Veja que é sempre bom lembrar que
a economia é uma ciência que lida com indeterminação e não é uma ciência exata.
Suas variáveis e seus fatores funcionam como doenças de incertezas e são em
muitos casos imprevisíveis. É bom lembrar que não há receita pronta ou certa
para cada quadro econômico que vive uma dinâmica suscetível tanto psicológica
quanto sazonal, com influências externas e internas, políticas ou culturais do
domínio do imponderável. Eu creio que o principal desafio no Brasil é construir
uma política econômica com um discurso político de perspectiva afirmativa que
gere confiança e expectativas positivas para retomar o crescimento...e é só com
este desafio satisfeito que vamos conseguir debelar a inflação que se aproxima
e o novo ciclo de desemprego que tenta se instalar. Vide a entrevista de Delfim
Netto com Luis Nassif.
Na sexta feira amanheci lendo a
Zero Hora com certo júbilo e percebendo com nitidez o tamanho da freada de
arrumação no processo político e, portanto, também no panorama econômico nacional. De um lado, o STF deu um
banho de estabilidade não ao governo mas ao estado brasileiro e a PF deram junto
disto deu um basta na baderna política promovida pelo Cunha. De outro lado,
este basta ajuda a retomar a pauta e a centralidade da agenda econômica que é o
que subsiste como desafio real para este governo qualquer ou outro governo e em
todas as esferas e dimensões de nossa sociedade. Não posso discutir aqui as causas
da crise econômica mas me convenço que sendo elas externas – pela crise mundial
– ou internas pela forma como o governo Dilma fez a gestão da economia
brasileira, elas foram certamente agravadas pela disputa política, pelo
vale-tudo político cujas caixas de ressonância são determinadas por interesses econômicos
frustrados com o sistema de partilha da riqueza
nacional do período Lula-Dilma.
Se Levy era um efetivo avalista
das bancas de risco posto na gestão da economia para aumentar a credibilidade
internacional e afastar do debate nacional a divida pública, temos que pensar
que este movimento muito caro de insatisfação da base eleitoral de Dilma acabou por colocar este
negócio fora. O plano de satisfazer os obséquios da banca e receber
reciprocidade dela foi para as cucuias. E isso não por falta de iniciativa de
Levy ou por traição i9nterna ao governo. E eis que então podemos de fato
apostar em um plano mais arrojado e ofensivo de política econômica. Neste
quadro, misturando o componente econômico com o político apareceu Ciro Gomes,
que deu expressão a esperança de muitos e é interessante que isso ocorreu, ao
mesmo tempo, como resposta ao assanhamento de Temer que resolveu se apresentar como alternativa. De fato, pode sim ser uma
boa solução uma guinada a esquerda e a gente começa a configurar uma nova ponte
para o desenvolvimentismo na agenda nacional, apesar da crise externa e também –
de novo – por causa dela.
A ponte para o desenvolvimentismo
envolve a adoção de novos dispositivos para recuperar a economia e também para
estabilizar o crédito e responder de forma mais assertiva para a sociedade.
Creio que a presidenta não só ganhou fôlego, mas vai para o ataque na política
econômica. Isso é bom porque muda o tom de insegurança por uma pauta
afirmativa. O papo jornalístico sendo derramado agora chega a ser cômico. Falam
em estrago e insegurança intencionalmente para barrar ainda mais alguma saída.
Mas o que de fato ocorre é que o governo voltará a dirigir a economia e não
fixara mais refém de uma taxa de lucros e de rentistas que só ganha na
especulação. Eu creio que haverão surpresas sim. Devem haver medidas mais
ofensivas sim porque o Brasil não pode parar e não pode ficar refém de que não
lhe dá sustentabilidade.
Eu sou muito positivo em minhas
avaliações. Por generosidade e por um grande desejo de compreender e
interpretar o todo. Neste sentido não consigo mesmo ter uma avaliação negativa
e nem fazer um balanço tão negativo da culpa do governo Dilma. E esta hipótese
se confirma quando sabemos que mesmo governos que seguiram o receituário
ortodoxo se lascaram com a crise. E isso
não significa que não tenha arsenal crítico. Mas do meu ponto de vista, a
partir das informações que disponho sobre a economia brasileira tenho muita
convicção de que o desenvolvimentismo e as políticas anti-cíclicas são muito
boas em seus resultados. Na minha opinião, elas geraram um cinturão de proteção social que não se dissolve com o
ajuste fiscal, porque atenderam estratos sociais que nunca tiveram a
oportunidade de poupar, a adquirir bens e avançar nos mercados de trabalho e em
suas formações técnicas e educacionais, Neste sentido mesmo que tenham gerado
deficit fiscal acabaram contribuindo para certo lastro na dimensão do social. Em
resumo, é só a banca e a ciranda especulativa que jogam contra e somente
aqueles que não souberam aproveitar os últimos 14 anos de boom econômico, e
isto equivale a certos extratos apenas da nova classe média. Tenho observado
muitas pessoas desta classe média emergente com altíssimo índice de informação política
e realismo econômico.
O quadro muda ligeiramente para a
esquerda também em função do deslocamento de torcidas no estádio. A FIESP e as
agências de risco derrubaram Levy e todo mundo fica fazendo de conta que foi o
PT. Nelson Barbosa tem o desafio de dar resposta ao quadro econômico em dois
meses...e gerar estabilidade, credibilidade e expectativas positivas não
somente para o mercado, mas para o povo e com compromissos políticos efetivos.
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