"mais tarde, com efeito, ao saber
que o sol está distante mais de 600 vezes o diâmetro terrestre, nós não
deixaremos de imaginar que ele está perto de nós; pois imaginamos o sol tão
próximo porque ignoramos sua verdadeira distância, mas porque uma afecção de
nosso Corpo envolve a essência do sol, enquanto o próprio corpo é afetado por
este astro"
SPINOZA - ETICA
Andei pensando muito no que eu sinto, no que eu vejo e no que eu penso como sempre sendo um reflexo menor do que o provoca. Não importando quantas palavras ou quanto engenho eu dedique a descrever o que sinto, vejo ou penso.
Acabei lembrando meu querido professor de filosofia, Paulo Faria que relatava
em aula um texto de um físico – Henry Cavendish - sobre o que acontecia na sua
frente naquele instante em uma mesa sob seus olhos, sobre a composição da
matéria, a energia da matéria e a estrutura do átomo, sobre o fato da nossa
mesa à nossa frente e sob nossos olhos ser composta de milhões de átomos e
ainda mais longe, que estes átomos estão
me movimento e vivos, e que se não percebemos isso é somente porque nosso aparelho
perceptual que se compõem de visão e os demais sentidos não foi cunhado e
forjado na síntese natural para perceber tais coisas.
É um exemplo claro de que nem
tudo que é visto e que nossos sentidos refletem para o nosso pensamento é
abarcado como informação ao nosso pensamento. E também de que devemos pensar
nisso que está além dos nossos sentidos não apenas como uma coisa em si
inatingível, intangível e intocável, mas também como algo cujas nossas antenas,
muletas e ferramentas intelectuais, sejam, estes conceitos ou equipamentos
sofisticados nos ajudam a alcançar, descobrir e perceber.
Quando você olhar para a lua
cheia, lembre-se, então, que esta luz é um reflexo, um reflexo diminuído do
sol. E lembre-se também que mesmo o sol que vemos é diminuído ao nosso olhar
perante o imensidão do sol real segundo nossa própria perspectiva pode vir a
adquirir quando se avança no seu conhecimento físico.
Impression - Soleil Levant, 1872, por Claude Monet
Assim, ocorre quase como no nosso
pensamento, cuja expressão é diminuída e cuja fonte é algo sempre maior do que
podemos ver. Penso que esta é uma tese interessante com amplas aplicações em
filosofia, estética, filosofia da ciência e também ética e metafísica. Faço
associações imediatas aqui com Goethe e Rousseau, com Walter Benjamin e o
segundo Wittgenstein, cuja percepção instantânea disso parece ser sentida em
uma certa fenomenologia situacional do que o Heliotropismo dos Girassóis é
apenas um efeito, do que as afinidades eletivas é apenas um efeito e poderia deslindar
aqui por diversas cartas e coringas apresentados por estes autores para voltar
ao sentido raso do que poderia chamar de limite ou senso de que há algo além. Não vou
citar mais ninguém aqui para evitar este hábito de eruditismo que creio ser desnecessário,
me calando então sobre as demais idéias e influencias e sossegando a prosa ao
seu objeto.
O próprio Sol é mais do que vemos
e menos do que os outros sóis de outras galáxias. Não é considerado um sol
gigantesco, porém, o percebemos menor do que é, muito menor é seu reflexo e sua
força que para nós se mostra apenas por experimentos. Como aquele experimento
de queimar uma folha de papel com a luz do sol sob uma lupa ou lente de aumento
que parece restaurar a força desta luz e o calor da luz que o sol produz e que
é diminuída por nossa atmosfera e pela distância cuja variável é constante e mantém
um arco médio e que nosso planeta guarda
do sol.
As palavras são menores que os
sentimentos que as provocam e também da mesma forma talvez pudessem, ser restauradas em
seu fulgor e força e sua conexão com estes sentimentos por alguma lupa ou pela ruptura da redução ou diminuição que
as aprisiona e me parece que é justamente isto que os poetas fazem tão bem.
Eles possuem as lentes que fazem nossos sentimentos se encontrarem e que ajudam
a expressar estes sentimentos com mais força.
E no amor o que sentimos sempre é
um pedaço menor e refletido do que realmente nos toca ao fundo da alma como
dizem os poetas. E nossa admiração silenciosa de alguma coisa, nossa intrigante
interrogação sem resposta sobre alguma coisa sempre nos defronta com o mesmo sentimento
de que há algo maior ao fundo ou como base do que o mero reflexo nos traz aos
nossos sentidos. Parte, creio eu, sinceramente, do grande mistério da natureza
está em ver aquilo que outros não viram, explicar aquilo que outros não
compreenderam e considerar de outra forma aquilo que é visto apenas como banal
pelos reles mortais como eu.
Quando você olhar para o seu amor,
lembre-se, então, que este amor que sentes é apenas um reflexo, um reflexo diminuído
do seu objeto. E lembre-se também que mesmo o objeto deste amor que vemos é
diminuído ao nosso olhar perante a imensidão dele próprio, perante a sua singularidade
que inclui aquilo que não percebemos segundo nossa própria perspectiva e aquilo
que colocamos nela ao olhar e ao sentir.
Eu disse, em minha primeira
anotação sobre isto, que o sentido disto; de que há algo maior no sol que
vemos, no amor que sentimos, na visão que temos das coisas nos basta. Mas devo
reconsiderar estas palavras, pois se isso nos basta ou não, é a pergunta que
fazemos quando não entendemos, simplesmente, que todo nosso reflexo, pensamento
ou sentido, visão ou amor é sempre muito menor que sua causa, e ainda mais mesmo
quando a causa não se limita ao objeto, mas tem parte em nós e no que nós
apenas intuímos por fantasia, imaginação ou paixão.
E isso, enfim, desafia nossa
razão ambiciosa e nosso modesto entendimento a pensar que muito maior que a
intriga, que maior que o enredo, será sempre a mente que o concebeu e que lhe
deu escolhas, assim como a mente que ousa compreendê-lo e que em parte o compreende
ganha ai também alguma grandeza.
{este texto parece conter somente
idéias filosóficas misturadas com palavras delirantes, mas se enganam e muito, aqueles
que acreditam que não há nada de pessoal, político ou histórico nele – tão grande
quanto nosso engano sobre o sol, pode ser nosso engano sobre o mundo, sobre o
nosso país, sobre as pessoas e sobre aquele modesto jardineiro que em seu jardim
cultiva flores que desconhecemos, não entendemos ou sequer percebemos em sua
singularidade.}
TEXTO ORIGINAL QUE ME PROVOCOU: “Quando
você olhar para a lua cheia, lembre-se que esta luz é um reflexo, quase como o
nosso pensamento, cuja fonte é algo sempre maior do que podemos ver. O próprio
Sol é mais do que vemos e menos do que outros sóis, mas nos basta.”
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