Primeiro dar meus parabéns ao Compac e seus membros
atuantes que conseguiram impedir a demolição dos restos desta casa da Rua
Independência, número 314/316 – onde era até pouco tempo atrás a Relojoaria
Passini, ao lado da Tabacaria do Cândido, e onde já foi um dia a oficina
elétrica onde meu pai atendia (meados dos anos 70), e também a casa das meias e
o PV-Sinos também teve sua sede lá. Isto foi possível graças a primeira atitude
célere do Ministério Público e de um Juiz em relação a esta causa do Patrimônio
Histórico em São Leopoldo
de que tenho notícia. Portanto, é algo muito simbólico e importante entre outras
coisas.
Espero que se revertam as
barbaridades à caminho e que já eram peticionadas antes do governo Ary Vanazzi
se encerrar. Espero que o Compac seja mais respeitado por toda esta nova
administração municipal também, haja visto que o início do ano foi marcado
praticamente pelo enxotamento deste importante conselho do prédio da Prefeitura
Velha, impedindo o mesmo de se reunir neste espaço público. Iniciativa tomada
pela Procuradora Municipal provocada pelo Secretário Geral. Isto que marcou um
dos primeiros atos de desrespeito à sociedade civil e a entidades devidamente
credenciadas por parte da nova administração.
Espero também que esta valorosa
categoria profissional dos Arquitetos e Engenheiros se proponham a começar a
discutir a defesa do patrimônio histórico de São Leopoldo, através de medidas
de preservação, restauração e valorização da estética do imóveis históricos da
cidade. Seria ótimo que este segmento decisivo na cidade tivesse posição
condizente com sua formação e seus conhecimentos. É importante considerar isto
como uma forma de retribuição a esta cidade que abriga a universidade onde a
maior parte destes profissionais obteve sua s formação e também porque nenhum
projeto ou serviço de demolição, reforma ou ampliação ou restauração é
apresentado no município sem um arquiteto/engenheiro responsável e a respectiva
ART.
Tenho orgulho, por exemplo, de ver a
Universidade onde obtive formação - UFRGS - investindo em patrimônio histórico
com apoio dos alunos, professores, ex-alunos e de toda a comunidade
interessada. Lá trata-se de um projeto que se iniciou de forma decisiva no
início dos anos 90 e que já dá muitos frutos em preservação, conhecimento e
desenvolvimento de técnicas e conceitos para todos. E para se ver o resultado
disso, recomendo um tour àquela universidade.
Lamento profundamente que em minha
cidade natal onde a história deveria e poderia ser muito mais valorizada e
preservada, a ganância de herdeiros desesperados e incapazes de sobreviver sem
dilapidar suas heranças, negan-se simplesmente a possibilidade de atuar para
preservar suas heranças e patrimônios históricos e optam pela demolição dos
imóveis que dão testemunho de uma história magnífica que por eles é
profundamente desconhecida. E lamento também que quase toda uma geração de
engenheiros e arquitetos compactue com isso produzindo projetos que adulteram a
história, zeram o que há de significativo nesta cidade e façam obras que ao
mesmo tempo erguem prédios cuja arquitetura tem expressão nula do ponto de
vista criativo e construtivo. Vejo lojas esqueletos de dois pisos serem
erguidas com sistemas pré-montados, ali onde haviam casas com identidade
própria e história. Não vejo nenhuma solução de preservação, salvo raríssimas
exceções, e de restauração em lugar algum. E tudo se passa numa lógica
subjetiva confessada em quase todos os debates como se o único sujeito
responsável pela preservação é o poder executivo. Como se só coubesse a ele
restaurar prédios históricos. Assisto o jogo de Empurra do prédio da Câmara de
Vereadores que requer mais cuidados e investimentos em preservação e
restauração e também testemunhei argumentações das cabeças de planilha
levantando a hipótese de derrubada do Castelinho para desobstruir o fluxo na
avenida Dom João Becker. Se estes gênios do planejamento urbano se dedicarem
somente na viabilização da abertura da Avenida Tomas Edison e na construção da
quinta ponte já vão promover a desobstrução do trânsito e seria razoável também
abrir os eixos de transporte público norte/sul e sul/norte para outras vias
além da Saldanha da Gama e da Bento Gonçalves. Eliminado assim o X da Dom João
Becker que é causado pelo resistente tráfego de interesses por estas vias.
E é muito claro que este problema é
político, mas não é só político. As pessoas que fazem isto tem relações
econômicas e projetos econômicos absolutamente gananciosos e completamente
desinteressados em relação a qualidade de vida da cidade. Assim como também
vejo aqueles que deveriam defender os interesses públicos, da cultura, da
história e do respeito a memória fazendo vistas grossas e permitindo que os
interesses exclusivamente privados e econômicos tenham supremacia.
Um Monumento em homenagem a esta
mentalidade é o que aconteceu com o prédio na esquina das ruas Oswaldo Aranha e
Saldanha da Gama. O que é aquela Casa da Central? uma absurda demonstração de
que um lugar de garagem para dois ônibus, vale mais do que um prédio histórico,
com fachada original. E alguns acham que não adianta lutar? Penso que adianta
sim.
Nem que seja para dar testemunho e
registrar na memória de amigos e amigas isto que acontece de tal modo que na
próxima possibilidade de se reverter este quadro, se consiga finalmente optar
pela nossa cidade e não por alguns poucos janotas e exterminadores do passado.
São Leopoldo, a terra talvez mais pisada deste estado vai assim perdendo suas
história, assim, sem cerimônia, sem nenhuma consideração, apesar da vitória
parcial no prédio da Rua Independência.
A lei referida na matéria do jornal
VS foi concluída em 2012 com base em estudo da Unisinos – o Revita II, que
parte de um conjunto de posições do Conselho de Patrimônio Histórico desde sua
primeira versão de meados dos anos 80 - com o Prof. Telmo Lauro Muller e
outros, e também é elaborada a partir da Lista do Gaplan de 1991 (se não me
engano a data). Esta lei tem também as contribuições e ampla participação de
todos os membros do atual Conselho de Patrimônio Histórico e também do Conselho
do Plano Diretor Municipal, no qual o atual Secretário Geral tinha assento como
representante da Acis e do segmento empresarial. Este participou, inclusive,
com representantes de arquitetos e engenheiros, empreendedores imobiliários e
de entidades da sociedade civil organizada, da apreciação, revisão e discussão
do projeto de lei integral. só para auxiliar no esclarecimento...e além disso o
prédio é situado também em sítio histórico de projeto encaminhado ao IPHAE.
Assim, é importante dizer que em todas as iniciativas tomadas entre 2005 e 2012
houve ampla e democrática participação do COMPAC, que sempre funcionou em sua
plenitude respeitando seu regi mento e a legislação vigente.
Mas mesmo assim, há uma cultura
persistente em São
Leopoldo de demandar judicialmente contra o patrimônio
histórico.
Curiosamente esta cultura é
promovida por aqueles que enriqueceram em São Leopoldo na
condição de imigrantes que adquiriram seus diplomas universitários aqui, e
repito com o apanágio de herdeiros de cidadãos cuja história, valor cultural,
contribuição econômica e política é desconhecida e desvalorizada pelos seus
próprios herdeiros. Mas esta é uma luta que pode trazer ainda bons frutos econômicos
(turismo e qualidade de vida) e políticos porque se pode separar e dividir o
joio do trigo nesta cidade também a partir deste debate.
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