Powered By Blogger

quarta-feira, 17 de abril de 2013

CARTA AO AMIGO BADO JACOBI: CRÍTICA E DEFESA DO QUERO QUERO


Caro amigo Bado eu devia te dizer algumas coisas mais sobre o debate de ontem.

Primeiro, eu creio que você não precisa criticar a gestão passada para ter o direito de criticar a atual. E eu acho que você fica fazendo isso por um motivo muito ruim: tentar se tornar imparcial, ou afastar-se de ser tendencioso. Não creio que você precise disso – para usar uma expressão maniqueísta e não perder a metáfora – para pagar a conta para o diabo, para poder criticá-lo, não precisa bater nos anjos, e é isso que você faz agindo desta forma. Mesmo que você não nos veja como anjos, o que é um direito seu e meu também. A justificativa que aparece ai seria muito ruim: olha estou batendo em você, mas também bati nos outros. E o único problema é quando você bate nos outros – ou em nós do PT - sem razão e sem argumentos, só por repetição ou ouvir dizer. Penso que isso é desnecessário mesmo. Até porque o teu quero-quero foi criado agora e tem legitimidade – como qualquer um, aliás, para criticar o que quiser, desde que o objeto da crítica seja real e não imaginário. Sei que você faz esse debate por diversão também e não tenho nada contra isto. A demo0cracia que a gente defende também aceita isto.

Segundo, eu acho completamente irrelevante que eu tenha que defender a gestão passada, mas você não a criticou aqui na época e era lá atrás que deveríamos ter recebido este tipo de crítica e eu também prefiro uma crítica mais objetiva do que genérica. Porque genérica não tem objetividade e só deixa no ar, Vá direto ao ponto, dê nomes aos bois se eles estiverem no campo, porque daí eles merecem mesmo e se sinta a vontade para fazê-lo. Hoje em dia não conheço nenhum político que não tenha uma penca de processos para responder e este é inclusive o ônus da administração pública, não pelos mal feitos, mas também por conta de denúncias e por conta de detalhes que as vezes são mais resultado de interpretação equivoca das leis ou também de simplificações na gestão ou mesmo ausencia de leis que regulamentem certas ações inerentes à função.  

Terceiro, a discussão de que o PT aparelha o estado é a mais absurda que eu conheço de todas as críticas que recebemos. Aliás, ela é uma crítica que curiosamente é a cantilena do PSDB contra o PT. Do mais simplório diretório do PSDB aos seus próceres mais notáveis, mas onde mesmo isso acontece? Em nossa gestão de São Leopoldo, eu vi pessoas manterem um pé em entidades e entrar no governo, mas isso foi muito criticado, chegando ao ponto da gente romper inclusive com alguns representantes de aliados internos e externos. E se foi criticado por nós isso significa que não somos favoráveis ao aparelhamento de entidades ou do estado. Mas como com cavalo burro não adianta açoite ou cutucão, até hoje algumas pessoas em diversos partidos acham isso completamente normal. É interessante isso em outro sentido também. Porque às vezes eu noto uma coisa muito ruim, até parece que o PT é o único partido que fez discurso ético e que, portanto, ele é o único que tem obrigações éticas e para os outros é um vale tudo. Não é isso que eu entendo mesmo. Acho que a discussão sobre a ética na política foi levantada e brandida mais por nós do que por muitos outros, mas não penso que isso deva ser uma exclusiva obrigação nossa. Hoje é uma exigência da democracia. Temos a lei da ficha limpa em vigência no pais e não preciso dizer que não é o nosso partido o campeão de ficha suja. Quanto ao exercício ético na política, penso que isso vale tanto para crimes tipificados em lei, quanto para as ações em geral dos políticos e dos cidadãos também.

Quarto, você pode até tentar, mas não há o lugar ou a cadeira que você procura sentar na mesa, aquela da imparcialidade e neutralidade, que fica além do bem e do mal. E você nem precisa ter esta cadeira para poder criticar o que está errado. Eu acho ótimo que pessoas de todos os partidos discutam de forma honesta e verdadeira os problemas da nossa cidade, independente de quem está na gestão. Mas para poder fazer isto não é preciso mesmo fazer onda de neutralidade ou esconder as simpatias políticas, sejam elas mais pessoais, sejam elas mais programáticas. Não tem problema algum se você gosta ou quer muito bem quem governa ou é secretário agora. É um direito seu mesmo. E eu não tenho dúvida de que devem haver pessoas legais neste governo, apesar dele não ser do meu partido e de que é muito cedo para julgar quem realmente é bom. Porque só no discurso não rola gestão mesmo. Meu problema fundamental com este governo é programático e também ideológico. Por outro lado, não há neutralidade alguma em omitir pelo menos quatro ou cinco grandes retrocessos que eles já estão cometendo agora, hoje, inclusive com você pelo que dizes. A saúde está muito pior agora. Voltaram a ocorrer situações de nepotismo agora. O racismo voltou a ser uma bandeira brandida por alguns simpatizantes deste governo. E muitos funcionários me relatam episódios de patrulhamento, perseguição política e um pacote de maldades em relação aos funcionários. Sem tratar aqui de desvios de competência profissional que corrigimos em nosso governo respeitando categorias profissionais e também sindicatos de servidores e de profissionais de diversas áreas. Omitir isto é signo de quem tem lado nesta história. Só vi você falando levemente sobre a saúde, e o que escuto agora nestes Cem Dias de governo não é sinal de quem vai resolver o problema mesmo. E eu sou um daquels que sabe que o problema da saúde não é o hospital mesmo. O problema do hospitale  da rede de saúde que agora se agrava é que falta médicos e este prefeito que é médico sequer isto conseguiu resolver ainda. Aliás, eu ando com trena e fita métrica no bolso o tempo todo, porque tudo que tem medida tem limites. Eu gostaria, por exemplo, que você defendesse os funcionários públicos porque sai governo e entra governo, e são eles é que mantém esta prefeitura mesmo e são fundamentais e devem ser muito mais respeitados. Liderar eles é fundamental para o bem da cidade e não se lidera com autoritarismo ou bandeirismo, ou favorecimento e casuísmo. Assim, como não se defende um governo ou se lidera uma cidade com patrulhamento ou perseguição política. Lamento que isto esteja acontecendo agora com o quero-quero. E lamento por você e pela cidade. Esta política do ódio não ajuda em nada e sequer sustenta qualquer governo. A pior fantasia que um governante pode ter nos dias de hoje e seus assessores e correligionários também, é de que vai manter o poder policiando, coagindo, contrangendo ou perseguindo as pessoas, seus conhecidos, seus amigos ou seus colegas. Eu, por exemplo, conheci muitas pessoas na administração passada. Criei amizades e desenvolvi muita tolerância inclusive. Aprendi muito com os servidores públicos e vi eles fazendo esforços desinteressados pela cidade. Atacar os servidores públicos ou os formadores de opinião é um grande erro. E você é sim um formador de opinião. Traz informações que muitos não tem e também levanta debates que outros não tem coragem de levantar e isto é ótimo para cidade e para o povo da cidade. Você ajuda a desafogar com o quero-quero o massacre que alguns sofrem e também os absurdos que alguns são constrangidos a assistir em silêncio. Um governante sábio não deixaria isto acontecer, porque isto é indefensável em qualquer situação.

Quinto, pior que o maniqueísmo é pretender estar acima dele, quando para isso se cometem erros e imprecisões - dai você pula da frigideira para o fogo - quer dizer você acaba caindo no simplismo. Dê a Cesar o que é de Cesar, mas não faça Cesar ter aquilo que não lhe é de direito ou responsabilidade. Penso, também, que esta tua pretensão é muito ruim para a política, porque o que você repete aqui é o erro de afirmar a tese de que político é tudo igual, que é a mesma tese daqueles que são contra a democracia, porque gostariam de ter um poder incontestável ou governar somente com os sábios e os cientistas. Nós abandonamos esta doutrina faz muito tempo já. Não porque ela não ajudou a construir o estado brasileiro ou gaúcho, mas porque ela foi ultrapassada pelos tempos. Esta doutrina foi o Positivismo e o Partido Republicano Riograndense (PRR) foi criado em 1882 com base nela e teve hegemonia política no Rio Grande do Sul por muito tempo. De Júlio de Castilhos a Getúlio Vargas. Eu e, provavelmente, todos os democratas deste pais, preferimos os erros dos políticos e do povo que os elege, do que os erros que não podem ser corrigidos, porque são cometidos por pessoas que tem poder absoluto ou conhecimento absoluto das coisas e que, por isto, são incontestáveis ou incorrigíveis. O tempo dos bacharéis e dos doutores já passou. Assim, para mim a democracia permite o exercício do princípio de correção, sem que a gente tenha que esperar o fim de uma dinastia, a morte de um gênio ou demagogo ou a queda do muro de Berlin para fazer a história mudar. Toda eleição é uma oportunidade para debatermos os rumos, os programas e mudarmos o que precisa ser mudado, desde que tenhamos na eleição programa e debates para apreciar e discutir, é claro. Mas você sabe qual era o programa do MOA? Tens uma cópia escrita dele? Pois é!!! Todo mundo erra e todo mundo pode um dia acertar. A história da ciência é uma coleção de erros que foram corrigidos ou descobertos. E na gestão pública também é assim. Então não existe uma garantia de que ninguém vai errar, mas o que se espera é que não se cometam erros já superados e um destes típicos erros é começar uma administração sem um programa, somente com a vontade de acertar. Eu acho isso uma coisa extremamente primária. Nenhum engenheiro constrói um prédio sem projeto e já está na hora dos candidatos a prefeito terem projetos e apresentá-los, porque quem está encomendando a casa que eles devem construir é o povo, não seus correligionários ou suas entidades de classe.

Sexto, eu não penso de forma maniqueísta sobre coisa alguma, muito menos politicamente - se é esta a ironia que você tentou imputar sobre mim. Ao contrário, conheço lobos e cordeiros de todos os partidos e conheço águias e urubus também, não é porque eu sou filiado no PT desde que me conheço por gente que eu ache que o PT é o céu ou o Deus encarnado nesta terra. Tenho mais concordância com o programa do que com muitas pessoas que estão nele - e hoje como sempre - não sou unanimidade no partido com minhas opiniões e nem quero ser. Aliás, faço sim uma avaliação bem dura dos nossos erros e não tenho mais necessidade de fazer isto exclusivamente no partido, até porque muita gente do meu partido constrói projetos e promove ações de tudo que é tipo sem – muitas vezes - nos consultar internamente também. Então não são as avaliações, críticas ou debates externos que me amendrontam ou me intimidam. Ao contrário, sempre que puder farei a crítica necessária e da forma mais honesta possível. Mas temos que combinar sim uma única coisa aqui nisto tudo: não se corrigem erros, cometendo mais erros. Sendo assim, para lá ou para cá, o erro dos outros não pode ser justificativa para os meus erros, e, inversamente, os meus erros não podem ser justificativa para os outros errarem também.  

Sétimo, apesar de admirar René Descartes, não defendo nenhuma tese dualista sobre coisa alguma. Não divido os homens em diabos e anjos. E toda vez que faço uma contraposição, procuro apenas tornar legíveis as diferenças e argumentar mais rapidamente, mas posso também classificar e interpretar com mais detalhes estas diferenças.

Um exemplo disto é o que se segue. Por anos acompanhei a história política de São Leopoldo, aproximadamente desde 1974 e 1976 e mais tarde. Nos últimos 8 anos me dediquei a estudar esta história em mais detalhes avançando até o século XIX, e ao primeiro período republicano de 1890 a 1945. Isto é, passei da fase da opinião para procurar ter conhecimento sobre as coisas que aconteceram nesta cidade. Aprendi com isto a respeitar muito mais tanto o Olímpio Albrecht, quanto o Waldir Schmidt para ficar em duas pessoas que fizeram política desde os anos 60 e 70, respectivamente. Assim, como conheço também a trajetória inteira do Henrique Prieto, os papéis coadjuvantes, importantes, mas passageiros, do Glodomiro Martins, Manoel Nunes, Ronaldo Ribas. Conheci pessoalmente diversos lideres políticos e ex-vereadores de São Leopoldo, conheci deputados de vários partidos passando por um Rosa Flores. Também conheci pessoas notáveis das quais me lembro com muito respeito como o Noel Maciel e também conheci diversos assessores políticos de muitas épocas. Sei, por exemplo, da história da formação política do PL desde os anos 20 que levou a Maria Emília de Paula a ser prefeita por um ano. E também sei que o André de Alexandri foi quase um prefeito por um dia, o que foi o mandato mais impugnável que já conheci na história política de São Leopoldo. Mas ele foi prefeito administrativo. Aquilo foi uma proeza jurídica, política e social que só se explica pela total hegemonia e supremacia real do Waldir no período e em todos os poderes da cidade.  Como diz um grande intelectual do PMDB, que foi meu professor e é meu grande amigo: “Se pegar, pegou”...e pegou. Estudei as crises que levaram, por exemplo, o PTB, em 1958-1959, a rachar entre Siegbert Saft e Brasil Camoretto Gall e, também, conheço alguns detalhes de bastidores da Ditadura Militar em São Leopoldo. Por uma questão biográfica e muito particular minha, tive sempre acesso e muitas vivências que me facilitaram a observação do que ocorria tanto no cenário quanto nos bastidores e, ao mesmo tempo, sempre procuro ampliar meus conhecimentos sobre a história política da cidade o que envolve conhecer as instituições sociais e de classe da cidade também. Em resumo, apesar de ter atuado no cenário e nos bastidores, respeito muito a história política desta cidade e a única coisa que eu peço é que os novos, aqueles que agora começam a ter experiência política, o façam com dignidade. E que os velhos aproveitem a sua larga experiência para respeitarem os sinais na pista e não incorrerem nos mesmo erros de outras épocas. Tenho a franca opinião de que não há nada mais vergonhoso do que uma pessoa andar de forma arrogante na rua e ser objeto da reprovação unânime dos seus concidadãos, como parece que vai começar a acontecer com alguns logo, logo.

Por fim, minha oitava letra, é um muito obrigado e vida longa ao QUERO-QUERO.

A democracia de São Leopoldo agradece.

São Leopoldo, 17 de abril de 2013.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário