A função de Ghost Writer me parece
apresentada sempre por coleções de preconceitos. Ou se diz que quem usa ghost
writer não sabe escrever, ou se diz que quem escreve - o intelectual que
escreve - parece emprestar sua pena para alguém menor.
Na maior parte dos casos não é nem
uma coisa nem outra. Ainda que eu não seja um Ghost Writer, pelo que já assisti
na história e na experiência sobre isto: o discurso é visto e construído mesmo
como uma performance.
Em geral, ele é construído sobre
eixos que representam objetivos ou temas que querem ser tratados. A mistura, a
ordem entre temas conhecidos e lançamentos, balões de ensaio e tensões intencionais,
apupos e sopapos é elegida quase sempre entre o ghost e aquele que vai
discursar. E não há nada de errado nisto.
Tendo a elogiar presidentes ou autoridades que usam um Ghost Writer porque
é um sinal de muita inteligência admitir que não é necessário pensar sozinho e
que um texto sempre pode ser melhorado ou ganhar luzes, cores e acentos mais
adequados do que aquilo que produzimos de forma bruta e lançamos à audiência.
E é bom lembrar que um discurso - e
já faz muito tempo que é assim - é, no fundo, uma proposta de diálogo, de
reflexão do outro, ainda que seja apresentado de forma monológica.
Outro aspecto que me parece relevante é que o Ghost Writer é no fundo uma
espécie de espelho da qualidade do presidente ou do seu par. Assim quanto
melhor o Ghost Writer, mais qualificada a escolha e o diálogo entre o escritor ou
redator e o seu orador ou apresentador.
Quando penso no logos grego por exemplo, sempre me vem a baila a idéia de
que havia um logos comunitário que o reconhecia e que foi fundamental para
cerzí-lo. O reconhecimento do logos de alguém, através daquilo que é chamado de
Acmé, para mim, não é nada mais, nada menos, que o momento em que o logos
comunitário reconhece a performance do logos individual.
Sólon é lembrado pelo fato de ser um
grande orador e legislador. Não conheci nenhum grande orador ou legislador que
pensasse sozinho.
Por um acaso nesta semana mesmo andei olhando o que faziam o poeta
Gregório Porto da Fonseca e depois dele o outro poeta Ronald de Carvalho no
gabinete de Getúlio Vargas entre 1930 e 1935?. E ao contrário que que é
expresso acima sobre Getúlio ele não era um discurso ruim ou vazio.
Simplesmente (sic) era um discurso com todos os traços dos discursos desta
época. A pergunta que deve ser tocada aqui é como ele liderava então com este
discurso e porque os outros gênios do discurso político não eram seguidos ou
sequer viraram presidentes? Talvez ele simplesmente produzia performativos mais
eficazes para o seu tempo. Como Lula tem feito, aliás, nos últimos 11 anos.
opinião ao debate sobre GHOST WRITER in: OS PRESIDENTES E SEUS GHOST WRITERS - BLOG DO NASSIF
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