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sábado, 14 de setembro de 2019

SENTIMENTOS E EMOÇÕES, COGNIÇÃO E REFLEXÃO: 5 ANOS APÓS O PRIMEIRO ESBOÇO (2014-2019)


SENTIMENTOS E EMOÇÕES, COGNIÇÃO E REFLEXÃO: 5 ANOS APÓS O PRIMEIRO ESBOÇO (2014-2019)

Quando eu disse que você teve uma experiência cognitiva e não somente sentimental ou afetiva, tentei dar ênfase ao fato de que o que ocorreu contigo não era somente uma situação emocional, afetiva ou sensível. E eu queria dizer simplesmente que você não é somente sentimental, porque teve sentimentos intensos com essa experiência. Você não se resume a alguém ou um ser, ou mesmo um ponto no universo que só possui sentimentos.

Esta visão de que certas coisas são somente da ordem dos sentimentos ou das paixões, ou mesmo essa segmentação entre entendimento e sensibilidade, sendo o entendimento uma faculdade  ativa e racional e a sensibilidade uma faculdade passiva exposta às fragilidades das paixões, emoções, dores e amores, é enganadora e ela não vai te ajudar a superar, compreender ou aceitar a provocação que esta experiência ou vivência te apresenta.

A sensação de confusão que acompanha este tipo de experiência tal como um delírio, um gozo ou uma catarse, pode apenas esconder a dimensão cognitiva dessa experiência. 

Tendo a pensar sempre que as provocações geradas por uma emoção extrema e intensa, são úteis porque nos tiram da estabilidade aparente do mundo, dessa forma de normalidade que encobre o quão intensas são as nossas experiencias também por cognição e nos impõem a formulação de respostas ou a criação de soluções aos seus desafios. Esses desafios são de compreensão e também de ação ou reação a essas experiências e vivências. Nós nos sentimos desafiados por essas emoções a tentar retomar o controle do navio da nossa existência e a voltar a ser uma espécie de capitão de nossa alma.

Eu diria que você deveria romper com esta narrativa lamuriosa e trágica, que é uma das maiores tendências vividas por quem passa por uma experiência de excesso ou de intensidade emocional. Romper com esse circuito polarizado de emoções fortes, sejam elas boas ou ruins e começar a refletir sobre o que é mostrado nessa experiência, não mais em termos de um código em que o sentido exclusivo é dor, prazer ou desprazer, sofrimento, decepção e amargura. Ou seja, pensar na dinâmica exposta entre agente e paciente, na troca de papéis ou mesmo na disputa por manter um certo papel nessa dinâmica. Olhe para as imposições e resistências e procure perceber suas representações e suas formas de cristalização dos papéis.

Veja bem, não se trata aqui de tirar de ti a tua sensibilidade, tirar de ti o teu afeto e amor, mas de dar curso a ela para a tua reflexão, verificar o teu papel e a forma da tua ação nessa dinâmica e tomar a experiência em termos cognitivos. Isso não te torna insensível, vai apenas dar mais inteligibilidade – a inteligibilidade possível agora e que poderá ser aperfeiçoada adiante a algo que te ocorreu. Creio que essa forma de tratar te torna mais livre e te desprende dos papéis e das formas que essas dinâmicas tentam consolidar ou cristalizar nessa experiência e em outras em que a relação com o outro se conforma.

Então, tomar esta experiência como inteligível, observar nela a sua dinâmica, os papéis e formas de relação, pode ajudar muito na sua compreensão e superação, quando for necessário ou no aumento do gozo e do prazer quando for possível e desejável, mas isso não significa que você não seja sensível. Isso significa que você aprendeu a se diferenciar de teus sentimentos poderosos, se distanciar um pouco das fortes emoções, que às vezes te são impostas por outros e a se defender delas dentro de si mesmo e com um comportamento externo condizente com isso.

Sei que você teme e outras pessoas temem ser derrotadas nesta inversão de perspectiva, pois pareceria que ao dar racionalidade à experiência, você teria sido convertido a aceitar ela como significativa ou a aceitar e tolerar a experiência e a vivência que ela pode trazer. Porém, pense mais sobre esta pergunta: mas porque então este temor? E veja que a resposta é que só a experiência e só a coragem de arriscar podem fazer isso contigo.

Elas te jogam contra as paredes do salão da ilusão e assim vais ultrapassar os limites do teu tempo e daquilo que te resume agora. Amanhã ou depois, mesmo que você entenda tudo, pode acreditar será surpreendente, porém, porque jamais haverá alguma confirmação disto tudo. Vais esquecer na parede da memória esta experiência até que um dia toda esta carga emocional seja ou fique resumida a uma única palavra e todo este sentimento que tens esteja dissolvido e afastado de teu corpo.

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