Tomei conhecimento ontem pela
manhã que a atual administração municipal de São Leopoldo por decisão do seu
prefeito, no seu 16º mês de mandato, persiste em colocar à cabeça da gestão
municipal de educação mais um leigo. Considero isto um erro e vou adiantar aqui
alguns dos meus porquês.
Já havia sido desta jaez a
decisão anterior, quando em dezembro de 2012, às vésperas da posse: Daniel
Daudt Schafer, vice-prefeito e ex-vereador do PMDB por dois mandatos, foi
anunciado que assumia a Secretaria Municipal de Educação. Se não me engano é a primeira vez na história
da cidade que um leigo assume tal cargo e isto ao meu ver é uma proeza bem negativa.
Na época isso ocorreu sem objeção
pública alguma, nem do sindicato dos professores municipais, nem da imprensa
local e muito menos das pessoas que alardeiam por ai defender uma educação de
qualidade. Entendo, por óbvio, contra qualquer outra forma insensata de pensar,
que para haver educação de qualidade é
preciso gestão de qualidade.
Assim, sem causar qualquer
revolta ou sequer burburinho entre os educadores municipais, salvo um ou outro,
que assentiu à minha objeção ou balbuciou a sua própria sem muito alarde – e minha
esposa que tem já 30 anos de magistério municipal havia me dito que isto era um
absurdo - poucos concordaram com a objeção ou deram seguimento a qualquer forma
de protesto contrário.
Afirmei à época a respeito e
depois em outras circunstancias também – para não deixar passar sem registro de
ninguém – que isto era um equívoco e, ao mesmo tempo, um erro que agora se repete
de novo com a indicação de outro leigo por arranjo político e por certa provável
necessidade de construção de um prestígio artificial de um quadro do PMDB. E assim
a educação segue sendo desrespeitada em sua especificidade e gestão.
Eu dizia na época que colocar a
pasta da educação nas mãos de um secretário que - apesar de ser um bom jovem -
sequer tem nível superior, numa cidade como a nossa, com a história da nossa,
era um erro e uma barbaridade.
São Leopoldo possui muita tradição
em educação e é pioneira em educação na região sul, tem, além disto, uma das
maiores universidades privadas do Brasil e deve certamente concentrar em seu território
o maior número de educadores per capita ou por cidadão da RMPA e do Estado. E tudo
que digo aqui sobre isto pode ser devidamente apurado e verificado histórica e
informativamente.
Então não falta tradição, não falta
professor ou professora, seja na rede municipal, estadual, privada superior ou
técnica e, além disso, pelo meu modesto, mas não desinformado conhecimento não
faltam professores qualificados para tal tarefa. Assim, São Leopoldo não é uma cidade provinciana,
nem interiorana que não possui educadores habilitados para tal tarefa o que poderia,
no limite, justificar esta opção absurda. Ao meu ver lamentavelmente tal escolha ou opção e tal ousadia demonstra
despreparo e muita tibieza. Mas persistiram
então e vão prosseguir persistindo neste erro e só espero que o povo tenha
conhecimento disto e julgue por si mesmo.
Assim a minha questão continua sendo esta: Que
tal deixar a gestão da educação com professores e professoras? É um disparate
isso colocar a gestão da educação nas mãos de um leigo...e é também uma
vergonha para São Leopoldo o que estão fazendo. Porque, o resumo da ação deles
é que a gestão da educação vira boquinha política para o PMDB e PSDB e com a
maior cara de pau, sem nenhuma justificativa plausível ou racional. Isso é uma
afronta aos cidadãos, mas também aos educadores.
Para mim – e imagino que para
outros cidadãos e educadores também - é muito importante que os gestores da
educação tenham a lida da educação e que mesmo que tenham outros auxiliares, na
gestão da educação deveria se avançar para uma maior profissionalização e
passar a escapar destes arranjos de conveniência que são sintomas de uma
derrota política e programática dos educadores e dos que tem compromisso com a
educação. Para fazer getsão na educação creio que o principal pressuposto e o que
importa é avançar nos estudos e em adquirir formação específica no mínimo de
administração ou outras carreiras superiores. A política partidária ou as
práticas tradicionais não deveriam servir para empobrecer a capacidade de
gestão na educação. E em educação já existem divergências de formação, método e
concepção suficientes para não se recomendar que a sua gestão fique em mãos de
leigos ou néscios. E digo – me repetindo – que minha objeção não é nada pessoal
com esta ou aquela pessoa. Defendo que a educação precisa ser mais respeitada e
não ser moeda de troca ou de regalo político.
Para mim, elevando o tom da minha
crítica aqui, quem aceita este tipo de coisa se não é um NÉSCIO, faz papel de
tal coisa. Néscio é um antigo nome dado aos presunçosos e ignorantes. Neste
sentido para se promover com qualidade de gestão e qualidade de educação algum
tipo de avanço do esclarecimento e do discernimento, não podemos ter confundidas as tarefas de
gestão com política ou partidarismo. Ainda que cada um dos educadores e
gestores possam ter suas próprias simpatias e afiliações partidárias, políticas
e ideológicas.
Então, vou resumir assim: sou
contrário a colocação de pessoas desqualificadas em qualquer cargo público por
conta de barganha política. E isso não é uma questão pessoal contra o Daniel ou
o Arthur, nem contra o partido deles. No meu entendimento, tanto a educação, quanto
saúde, segurança pública, planejamento, cultura e outras secretarias, não são secretarias
ou lugares ou espaços para aventuras ou aprendizagens. A gestão em educação tem
um tal nível de complexidade nos dias de hoje, tem tantas exigências e
responsabilidades legais, orçamentárias e de gestão de programas que não pode
mais ser objeto de arranjos de conveniência partidária. Fico com pena das
assessorias e das pessoas que assessoram uma criatura sem bases nestas áreas.
E não me importa a boa vontade da
pessoa ou a quantidade de votos ou recursos que ela possui em sua algibeira, ou
a amizade dela com o rei ou a sua filiação partidária, a Educação Municipal de São
Leopoldo, considerando o tamanho da rede, o número de educadores e
trabalhadores em educação e seus recursos, com seu nível de exigência,
compreensão, técnica e pedagógica precisa ter gestão sim de professores e ou
professoras afeitos aos afazeres pedagógicos e administrativos na educação.
Entendo, inclusive, que todos os educadores e as educadoras deveriam colocar mais
este tipo de tarefa além de lecionar em sala de aula, de fazer gestão, desde a
gestão de programas em escolas, a gestão de escolas e a gestão de setores nas
escolas em seu horizonte tendo em vista uma melhoria efetiva da educação. Ao se
promover a gestão democrática da educação se pensa também nisto em elevar o
compromisso, o envolvimento e o entendimento dos educadores e da educação com
autonomia e reflexão.
Darei um pequeno exemplo pessoal
para ilustrar e espero que os professores se enxerguem nisto, haja visto que
provavelmente a atual gestão é surda a argumentos e a qualquer forma de
exposição de razões. Leciono a quase 17 anos na rede estadual e já cumpri
diferentes funções na escola – vou excluir as funções de gestão e mais
políticas só para exemplificar – de Professor Conselheiro de Turmas,
Coordenador de Formatura, Membro Eleito do Conselho Escolar por mais de uma
vez, Representante Sindical eleito na escola e na região, Coordenador de Área
de Humanas, Organizador de Passeios, Revisor de Projetos e lecionei em quase
todas as disciplinas da minha área, não creio que usando o meu exemplo seja
admissível que um néscio se coloque em qualquer hipótese acima de mim para
gerir ou me gerir na educação sem a compreensão minimamente razoável de todos
estes processos. Para mim a educação não é um processo mágico, ainda que seus
resultados possam ser social, cientifica, cultural, econômica e politicamente surpreendentes.
Como é que, então, na ponta
superior da gestão poderá se admitir a gestão de um leigo? Com que quantidade excessiva
de subterfúgios, volteios e engodos se admite isso? Penso que estou falando
aqui, então, não somente em meu nome – ainda que sem procuração alguma – mas sim
em defesa dos educadores e educadoras leopoldenses e da região que reconheço
como preparados, seja de que agremiação forem...
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