Uma vez participei de um diálogo
de café com José Arthur Gianotti, Balthazar Barbosa e Ernildo Stein. Isso antes
do PSDB ter a presidência e o PT também. Naquela época Nelson Jobim era um
deputado federal que participava de debates sobre ética na política assim como
muitos outros deputados nossos. Um pouco depois veio o Fora Collor contra a
maioria das lideranças partidárias de então. Nos idos de 1991. Eu disse
claramente que via o estado brasileiro como um maquiz em que os bandidos se
escondiam para assaltar o povo. Uma moita por assim dizer para pegar os
transeuntes de surpresa. E naquela época a minha questão não era privatização,
mas sim saber o que havia sido feito pelos militares e pelos primeiros governos
civis no Brasil o que incluia Sarney e Collor. Não tenho dúvida de que eles
tinham expertise e muitos deles ainda tem expertise em como fazer isso e essa
expertise só tem se especializado. Assim, o teu texto é perfeito Juliana, só adicionaria que provavelmente
muitos outros falharam - alguns com culpa e outros não - e vão falhar ainda, antes deles e em diversas
outras estatais do país e de estados que foram largamente surrupiadas,
corrompidas e lesadas e que foram a base
material de algumas fortunas que andam por ai posando de honestas e de grande
envergadura moral. Eu aprendi isso com meu pai que era somente um eletricista,
mas que sempre olhava de esgelho para certas fortunas e certos poderosos da
política e de empresas, ainda que prestasse algum serviço para eles. Assim,
como muita gente trabalha de doméstica, faxineira, porteiro, garçom, jardineiro
e diversas outras atividades para essa gente que se enrica quando assume o poder
ou quando o frequenta, quando tem um curso superior que lhe granjeia acesso a
este tipo de coisas, falcatruas e outras expertises que permitem sonegar,
surrupiar, descontar e colher mais do que seu trabalho remunera, só por ter
status e posição na estrutura econômica de uma empresa, instituição ou do
estado brasileiro. Tão comum quanto a auto concessão de benefícios e
privilégios, regalias e favores que vemos no judiciário e em outros poderes. A
elite brasileira adora tangir o relógio para os outros trabalharem, bater o
ponto e cobrar sempre mais caro pelos seus serviços. De uma forma ou de outra,
sempre penso que o Brasil precisa muito ser passado à limpo.
E a elite que é a fração mais raivosa dessa terra, bem que poderia
respeitar mais o nosso povo, os trabalhadores e aqueles que nunca tiveram vida
fácil, nem benesses, heranças e brocardos nem dos seus avôs, nem pais e nem
irmãos. Voltamos, então, a ter mais
motivos para ler Raimundo Faoro....
ABAIXO TEXTO DE JULIANA TIGRE:
"O brasileiro comum, que tem
pouco contato com grandes organizações e pouco entende do universo dos negócios
e negociações que movimentam quantias milionárias ou bilionárias, não entende
que o grande rombo operado na Petrobras não é um caso de tirar doce de uma
criança. A Petrobras é uma empresa estatal, de economia mista, que possui
acionistas minoritários, muitos deles do Brasil e de outros países. Ainda que
se tratando de uma quantia gigantesca, se o caso fosse tão simples como a mídia
usualmente divulga e como a maioria das pessoas, infelizmente, acreditar ser,
como os próprios acionistas, que passaram anos sendo lesados, não perceberam
que algo estava muito errado? E isso, porque são os acionistas, os que ganham
ou perdem com qualquer acerto ou erro cometido por aqueles que administram, bem
ou mal, a Petrobras. Não perceberam porque não tinham condições para isso.
Porque roubar milhões ou bilhões não é como tirar 10 centavos de um 1 real. Os
esquemas de roubo feitos nas Petrobras são extremamente articulados, envolvendo
toda sorte de gente (políticos de diferentes partidos e não políticos), de
nomes ligados a empresas privadas (oras, não diziam que empresas privadas eram
menos propensas a corrupção? Ao menos 28 réus no Lava Jato têm ligação com as
principais empreiteiras do país, e dentre as quais destaco empresas privadas
dos grupos Camargo Corrêa e OAS), e até mesmo de bancos (destaco aqui o caso do
HSBC, que mais recentemente entrou nas investigações da Petrobras, por seu
suposto envolvimento em camuflar a origem do dinheiro sujo). Por outro lado,
também não creio que presidentes de República estejam aptos a entender de
contas e funcionamento de uma empresa como a Petrobras. O que os presidentes
podem fazer é exigir que competentes verifiquem e investiguem o que se passa na
Petrobras, não somente para descobrir possíveis casos de corrupção já
existentes, mas para evitar que novos casos aconteçam. A vigilância precisa ser
constante. Nisso falharam FHC, Lula e Dilma."
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