"De nada adianta o discurso competente
se a ação pedagógica é impermeável a mudança". Paulo Freire
Sobre
discurso, ação e mudança muita coisa já foi dita em vários domínios. Mas há que
se atentar que neste caso, ao meu ver, trata-se de uma refutação de um tipo de discurso
pela sua prática conservadora e que não aceita a mudança. A impermeabilidade á
mudança é sustentada por uma espécie de alegação de competências ou se quiseres
saberes. Mas vou mais longe aqui, pois há também a alegação de incompetências e
não saberes para resistir à mudança e neste caso a resistência à mudança não se
dá somente por competências , mas sim por inseguranças e instabilidades e pela
falta de certa tranqüilidade para enfrentar a mudança.
Ou
seja, trata-se de um discurso que ou bem afirma competências e saberes para recusar
a mudança pedagógica proposta ou bem afirma a ausência destes saberes e competências
para empreender a mudança. A contradição, portanto, entre discurso e prática nos domínios das pedagogias apontada por Paulo
Freire não vale exclusivamente para a mudança, vale inclusive para a manutenção
de uma ordem pedagógica cuja ausência de reflexão e de formação permanente
acentua a acomodação e a resistência à mudança. Quando Paulo Freire, nesta
expressão que analisamos agora fora de seu contexto original, usa a chave “de nada
adianta” podemos pensar também que mesmo o excesso de permeabilidade à mudança,
sem a devida reflexão e criticidade, também de nada adiantará, pois provocará a
mudança aparente ou cosmética, a mudança por adaptação e não a transformação da
realidade educacional. Assim, a velha
forma de admiração ingênua engendra aqui também uma pseudo-mudança que durará
até que a vida os separe.
Se
colocarmos em detalhes as mudanças propostas e das quais e com as quais muitos se
ufanam de simpatizar, defender ou esposar, encontraremos também outras contradições
entre discurso e práticas, entre um discurso competente e altamente apropriado e
uma ação que não impõe a emancipação dos alunos, não liberta os jovens de seus
medos de fracasso, nem os professores dos seus temores de incompetência. Há,
portanto, uma outra contradição que acompanha o “discurso competente” que
consiste justamente em justificar sua prática inter-pares e frente aos alunos
usar como argumento o tradicional, o velho argumento de autoridade que funda escolhas
teóricas, metodológicas e conceituais em sua preferência, juízo exclusivamente
pessoal e que jamais admite o questionamento. É comum o discurso competente ser uma espécie
de discurso de seita com fundamento subjetivo numa crença geral sobre os
sagrados objetivos e os melhores resultados da prática docente segundo certa
acepção ou escola. Ao renunciar a problematicidade de toda prática – com um
discurso competente – se consolida a barreira para mudança.
Eu
só vejo uma saída aqui: compreendermos a medida em que este discurso de competência
sustenta as crenças do educador ou educadora e ir aos poucos e dialeticamente apontando
outras perspectivas para dissolver a resistência a mudança e se reconhecer
melhor a sua necessidade. Isto é, deve haver confronto, conflito e problematização
radical das idéias, mas é preciso compreender e levantar claramente de onde vem
a reação à mudança e não somente confrontá-la sem a apresentação e análise de
suas razões.
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