Este meu artigo me é muito caro e
agradeço muito a consideração de todos que o lerem. Falo nele de algo que me
preocupa muito. Suponho também que ele deva estar ligado ao modo como nós vamos
tratar os governos e os programas educacionais daqui por diante a partir de uma
defesa da participação e da democracia na educação e na gestão da educação
pública brasileira. E isso toca também a discussão sobre as novas bases
curriculares. Creio que esta discussão tinha que ir e chegar nas bases
educacionais e que nós e o MEC devam fazer um esforço para que isso ocorra.
Deveria ser prioridade isto. Com o suspensão do Pacto me parece que este
projeto fica prejudicado e, ao mesmo tempo, com o período que se abre agora em
dezembro a verdade é que para a grande maioria dos educadores que lutaram durante
o ano inteiro em defesa de seus direitos e salários, contra corte de recursos e
dissolução de diversos programas com greves, paralisações e manifestações é
muito difícil participar. Este ano é um ano atípico e só não percebe isto quem
não está em sala de aula, na escola ou na vida escolar cotidiana e com muita
dedicação.
O tema essencial aqui é
participação dos educadores nas políticas educacionais. Para mim é central o
tema da democracia na educação. Pertenço a uma geração de educadores, lideres
estudantis e militantes sociais para os quais a democracia, a avaliação e
reflexão no coletivo, o debate coletivo e o encaminhamento coletivo das
questões e lutas é essencial é inextrincável de uma propostas política e
educacional. E este era para mim nosso principal trunfo militante, além das
propostas. Diz respeito ao método de construção. Envolve o engajamento,
mobilização e, portanto, a compreensão de todos ou da grande maioria.
Temos que resgatar isto sob pena
de levar ao fracasso ou obter resultados ruins e insuficientes na educação.
Isso é algo que alguns gestores públicos e alguns tecnicistas sacrificaram em
diversas gestões nos últimos períodos. Em 20 anos foi realizado um processo de
corrosão prática deste princípio, por um viés autoritário e individualista
tanto na esquerda quanto na direita. De um Darci Ribeiro que violenta a
proposta da sociedade civil e dos educadores organizados na LDB com seu
substitutivo até outros caos vivemos uma dissolução da fé no coletivo e o
soerguimento de personalidades. Curiosamente no mesmo período os sindicatos de
trabalhadores lutaram contra o neoliberalismo e suas múltiplas versões no
Brasil.
Temos que pensar nisto justamente
porque foi isso que nos ajudou a defender a implantação da gestão democrática e
da construção da democracia , juntamente com os demais movimentos sociais, nos
duros anos da ditadura
E a questão é tão essencial e
evidente para mim e alguns companheiros e velhos camaradas e muitos jovens, que
eu não entendo mesmo como alguns elementos da esquerda abriram mão disto para
satisfazer um conceito temporal, imediatista e pragmático em políticas
públicas. Implantaram programas em regime de urgência violentando os
educadores, gerando resistências desnecessárias e, ao mesmo tempo, com isto
acabaram queimando e prejudicando propostas importantes em sua implantação e
também impediram os educadores de adaptar estas propostas ás suas realidades.
Houve, portanto, neste período uma negação da dialética e da democracia e eu
penso que devemos resgatá-la no chão da escola com os educadores e – como os
alunos parecem estar se engajando também – com os alunos de modo a aproximar a
escola real de nossos planos e de nossos objetivos.
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