Hoje estava me deslocando desinteressadamente as 10:00 na Universidade por um corredor do Centro 1 em direção ao prédio administrativo e eis que olho para a minha direita em uma estrela cadente da natureza se precipitou sobre um Maricá em vôo ravisante e tomou um pequeno pássaro entre as suas garras e o quebrou. Era um gavião jovem no auge da sua forma física dando conta da sua vida cotidiana e ganhando alimento para uma provável família que deve estar em seu ninho aguardando alimento. Me lembrei do meu pai Antônio imediatamente, porque talvez ele não dissese nada, talvez ele sequer balbuciasse uma palavra sobre o pequeno episódio cotidiano da natureza, mas se estivesse junto iria apontar o dedo e me mostrar com atenção o que ali acontecia quase com um comentário subliminar ou nas entrelinhas do acontecimento. Daí pensei: sim, por mais força que você faça na tua vida cotidiana, tem a hora do Gavião. O meu avô Wilhelm, que era um exímio caçador e atirador, um guarda caça de príncipes, condes e burgueses que não conseguiam acertar um tiro a dez metros, mas que havia sido convertido a guarda florestal nos anos 20, na Alemanha, dizia simplesmente que tem o dia da caça e o dia do caçador. Eu fiquei pensando nisto como um sinal do confronto inadiável entre civilização e natureza, onde a natureza vive desviando nossos propósitos para mostrar o quanto a razão é pretensiosa e ao mesmo tempo impotente. O futuro de uma ilusão, digamos assim, se defronta com a Hora do Gavião. Ou seja, você pode fazer tudo certinho, conduzir tua vida por máximas morais, educar as pessoas para respeitar as regras e construir valores, humanizar, sensibilizar e instruir, mas sempre chega a Hora do Gavião. Não adianta chorar. E aquele jovem gavião me mostrava exatamente isto ali, simplesmente isto ali.
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