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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

QUAL VITÓRIA? – A NOSSA VITÓRIA TERÁ HISTÓRIA SIM E ELA SERÁ DEMOCRÁTICA NA DEFESA DE NOSSOS DIREITOS E DO NOSSO POVO



“Não tem história, é greve até a vitória!” Grito da Claque na Assembléia Geral de 11/09/2015

“Nosso mundo se define pelo achatamento e pela degola. No lugar do diálogo, predominam o ódio e o desejo de destruição. No lugar da tolerância, a intolerância e a rispidez, quando não a agressão gratuita. É o mundo do Um, em que todos dizem as mesmas coisas, usando quase sempre as mesmas palavras. Um mundo em que a verdade, que todos ostentam, de fato agoniza. Nesse universo, a literatura se impõe como um reduto de resistência. A literatura é o lugar do diálogo, do múltiplo, da diferença.” José Castello do Jornal o Globo sobre o fim do Caderno Prosa – em Hora da Despedida, 12/09/2015

Vivi e testemunhei com meus colegas de carreira, professores, funcionários e servidores estaduais, provavelmente, a Assembléia mais tumultuada da história do CPERS. E ela foi tumultuada pela oposição do começo ao fim, com uma claque raivosa, cujas lideranças de oposição mal tinham controle ou liderança efetiva, pois ao contrário de fazer uso disto para garantir uma vitória indiscutível e justa de sua posição tática, acabaram na tentativa sistemática de “vencer no grito”, com sua claque apaixonada e agitada, agravando e gerando um clima de apreensão com as tentativas de coerção, agressão, as ameaças e ofensas contra quem tem posições diferentes deles, seja no detalhe, seja no todo. A imprensa chamou nossa assembleia de tumultuada.

Ora o problema não é o barulho, isto faz parte da livre expressão, agora temos que combinar que cassar a palavra daqueles que estão ao microfone ou impedí-los de se pronunciarem não é só tumulto, é sim um ato anti-democrático. Se na democracia queremos o direito de livre pensamento e de livre expressão do pensamento, não há argumento que sustente que se possa falar o que quiser, mas que não se deva ouvir o que o outro quiser falar também. Mesmo que tenhamos desacordo ou divergência, antipatias ou mesmo gostos e bandeiras diferentes, é preciso respeitar e garantir o uso livre e sem constrangimento da palavra dos que se inscreverem para tal numa assembleia democrática. É de um processo de garantia disto, do direito de uso da palavra de todos, desde a escola, passando pelos núcleos, plenárias, conselhos de núcleo, assembleias regionais, conselho geral, assembleias gerais e congressos estaduais ou seminários, que forjamos as deliberações e as decisões desta categoria ao longo de sua história. E a democracia no nosso sindicato não deveria valer somente quando eu ou meu grupo vence ou quando eu ou meu grupo está falando. A democracia neste sindicato de deve valer em todos os momentos.

Sobre a votação da Assembléia Geral podemos sim contestar sua forma. Cabe sim dizer que deveria ter sido feita apuração em urna ou que a mesa conduzisse melhor os trabalhos, mas conhecendo todas as lideranças do CPERS como conheço e ligando isto ao clima geral instalado e que tem se agravado em todas as instâncias do sindicato ultimamente, não vi outra solução do que encerrar a assembléia, logo após todo o tumulto e os sucessivos ataques pessoais e a completa falta de mediação ou de proposições alternativas ao confronto que levou ao ato de jogar cadeiras na mesa que coordenava os trabalhos. Não conheço nenhum dirigente sindical que acuado, agredido, atacado e ofendido por uma claque furiosa faça melhor do que foi feito. Os argumentos contrários, que acusam a direção central de manipulação, manobra e golpe não ofereceram, por intermédio de seus conhecidos representantes e lideranças, nenhuma alternativa de mediação e, ao contrário, deixaram a turba livre para promover aquelas agressões e não recuaram em nenhum momento para mediação. A tentativa de propor questão de ordem feita por uma militante de base foi prejudicada gravemente pela própria omissão e recuo das lideranças da oposição frente às violências que se avolumavam. Não dá para se esconder numa hora destas e só lideres corajosos de verdade encaram estas situações e mediam o conflito, ao contrário de aumentar e agravá-lo seja por omissão seja por incapacidade de reação à altura.

Para mim soçobrou, então, nesta assembléia não somente a tese de tática, mas seus lideres, por clara incapacidade de responder ao quadro que eles mesmos tem incentivado no sindicato. E não adianta arguir perplexidade agora com as consequências desta tática no plenário. Qualquer um sabe muito bem que uma minoria exaltada, apaixonada e enfurecida terá dificuldades de aceitar uma derrota, seja ela justa e certa ou suspeita e duvidosa.

Foi um espetáculo irracional e vergonhoso para qualquer categoria de trabalhadores organizados e ele tem responsáveis e é consequência de uma linha política de confronto sistemático contra a situação por uma unidade de três ou quatro forças que estiveram juntas na gestão anterior, mas que porém se separaram na disputa eleitoral. Agora – após sua derrota - se uniram por força de sua dela e da conjuntura posterior a eleição do sindicato e estadual, para fustigar a situação em todas as assembléias. Vejam que isso levou a vitória na desfiliação da CUT, mas que, entretanto, não se fala mais disto. E isso é permitido sim, porém é mais vergonhoso ainda porque gera dissensos absurdos como resistir sistematicamente à coordenação do movimento sindical – e o exemplo do trancamento da Alergs mesmo após pedidos e orientações da direção por parte deste grupo é um exemplo flagrante disto - por parte da direção legitimamente eleita, e isto ocorre justamente no momento em que esta categoria mais precisa de encaminhamentos e resoluções de unidade e convergentes na ação, ainda que a partir de divergências, diferenças de concepção e etc. A nossa categoria sofre muito hoje neste impasse e todas as demais 43 categorias de servidores públicos sofrem juntos a nós todos e assistem este espetáculo se repetindo sistematicamente sem nenhum recuo que permita alguma síntese e resolução comum. Assim, nossas categorias sofrem um ataque covarde e impiedoso aos seus direitos e recebe do atual governo estadual seus salários parcelados e sofre ameaças de terrorismo sistemático dos governantes e a nossa direção enfrenta, no cotidiano e em qualquer momento do movimento, acessos de insubordinação e resistência à sua coordenação.

Se as assembleias e nosso movimento em geral do CPERS prosseguirem agravando e aprofundando este clima de rivalidade, revanchismo e sectarismo, não haverá nenhuma vitória para a nossa categoria. Tenho presenciado e testemunhado, desde a eleição do CPERS que, em todas as Assembleias Gerais e Regionais – pertenço ao 14º Núcleo onde a oposição dirige o Núcleo e tem um Conselheiro 1/1000 e onde a situação tem um Conselheiro 1/1000 e representa parte considerável da base de associados - tem sido a tônica a disputa as vezes ríspida e rebaixada e algumas vezes mediada com muita paciência e tolerância entre oposição e situação. Isso, mesmo aqui onde todos nós somos construtores do núcleo, velhos camaradas e lutadores sociais com história, responsabilidade e propostas para organizar, fortalecer e efetivar nossa luta, isso tem gerado razoáveis dificuldades nos encaminhamentos e nos debates e nos processos.

Para fazer justiça, aqui em São Leopoldo, temos feito um grande esforço combinado e transparente para manter, apesar das disputas um clima de colaboração, diálogo e confiança, e, ainda que, uma parte da situação local tenha razoável dificuldade em entender isto e insista em tentativas de promover ataques pessoais e rebaixar o debate ao nível da gritaria e da imposição de sua vontade de forma unilateral e não negociada, isto tem sido superado por minha relação de reciprocidade e de alto nível com o diretor do núcleo, com alguns membros da sua diretoria e diversos militantes das escolas e da oposição local. Disso decorreu que, mesmo com divergências mais táticas do que de concepção ou método, temos conseguido realizar uma bela e muito intensa jornada no âmbito local e realizado muitas plenárias organizativas, caminhadas, atos politico culturais, visitas a escolas e mesmo daqui saiu importante delegação para o esforço de Piquete no CAFF e enfim no Protesto contra o Governador na Expointer. Aqui realizamos plenamente, em muitas situações, a unificação com os demais sindicatos e representações de servidores, mas precisamos melhorar muito e reconstruir muitas relações com o chão das escolas fazendo visitas e aumentando a credibilidade do nosso sindicato com propostas claras e uma direção firme ao nosso lado.

Não tem problema nenhum, em tese, esta disputa, mas o que entra em jogo no nosso debate aqui é sua forma e também seus propósitos. E, na atual conjuntura que vivemos, deveria ser mote principal de todas as lideranças sindicais a construção de acordos para enfrentarmos nosso adversário, nosso inimigo comum que nos ataca impiedosamente e covardemente com a maior convergência possível na ação.

Não haverá, seguindo esta lógica revanchista, vitória alguma, nem para a categoria e nem para o sindicato e muito menos para as correntes sindicais organizadas, suas lideranças e também para aqueles que individualmente atuam com suas posições ou concepções próprias na militância sindical. Ao contrário, creio que nenhuma liderança sairá legitimada dessa disputa fratricida e guiada por emocionalismo, fanatismo, intolerância e irracionalidade.

Várias pessoas – sobre minha participação na Assembléia Geral de 11 de setembro - vieram dizer que eu narrei corretamente a Assembléia do núcleo, inclusive o diretor do núcleo me afirmou ter alertado a alguns dos críticos que era absolutamente legitimo meu posicionamento. Outras ficaram contrariadas com minha narrativa – que era somente um dos componentes de minha fala - ao ponto de me ofender e me admoestar publicamente e inclusive um destes que por desmedida ou imprudência chegou ao extremo de me afrontar com publicações ofensivas e desrespeitosas em rede social. O problema dos que me criticam, ou dos que tentam cassar minha voz ou impedir a nossa argumentação não é pessoal, é que, ao não aceitar minha posição e meu direito de defender ela, estão com dificuldade de compreender a democracia do nosso sindicato, os direitos de seus associados e suas instâncias e a liberdade dos associados de defenderem posição até a última deliberação na instância máxima que é a Assembléia Geral, simplesmente. Aprendi algo sobre isto em 18 anos de militância sindical, tendo sido eleito duas vezes para mandatos neste sindicato com muito orgulho, porque sempre estimei muito o voto direto e o trabalho pelo coletivo. Nestas duas vezes fui eleito e reeleito em chapa de conselheiro 1/1000 no 14º Núcleo – com mais de 75% dos votos contra uma ocasião duas outras chapas e em outro caso contra uma, o que se deve também aos meus demais três colegas de chapa, muitos dos quais nos acompanham ainda hoje desde lá, mas também ao nosso trabalho e ao nosso compromisso coletivo com esta categoria. Cumpri e exerci meu dever e mandato com plena atuação sindical e plena participação em todas as instâncias desta categoria, fiz propostas, argumentei, escrevi textos, elaborei coletiva e individualmente diversos documentos para este sindicato, e ainda que alguns possam, é claro, ter opinião diversa a respeito disto ou outras coisas, esta é a verdade e a fonte de meu conhecimento e experiência sindical.

Fui chamado de mentiroso e manipulador por alguns que não concordam, seja com minha fala e seu conteúdo seja com meu direito de arguir tal posição. Isso é um ataque pessoal e não vejo por onde tal coisa constitua ataque político também. Ora não é correto isto e abstraindo-se aqui do ataque pessoal que sofri, por ter tal posição, nossa posição pode ser arguida ou contestada sim até a última instância, e por isto não é ilegítima e curiosamente tratou apenas de encaminhar tática diferente para a conjuntura imediata sobre a qual iriamos deliberar na Assembléia, passados já os 13 dias de greve (somo aqui os períodos e dias 3 de agosto, 19,20 e 21 e de 31, 1,2,3,4, 8,9.10.,11 de setembro). Só porque nossa posição representou claramente 56 votos contra 58 da Assembléia Regional, isso não significa que ela seja ilegítima e que não possa ser arguida em Assembléia Geral ou mesmo Conselho Geral por nosso representante 1/1000 afinado com a mesma, nem por qualquer outro associado em dia que queira livremente defender inclusive em Assembléia Geral posição não defendida em Conselho geral ou nenhuma instancia inferior antes . Aliás, só para constar e fechar aqui um registro de outro prejuízo do tumulto na assembleia geral, por conta disto todos os destaques dos pontos seguintes da pauta do conselho foram impedidos de serem apresentados o que é um prejuízo sim a democracia sindical. E sei que haviam vários inscritos nos pontos seguintes. E eu mesmo me inscrevi com destaque para o ponto 2 no qual tive a possibilidade limitada pela perturbação sistemática ali na frente e também no ponto 6, onde apresentaria um DEADLINE como alternativa frente a mais um parcelamento que se deflagrasse sim uma greve por tempo indeterminado para sinalizar ao governo limite final da sua brincadeira com nossas sobrevivências. Mas isto não foi possível.

Ora, convenhamos pessoal, em algum momento a sineta da razão precisa tocar nesta discussão. ( E nas cacholas de vocês.) Isso que vocês estão pensando que é errado não existe. Há uma compreensão equivocada da democracia sindical aí. E eu creio que ela mistura, de um lado, de forma contaminada e passional este sistemático revanchismo que descrevi acima e que não nos ajuda e, de outro lado, a necessidade de alguns associados novos e outros nem tanto, de darem certa atenção ao estatuto do sindicato e quem sabe promoverem, com compromisso e responsabilidade, processos de formação que nos fortaleçam, nos organizem mais e nos unifiquem de forma democrática e sem métodos rebaixados ou coerções, violências ou constrangimentos que são indesejáveis para um sindicato de trabalhadores da educação com a grande história do nosso e que tem em seu hino a tarefa permanente de lutar e de “ensinar democracia”.


Daniel Adams Boeira – Professor estadual e associado ao Cpers no 14º Núcleo São Leopoldo e lecionando na Escola Estadual de Ensino Médio Olindo Flores da Silva de São Leopoldo.

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