ESCRITA AUTOMÁTICA DOS EDITORES DE TEXTO
A gente, a medida que as técnicas, tecnologias e aplicativos avançam, se depara com surpresas e novidades interessantes.
Agora, temos um editor que sugere palavras diretamente no editor de whatsapp e em outros.
Tu vai escrevendo e na barra logo abaixo vão aparecendo as sugestões de palavras.
Eu não fico chateado com isso. Já faz muito tempo que escrevo escolhendo mentalmente as palavras, numa velocidade que me surpreendeu muito no começo, lá atrás nas primeiras experiências de escrever sob encomenda ou em colaboração com jornalistas, advogados, técnicos e outros. A minha imaginação coloca uma palavra e logo tenho uma coleção de sinônimos para escolher em mente. Sei que isso não ocorre só comigo. Deve ser comum a muitos escritores e escritoras de todo tipo.
Minha experiência de escritura é, então, também um mergulho nos sinônimos e nas constelações ou cenários de sentido de cada uma das palavras, substantivos ou adjetivos que utilizo ou escolho.
Sempre tive certo fascínio por descobrir novas palavras ou refazer texto em diversas versões. Sou um revisor permanentemente ativado. Imagino que tradutores e tradutoras e poetas tem o mesmo tipo de experiência também.
Mas veja.. essa forma dinâmica de escrever. Ela nos fala tanto como é melhor escrever, dando opções mentalmente ou na barrinha, que quando o texto fica pronto, ficamos desconfiados e com sérias suspeitas de que não foi a gente que escreveu isso. É um conflito de autoria dentro da gente.
Agora, com esses corretores de texto e que completam nossos textos a coisa fica mais séria ainda e mais interessante, como assoprou aqui agora, na minha primeira versão desse texto, o editor textual do Facebook, a gente parece cavalo de santo. O santo baixa na gente e a gente faz, diz e escreve o que ele quer.
Mesmo por linhas às vezes tortas, que tentamos caprichar para ser um pouco originais e diferentões, não adianta.
Porém, tem a parte boa, o texto fica redondinho. Salvo com os escritos prolixos, como os meus. Aos lacônicos favorece a precisão.
P.S. a ideia de escrever sobre este assunto surgiu de um comentário sobre o texto da escritora Livia Garcia-Roza , em que ela aponta essa estranha ou interessante autonomia ou autoria da linguagem sobre os escritores.
A gente começa a escrever com uma ideia e quando vê a própria linguagem e, muitas vezes, as personagens nos levam em outra direção. Muitos escritores e escritoras já falaram sobre o fato de que algumas personagens e também temas parecem lutar com quem escreve em busca de sua auto-realização ou objetivos próprios. Michel Foucault, aliás, aponta para o fato de começarmos a escrever e sermos levados por um curso de pensamento para certas direção que antes não estava em nossos planos ou perspectivas iniciais.
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