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sábado, 11 de janeiro de 2025

A POLÍTICA, O ATO E O DISCURSO: ENTRE HOMENS E MULHERES, MONSTROS

 A POLÍTICA, O ATO E O DISCURSO: ENTRE HOMENS E MULHERES, MONSTROS 

Em política, talvez mais do que em qualquer outra atividade humana, o discurso é marcado por um tipo muito específico de ato de fala no sentido bem definido por Austin e explorado por muitos outros linguistas, é um performativo. Em política, ainda que alguns acreditem fazer somente parole como Jack Sparrow, dizer é fazer. 

Uma das consequências disto é que podemos avaliar esse tipo de discurso sob vários aspectos. Primeiro, se é um discurso verdadeiro e se expressa alguma intencionalidade positiva, cujas consequências são virtuosas ao final. Segundo, se é um performativo bem formado e bem feito. Terceiro, se há alguma consistência moral ou se é virtuoso, expressando não somente um exercício retórico - a parole sedutora ou enganadora, mas sim alguma qualidade socialmente virtuosa e que possa ser reconhecida enquanto tal. 

Assim, políticos e políticas apresentam performativos em seus discursos e nestes não somente apontam para a realidade, mas sob análise mais apurada, apontam para si mesmos. Ou seja, acabam colocando e exibindo uma circunstância em que parecem estar julgando aos outros, mas também estão desafiando os outros a lhes julgarem. 

Não se trata apenas do Peito Aberto ou do Telhado de Vidro, mas sim de um confronto consigo mesmo ao espelho. 

Acredito que muitos políticos compreendem bem isso e que a grande maioria percebe essa dimensão muito rapidamente em suas vidas públicas. Sabem que estão se expondo ao julgamento dos demais e que podem até seduzir, gerar simpatia, conquistar, mas com a maturidade, compreendem também que não podem enganar e que estão sendo julgados em casa fala, em casa ato falho e em cada um dos seus exercícios de retórica ou performativos.

Alguns, infelizmente, consideram os eleitores e as eleitoras com um nível de desrespeito e desconsideração que fica claro em seus discursos que pretendem enganar os eleitores ou ludibriar eles. Estes para mim consistem de um grupo que vou chamar de Monstro. Com uma nota muito característica, eles jamais conseguem se compreender nessa tipologia. Tudo se passa como se eles tivessem uma opacidade ou o transparência essencial. O problema de coerência ou monstruosidade deles só nos aparece quando lhes observamos não agora, mas a partir de suas trajetórias e peripécias de trajetória. E essas peripécias podem ser chamadas de contradições. E essas contradições aparecem em seus performativos.

Dentre os performativos mais contraditórios que conheço, dentre os muitos, está aquele que considero o mais complexo e o mais próximo da loucura ou do auto-engano, é aquele do agente que cobra expressiva e sistematicamente moralidade dos demais agentes, cobra compromisso dos demais agentes, cobra coerência dos demais agentes, cobra honestidade dos demais agentes, mas no mais das vezes todas as suas decisões ou medidas decisivas apontam para uma falta de moralidade absurda, uma falta de compromisso estrondosa, uma festa de incoerências e ausência de reciprocidade que beira a uma relação sem escrúpulos e altamente instrumental e desonesta com os demais. 

Não se sabe se é uma insanidade ou um modus operandi de alguma forma de perversão moral arraigada.

A impressão que passa é que este tipo de agente acredita que poderá persistir nessas ações sem ser flagrado na sua falta de escrúpulos e de compromissos morais com os demais. 

Um professor chamava de estultícia esse tipo de conduta, porque presume enganar a todos, mas que porém, parece estar a enganar principalmente a si mesmo. Curiosamente, esses tipos de consideram astutos e espertos nas relações com os demais. A tal ponto de se ufanarem ou regozijarem perante os demais quando lhes deixam espantados.

Tudo bem que política não é o casamento da tua filha ou do teu filho. Não é nem mesmo o teu próprio casamento. Porém, ficamos espantados sim com a desenvoltura dos monstros.

O sujeito se comporta como Dr. Jekill e Mrs Hyde sem ter nenhuma consciência um do outro. 

Diríamos que a consciência de um poderia atenuar a monstruosidade do outro, porém, na forma posta tanto a face angelical é demoníaca quanto a face demoníaca persiste sendo mais e mais monstruosa pela forma como o mesmo age sistematicamente quando confrontado com os fatos. 

A retórica canhestra desse tipo de sujeito e tal que você se põe a perceber a forma como ele tenta encurralar seus interlocutores e desafiar eles moralmente, mas quando olha com mais atenção percebes que ele não tem simplesmente compromisso algum com moralidade, relações ou com a verdade.

Não fico triste ao constatar isto numa personagem real. Ao contrário, percebo o quanto ele se enquadra numa tipologia extrema e me surpreendo muito ao perceber o quão inacreditável é essa descrição sem o seu exemplar que a demonstra.

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