“Não tem história, é greve até a
vitória!” Grito da Claque na Assembléia Geral de 11/09/2015
“Nosso mundo se define pelo
achatamento e pela degola. No lugar do diálogo, predominam o ódio e o desejo de
destruição. No lugar da tolerância, a intolerância e a rispidez, quando não a
agressão gratuita. É o mundo do Um, em que todos dizem as mesmas coisas, usando
quase sempre as mesmas palavras. Um mundo em que a verdade, que todos ostentam,
de fato agoniza. Nesse universo, a literatura se impõe como um reduto de
resistência. A literatura é o lugar do diálogo, do múltiplo, da diferença.”
José Castello do Jornal o Globo sobre o fim do Caderno Prosa – em Hora da
Despedida, 12/09/2015
Vivi e testemunhei com meus
colegas de carreira, professores, funcionários e servidores estaduais,
provavelmente, a Assembléia mais tumultuada da história do CPERS. E ela foi
tumultuada pela oposição do começo ao fim, com uma claque raivosa, cujas
lideranças de oposição mal tinham controle ou liderança efetiva, pois ao
contrário de fazer uso disto para garantir uma vitória indiscutível e justa de
sua posição tática, acabaram na tentativa sistemática de “vencer no grito”, com
sua claque apaixonada e agitada, agravando e gerando um clima de apreensão com
as tentativas de coerção, agressão, as ameaças e ofensas contra quem tem
posições diferentes deles, seja no detalhe, seja no todo. A imprensa chamou
nossa assembleia de tumultuada.
Ora o problema não é o barulho,
isto faz parte da livre expressão, agora temos que combinar que cassar a
palavra daqueles que estão ao microfone ou impedí-los de se pronunciarem não é
só tumulto, é sim um ato anti-democrático. Se na democracia queremos o direito
de livre pensamento e de livre expressão do pensamento, não há argumento que
sustente que se possa falar o que quiser, mas que não se deva ouvir o que o
outro quiser falar também. Mesmo que tenhamos desacordo ou divergência,
antipatias ou mesmo gostos e bandeiras diferentes, é preciso respeitar e
garantir o uso livre e sem constrangimento da palavra dos que se inscreverem
para tal numa assembleia democrática. É de um processo de garantia disto, do
direito de uso da palavra de todos, desde a escola, passando pelos núcleos,
plenárias, conselhos de núcleo, assembleias regionais, conselho geral,
assembleias gerais e congressos estaduais ou seminários, que forjamos as
deliberações e as decisões desta categoria ao longo de sua história. E a
democracia no nosso sindicato não deveria valer somente quando eu ou meu grupo
vence ou quando eu ou meu grupo está falando. A democracia neste sindicato de
deve valer em todos os momentos.
Sobre a votação da Assembléia
Geral podemos sim contestar sua forma. Cabe sim dizer que deveria ter sido
feita apuração em urna ou que a mesa conduzisse melhor os trabalhos, mas
conhecendo todas as lideranças do CPERS como conheço e ligando isto ao clima
geral instalado e que tem se agravado em todas as instâncias do sindicato
ultimamente, não vi outra solução do que encerrar a assembléia, logo após todo
o tumulto e os sucessivos ataques pessoais e a completa falta de mediação ou de
proposições alternativas ao confronto que levou ao ato de jogar cadeiras na
mesa que coordenava os trabalhos. Não conheço nenhum dirigente sindical que
acuado, agredido, atacado e ofendido por uma claque furiosa faça melhor do que
foi feito. Os argumentos contrários, que acusam a direção central de
manipulação, manobra e golpe não ofereceram, por intermédio de seus conhecidos
representantes e lideranças, nenhuma alternativa de mediação e, ao contrário,
deixaram a turba livre para promover aquelas agressões e não recuaram em nenhum
momento para mediação. A tentativa de propor questão de ordem feita por uma
militante de base foi prejudicada gravemente pela própria omissão e recuo das
lideranças da oposição frente às violências que se avolumavam. Não dá para se
esconder numa hora destas e só lideres corajosos de verdade encaram estas
situações e mediam o conflito, ao contrário de aumentar e agravá-lo seja por
omissão seja por incapacidade de reação à altura.
Para mim soçobrou, então, nesta
assembléia não somente a tese de tática, mas seus lideres, por clara incapacidade
de responder ao quadro que eles mesmos tem incentivado no sindicato. E não
adianta arguir perplexidade agora com as consequências desta tática no
plenário. Qualquer um sabe muito bem que uma minoria exaltada, apaixonada e
enfurecida terá dificuldades de aceitar uma derrota, seja ela justa e certa ou
suspeita e duvidosa.
Foi um espetáculo irracional e
vergonhoso para qualquer categoria de trabalhadores organizados e ele tem
responsáveis e é consequência de uma linha política de confronto sistemático
contra a situação por uma unidade de três ou quatro forças que estiveram juntas
na gestão anterior, mas que porém se separaram na disputa eleitoral. Agora –
após sua derrota - se uniram por força de sua dela e da conjuntura posterior a
eleição do sindicato e estadual, para fustigar a situação em todas as
assembléias. Vejam que isso levou a vitória na desfiliação da CUT, mas que,
entretanto, não se fala mais disto. E isso é permitido sim, porém é mais
vergonhoso ainda porque gera dissensos absurdos como resistir sistematicamente à
coordenação do movimento sindical – e o exemplo do trancamento da Alergs mesmo
após pedidos e orientações da direção por parte deste grupo é um exemplo
flagrante disto - por parte da direção legitimamente eleita, e isto ocorre
justamente no momento em que esta categoria mais precisa de encaminhamentos e
resoluções de unidade e convergentes na ação, ainda que a partir de
divergências, diferenças de concepção e etc. A nossa categoria sofre muito hoje
neste impasse e todas as demais 43 categorias de servidores públicos sofrem
juntos a nós todos e assistem este espetáculo se repetindo sistematicamente sem
nenhum recuo que permita alguma síntese e resolução comum. Assim, nossas
categorias sofrem um ataque covarde e impiedoso aos seus direitos e recebe do
atual governo estadual seus salários parcelados e sofre ameaças de terrorismo sistemático
dos governantes e a nossa direção enfrenta, no cotidiano e em qualquer momento
do movimento, acessos de insubordinação e resistência à sua coordenação.
Se as assembleias e nosso
movimento em geral do CPERS prosseguirem agravando e aprofundando este clima de
rivalidade, revanchismo e sectarismo, não haverá nenhuma vitória para a nossa
categoria. Tenho presenciado e testemunhado, desde a eleição do CPERS que, em
todas as Assembleias Gerais e Regionais – pertenço ao 14º Núcleo onde a
oposição dirige o Núcleo e tem um Conselheiro 1/1000 e onde a situação tem um
Conselheiro 1/1000 e representa parte considerável da base de associados - tem
sido a tônica a disputa as vezes ríspida e rebaixada e algumas vezes mediada
com muita paciência e tolerância entre oposição e situação. Isso, mesmo aqui
onde todos nós somos construtores do núcleo, velhos camaradas e lutadores
sociais com história, responsabilidade e propostas para organizar, fortalecer e
efetivar nossa luta, isso tem gerado razoáveis dificuldades nos encaminhamentos
e nos debates e nos processos.
Para fazer justiça, aqui em São
Leopoldo, temos feito um grande esforço combinado e transparente para manter,
apesar das disputas um clima de colaboração, diálogo e confiança, e, ainda que,
uma parte da situação local tenha razoável dificuldade em entender isto e
insista em tentativas de promover ataques pessoais e rebaixar o debate ao nível
da gritaria e da imposição de sua vontade de forma unilateral e não negociada,
isto tem sido superado por minha relação de reciprocidade e de alto nível com o
diretor do núcleo, com alguns membros da sua diretoria e diversos militantes
das escolas e da oposição local. Disso decorreu que, mesmo com divergências
mais táticas do que de concepção ou método, temos conseguido realizar uma bela e
muito intensa jornada no âmbito local e realizado muitas plenárias
organizativas, caminhadas, atos politico culturais, visitas a escolas e mesmo
daqui saiu importante delegação para o esforço de Piquete no CAFF e enfim no
Protesto contra o Governador na Expointer. Aqui realizamos plenamente, em
muitas situações, a unificação com os demais sindicatos e representações de
servidores, mas precisamos melhorar muito e reconstruir muitas relações com o
chão das escolas fazendo visitas e aumentando a credibilidade do nosso
sindicato com propostas claras e uma direção firme ao nosso lado.
Não tem problema nenhum, em tese,
esta disputa, mas o que entra em jogo no nosso debate aqui é sua forma e também
seus propósitos. E, na atual conjuntura que vivemos, deveria ser mote principal
de todas as lideranças sindicais a construção de acordos para enfrentarmos
nosso adversário, nosso inimigo comum que nos ataca impiedosamente e
covardemente com a maior convergência possível na ação.
Não haverá, seguindo esta lógica
revanchista, vitória alguma, nem para a categoria e nem para o sindicato e
muito menos para as correntes sindicais organizadas, suas lideranças e também
para aqueles que individualmente atuam com suas posições ou concepções próprias
na militância sindical. Ao contrário, creio que nenhuma liderança sairá
legitimada dessa disputa fratricida e guiada por emocionalismo, fanatismo,
intolerância e irracionalidade.
Várias pessoas – sobre minha
participação na Assembléia Geral de 11 de setembro - vieram dizer que eu narrei
corretamente a Assembléia do núcleo, inclusive o diretor do núcleo me afirmou ter
alertado a alguns dos críticos que era absolutamente legitimo meu
posicionamento. Outras ficaram contrariadas com minha narrativa – que era
somente um dos componentes de minha fala - ao ponto de me ofender e me
admoestar publicamente e inclusive um destes que por desmedida ou imprudência chegou
ao extremo de me afrontar com publicações ofensivas e desrespeitosas em rede
social. O problema dos que me criticam, ou dos que tentam cassar minha voz ou
impedir a nossa argumentação não é pessoal, é que, ao não aceitar minha posição
e meu direito de defender ela, estão com dificuldade de compreender a
democracia do nosso sindicato, os direitos de seus associados e suas instâncias
e a liberdade dos associados de defenderem posição até a última deliberação na
instância máxima que é a Assembléia Geral, simplesmente. Aprendi algo sobre
isto em 18 anos de militância sindical, tendo sido eleito duas vezes para
mandatos neste sindicato com muito orgulho, porque sempre estimei muito o voto
direto e o trabalho pelo coletivo. Nestas duas vezes fui eleito e reeleito em
chapa de conselheiro 1/1000 no 14º Núcleo – com mais de 75% dos votos contra uma
ocasião duas outras chapas e em outro caso contra uma, o que se deve também aos
meus demais três colegas de chapa, muitos dos quais nos acompanham ainda hoje
desde lá, mas também ao nosso trabalho e ao nosso compromisso coletivo com esta
categoria. Cumpri e exerci meu dever e mandato com plena atuação sindical e
plena participação em todas as instâncias desta categoria, fiz propostas,
argumentei, escrevi textos, elaborei coletiva e individualmente diversos documentos
para este sindicato, e ainda que alguns possam, é claro, ter opinião diversa a
respeito disto ou outras coisas, esta é a verdade e a fonte de meu conhecimento
e experiência sindical.
Fui chamado de mentiroso e
manipulador por alguns que não concordam, seja com minha fala e seu conteúdo
seja com meu direito de arguir tal posição. Isso é um ataque pessoal e não vejo
por onde tal coisa constitua ataque político também. Ora não é correto isto e
abstraindo-se aqui do ataque pessoal que sofri, por ter tal posição, nossa
posição pode ser arguida ou contestada sim até a última instância, e por isto
não é ilegítima e curiosamente tratou apenas de encaminhar tática diferente
para a conjuntura imediata sobre a qual iriamos deliberar na Assembléia,
passados já os 13 dias de greve (somo aqui os períodos e dias 3 de agosto,
19,20 e 21 e de 31, 1,2,3,4, 8,9.10.,11 de setembro). Só porque nossa posição
representou claramente 56 votos contra 58 da Assembléia Regional, isso não
significa que ela seja ilegítima e que não possa ser arguida em Assembléia Geral
ou mesmo Conselho Geral por nosso representante 1/1000 afinado com a mesma, nem
por qualquer outro associado em dia que queira livremente defender inclusive em
Assembléia Geral posição não defendida em Conselho geral ou nenhuma instancia
inferior antes . Aliás, só para constar e fechar aqui um registro de outro
prejuízo do tumulto na assembleia geral, por conta disto todos os destaques dos
pontos seguintes da pauta do conselho foram impedidos de serem apresentados o
que é um prejuízo sim a democracia sindical. E sei que haviam vários inscritos
nos pontos seguintes. E eu mesmo me inscrevi com destaque para o ponto 2 no
qual tive a possibilidade limitada pela perturbação sistemática ali na frente e
também no ponto 6, onde apresentaria um DEADLINE como alternativa frente a mais
um parcelamento que se deflagrasse sim uma greve por tempo indeterminado para
sinalizar ao governo limite final da sua brincadeira com nossas sobrevivências.
Mas isto não foi possível.
Ora, convenhamos pessoal, em
algum momento a sineta da razão precisa tocar nesta discussão. ( E nas cacholas
de vocês.) Isso que vocês estão pensando que é errado não existe. Há uma
compreensão equivocada da democracia sindical aí. E eu creio que ela mistura,
de um lado, de forma contaminada e passional este sistemático revanchismo que
descrevi acima e que não nos ajuda e, de outro lado, a necessidade de alguns
associados novos e outros nem tanto, de darem certa atenção ao estatuto do
sindicato e quem sabe promoverem, com compromisso e responsabilidade, processos
de formação que nos fortaleçam, nos organizem mais e nos unifiquem de forma
democrática e sem métodos rebaixados ou coerções, violências ou
constrangimentos que são indesejáveis para um sindicato de trabalhadores da
educação com a grande história do nosso e que tem em seu hino a tarefa
permanente de lutar e de “ensinar democracia”.
Daniel Adams Boeira – Professor
estadual e associado ao Cpers no 14º Núcleo São Leopoldo e lecionando na Escola
Estadual de Ensino Médio Olindo Flores da Silva de São Leopoldo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário