Vou comentar de forma bem ingênua
isto que o Renato Janine Ribeiro disse hoje aqui sobre o fim do embargo
americano à Cuba.
Vou citá-lo integralmente:
“Só depois de anunciada a
reaproximação EUA-Cuba, é que eu percebi que não esperava isso. Parecia dessas
coisas imutáveis, como foi a ditadura comunista, a impunidade do Elemento, no
Brasil o regime militar enquanto durou...
E racionalmente eu sabia que ia
cair, que não dava mais. Mas é incrível, durou 54 anos. Uma vida. Mais do que a
vida inteira de muitas pessoas. Dá um calafrio.
E com isso volta a ser normal o
que, por tanto tempo, viveu na exceção.
Deveríamos fazer esta pergunta -
como subsiste o absurdo, o errado, o espantoso? - com frequência.”
Depreendo daí também que ele não
entendia como nunca havia perguntado antes como isto foi possível. E eu pensei
assim que ele – o embargo - sobreviveu pelo hábito, pela rotina, pelo
conformismo e naturalização desta decisão e pela força aparentemente
inquestionável das tradições e decisões anteriores. Mesmo quando elas são
erradas, absurdas e espantosas aos nossos olhos. Fiquei até pensando numa
alternativa ou em um dispositivo de
caducidade para certas decisões. E o exemplo incrível aqui - no teu paralelo
com a vida e é a vida e nossa forma de vida o que realmente importa mesmo como
valor último - que todos aqueles que viveram para tomar estas decisões do
embargo, bloqueio e etc já se foram deste mundo para outro mundo ou nenhum
mundo. É o já citado por muitos, governo dos mortos sobre os vivos.
A pergunta derradeira aqui
deveria nos levar a perguntar se os vivos estão vivos mesmo? E se sua
vitalidade tem disposições reais e se eles tem deliberado de fato, com
autonomia, responsabilidade e legitimidade sobre suas próprias vidas e forma de
viver. E estava mesmo lendo aquela escrita maravilhosa para mim do Foucault
ontem sobre "aqueles que obedecem a regras que não se mostram inteiramente
a sua consciência" e agora fiquei pensando se este não é um exemplo destas
mesmas regras ou disposições de regulação que escapam a nossa existência e
consciência e seu sentido inquestionado.
Parece que Obama encontrou uma brecha
na história para conseguir mudar isto e os mortos não vão reclamar mesmo.
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