônico possível.  
Nenhum general ou oficial militar suporta, tolera ou permite qualquer tipo de quebra de  hierarquia sob o seu comando.

E é isso para mim o principal motivo da orientação da presidenta: alinhar o comando e impedir o elogio àquela triste aventura.

Ditadura não é fazer isto ou impor esta orientação, ditadura é, no fundo, o risco que corremos se virar moda de novo quebrar a hierarquia ou se assanhar com isso, como alguns oficiais da reserva por irresponsabilidade e também por déficit de formação, estão a fazer ao promover, estimular e fomentar qualquer forma de sedição ou afronta a presidenta legitimamente eleita e no comando deste pais.

E foi justamente o que eles fizeram em 31 de março de 1964 contra João Goulart.
Estou falando como um brasileiro.

Isso aqui não é um chiqueiro, nem uma república de bananas e o respeito à constituição e a ordem civil deve ser defendido, inclusive, pelos militares

O comandante em chefe do exército, o comandante supremo do nosso exército é o presidente, cabe a ele deliberar sobre guerra, sobre paz e não a meia dúzia de militares ou ideólogos obscuros.

Dá para imaginar e perceber facilmente o quanto este tipo de conduta, elogio e atitude é uma ameaça à democracia do nosso país e às liberdades dos cidadãos e direitos dos homens e mulheres deste país. Quanto à deixar isso solto é perigoso para nós todos? Não é perigoso para a presidenta, mas para o próprio povo e é um elogio á violação das normas constitucionais que ocorreu em 1964 tentar comemorar aquele evento. Eu penso que isso é inadmissível e digo mais penso também que o fato dela orientar contra isto é um sinal de que estamos superando também esta política de amedrontamento e ameaças da caserna sobre a vida política brasileira. E é uma resposta que com caráter de orientação tem papel educativo inclusive e cabe somente a presidenta fazê-lo. E aguardaria, por exemplo, que os deputados federais e os senadores deste país subscrevessem esta atitude dela e mais que isso que o próprio Supremo Tribunal Federal endosse isto, posto que de fato é a rigor uma atitude de defesa máxima da ordem constitucional.  Eu prefiro a ordem das leis do que a ordem da força e isto é justamente o que está se impondo aqui. O respeito às leis e o fim do elogio irresponsável e inconseqüente às aventuras.

E é bem importante perguntar não o que isso significa para os militares, mas sim para o Brasil?

E penso que é recomendável que se leia a constituição: que todo poder emana do povo e que em seu nome deve ser exercido é o fundamento principal desta orientação. E a presidenta é autorizada pelo povo e exerce legitimamente este poder que deve ser acatado.

Com poder não se brinca e com autoridade também não e quem tem o poder e a sua autoridade emanada do povo é a presidenta, não meia dúzia ou uma centena de militares saudosos ou inspirados em elogio ao golpe constitucional.

E nos dias de hoje em que saem das sombras  cada vez mais crimes e cometidos pelos militares e pelos civis  que os apoiaram e cada vez menos admissível que tal elogio ou comemoração seja feita e realizada em afronta também às vítimas dos atos bárbaros e vis cometidos por eles. Hoje que sabemos cada vez mais coisa piores da ditadura, deve haver cada dia menos espaço para o elogio a isso.

O testemunho de Almino Afonso sobre os antecedentes "ideológicos" do Golpe Militar e sobre o pregresso conflito entre os EUA e os militares do Brasil em relação à posição de não-alinhamento de Jango é muito esclarecedor a este respeito. Sobre a atitude dos militares valeria um raciocínio adicional sobre porque e em que condições estão autorizados a suplantar os poderes constituídos. E não é muito difícil compreender isto, pois na minha opinião o problema não é só as razões, mas as conseqüências desta razões. E creio mesmo que sempre a finalidade deveria ser considerada a causa maior. E a finalidade da ação dos militares  no golpe não era neste caso a PAZ ou a Democracia, muito menos a questão de que o governo Jango era comunista. Isso me leva a crer que faltou juízo e discernimento aos mesmos. Mas enfim não seria a primeira vez na história que um governo e tratado como inimigo, porque não quer a guerra. Mas é e foi uma entre tantas vezes que um pais e jogado na polarização da guerra fria justamente por discordar dela. E a forma como isso foi feito, promovido é vergonhosa. Jango viu este seu governo constitucional, eleito democraticamente ser derrubado em uma conspiração com origem externa e simpatia ideológica e materialmente interessada internamente. E isto por si só bastaria para justificar que a atual comandante em chefe da forças armadas ORIENTE A NÃO COMEMORAÇÃO DO GOLPE.
Porque bem claramente dito: ocorreu um crime de LESA PÁTRIA...

A seguir uso aqui de novo o recorte de Renato Janine Ribeiro da entrevista de Almino Afonso, no Valor, evocando o golpe, para concluir:


"- A política externa não agradava aos americanos. O Brasil reatou relações com a União Soviética, foi contra a expulsão de Cuba da OEA. Na crise dos mísseis, Kennedy mandou uma carta que era verdadeira convocação para o Brasil acompanhar os Estados Unidos num ataque a Cuba. Lembro a data: 22 de outubro de 1962. Jango reuniu, no Palácio, Francisco Clementino de San Tiago Dantas, chanceler; Evandro Lins e Silva, procurador-geral da República; Antônio Balbino, ex-consultor geral da República; general Albino Silva, então chefe da Casa Militar, e este jovem. Jango mostra a carta e já traz sua opinião, com anotações à mão, uns garranchos. A opinião dele era o respeito ao princípio de não intervenção. San Tiago escreveu o texto da recusa. Em Genebra, numa conferência sobre desarmamento, o Brasil anuncia que é não alinhado, não se subordina a nenhum bloco militar. Tudo isso contrariava a estratégia dos Estados Unidos, que tinham a América Latina como território seu. Daí o apoio aos golpes em todo o continente. No caso do Brasil, está provado, tropas americanas desembarcariam em Pernambuco se houvesse resistência. Jango já sabia disso, avisado pelo ex-chanceler Afonso Arinos. Não precisaram intervir, pois o financiamento a entidades como Ibad e Ipes, a campanha massiva anti-Jango na imprensa, acabaram por convencer os militares de que o governo ia comunizar o país." 

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