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quinta-feira, 3 de abril de 2014

GESTÃO DE LEIGOS NA EDUCAÇÃO DE SÃO LEOPOLDO: QUALIDADE E GESTÃO ZERO

Tomei conhecimento ontem pela manhã que a atual administração municipal de São Leopoldo por decisão do seu prefeito, no seu 16º mês de mandato, persiste em colocar à cabeça da gestão municipal de educação mais um leigo. Considero isto um erro e vou adiantar aqui alguns dos meus porquês.

Já havia sido desta jaez a decisão anterior, quando em dezembro de 2012, às vésperas da posse: Daniel Daudt Schafer, vice-prefeito e ex-vereador do PMDB por dois mandatos, foi anunciado que assumia a Secretaria Municipal de Educação.  Se não me engano é a primeira vez na história da cidade que um leigo assume tal cargo e isto ao meu ver é uma proeza bem negativa.

Na época isso ocorreu sem objeção pública alguma, nem do sindicato dos professores municipais, nem da imprensa local e muito menos das pessoas que alardeiam por ai defender uma educação de qualidade. Entendo, por óbvio, contra qualquer outra forma insensata de pensar,  que para haver educação de qualidade é preciso gestão de qualidade.
Assim, sem causar qualquer revolta ou sequer burburinho entre os educadores municipais, salvo um ou outro, que assentiu à minha objeção ou balbuciou a sua própria sem muito alarde – e minha esposa que tem já 30 anos de magistério municipal havia me dito que isto era um absurdo - poucos concordaram com a objeção ou deram seguimento a qualquer forma de protesto contrário.

Afirmei à época a respeito e depois em outras circunstancias também – para não deixar passar sem registro de ninguém – que isto era um equívoco e, ao mesmo tempo, um erro que agora se repete de novo com a indicação de outro leigo por arranjo político e por certa provável necessidade de construção de um prestígio artificial de um quadro do PMDB. E assim a educação segue sendo desrespeitada em sua especificidade e gestão.

Eu dizia na época que colocar a pasta da educação nas mãos de um secretário que - apesar de ser um bom jovem - sequer tem nível superior, numa cidade como a nossa, com a história da nossa, era um erro e uma barbaridade.

São Leopoldo possui muita tradição em educação e é pioneira em educação na região sul, tem, além disto, uma das maiores universidades privadas do Brasil e deve certamente concentrar em seu território o maior número de educadores per capita ou por cidadão da RMPA e do Estado. E tudo que digo aqui sobre isto pode ser devidamente apurado e verificado histórica e informativamente.

Então não falta tradição, não falta professor ou professora, seja na rede municipal, estadual, privada superior ou técnica e, além disso, pelo meu modesto, mas não desinformado conhecimento não faltam professores qualificados para tal tarefa.  Assim, São Leopoldo não é uma cidade provinciana, nem interiorana que não possui educadores habilitados para tal tarefa o que poderia, no limite, justificar esta opção absurda. Ao meu ver lamentavelmente  tal escolha ou opção e tal ousadia demonstra despreparo e muita tibieza.  Mas persistiram então e vão prosseguir persistindo neste erro e só espero que o povo tenha conhecimento disto e julgue por si mesmo.

 Assim a minha questão continua sendo esta: Que tal deixar a gestão da educação com professores e professoras? É um disparate isso colocar a gestão da educação nas mãos de um leigo...e é também uma vergonha para São Leopoldo o que estão fazendo. Porque, o resumo da ação deles é que a gestão da educação vira boquinha política para o PMDB e PSDB e com a maior cara de pau, sem nenhuma justificativa plausível ou racional. Isso é uma afronta aos cidadãos, mas também aos educadores.

Para mim – e imagino que para outros cidadãos e educadores também - é muito importante que os gestores da educação tenham a lida da educação e que mesmo que tenham outros auxiliares, na gestão da educação deveria se avançar para uma maior profissionalização e passar a escapar destes arranjos de conveniência que são sintomas de uma derrota política e programática dos educadores e dos que tem compromisso com a educação. Para fazer getsão na educação creio que o principal pressuposto e o que importa é avançar nos estudos e em adquirir formação específica no mínimo de administração ou outras carreiras superiores. A política partidária ou as práticas tradicionais não deveriam servir para empobrecer a capacidade de gestão na educação. E em educação já existem divergências de formação, método e concepção suficientes para não se recomendar que a sua gestão fique em mãos de leigos ou néscios. E digo – me repetindo – que minha objeção não é nada pessoal com esta ou aquela pessoa. Defendo que a educação precisa ser mais respeitada e não ser moeda de troca ou de regalo político.

Para mim, elevando o tom da minha crítica aqui, quem aceita este tipo de coisa se não é um NÉSCIO, faz papel de tal coisa. Néscio é um antigo nome dado aos presunçosos e ignorantes. Neste sentido para se promover com qualidade de gestão e qualidade de educação algum tipo de avanço do esclarecimento e do discernimento,  não podemos ter confundidas as tarefas de gestão com política ou partidarismo. Ainda que cada um dos educadores e gestores possam ter suas próprias simpatias e afiliações partidárias, políticas e ideológicas.

Então, vou resumir assim: sou contrário a colocação de pessoas desqualificadas em qualquer cargo público por conta de barganha política. E isso não é uma questão pessoal contra o Daniel ou o Arthur, nem contra o partido deles. No meu entendimento, tanto a educação, quanto saúde, segurança pública, planejamento, cultura e outras secretarias, não são secretarias ou lugares ou espaços para aventuras ou aprendizagens. A gestão em educação tem um tal nível de complexidade nos dias de hoje, tem tantas exigências e responsabilidades legais, orçamentárias e de gestão de programas que não pode mais ser objeto de arranjos de conveniência partidária. Fico com pena das assessorias e das pessoas que assessoram uma criatura sem bases nestas áreas.

E não me importa a boa vontade da pessoa ou a quantidade de votos ou recursos que ela possui em sua algibeira, ou a amizade dela com o rei ou a sua filiação partidária, a Educação Municipal de São Leopoldo, considerando o tamanho da rede, o número de educadores e trabalhadores em educação e seus recursos, com seu nível de exigência, compreensão, técnica e pedagógica precisa ter gestão sim de professores e ou professoras afeitos aos afazeres pedagógicos e administrativos na educação. Entendo, inclusive, que todos os educadores e as educadoras deveriam colocar mais este tipo de tarefa além de lecionar em sala de aula, de fazer gestão, desde a gestão de programas em escolas, a gestão de escolas e a gestão de setores nas escolas em seu horizonte tendo em vista uma melhoria efetiva da educação. Ao se promover a gestão democrática da educação se pensa também nisto em elevar o compromisso, o envolvimento e o entendimento dos educadores e da educação com autonomia e reflexão.

Darei um pequeno exemplo pessoal para ilustrar e espero que os professores se enxerguem nisto, haja visto que provavelmente a atual gestão é surda a argumentos e a qualquer forma de exposição de razões. Leciono a quase 17 anos na rede estadual e já cumpri diferentes funções na escola – vou excluir as funções de gestão e mais políticas só para exemplificar – de Professor Conselheiro de Turmas, Coordenador de Formatura, Membro Eleito do Conselho Escolar por mais de uma vez, Representante Sindical eleito na escola e na região, Coordenador de Área de Humanas, Organizador de Passeios, Revisor de Projetos e lecionei em quase todas as disciplinas da minha área, não creio que usando o meu exemplo seja admissível que um néscio se coloque em qualquer hipótese acima de mim para gerir ou me gerir na educação sem a compreensão minimamente razoável de todos estes processos. Para mim a educação não é um processo mágico, ainda que seus resultados possam ser social, cientifica, cultural, econômica e politicamente surpreendentes.   


Como é que, então, na ponta superior da gestão poderá se admitir a gestão de um leigo? Com que quantidade excessiva de subterfúgios, volteios e engodos se admite isso? Penso que estou falando aqui, então, não somente em meu nome – ainda que sem procuração alguma – mas sim em defesa dos educadores e educadoras leopoldenses e da região que reconheço como preparados, seja de que agremiação forem...

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