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domingo, 24 de março de 2013

SÃO LEOPOLDO EM DEMOLIÇÃO II: O EMBRAGO DA DEMOLIÇÃO DO PRÉDIO DA RUA INDEPENDÊNCIA 314/316


Primeiro dar meus parabéns ao Compac e seus membros atuantes que conseguiram impedir a demolição dos restos desta casa da Rua Independência, número 314/316 – onde era até pouco tempo atrás a Relojoaria Passini, ao lado da Tabacaria do Cândido, e onde já foi um dia a oficina elétrica onde meu pai atendia (meados dos anos 70), e também a casa das meias e o PV-Sinos também teve sua sede lá. Isto foi possível graças a primeira atitude célere do Ministério Público e de um Juiz em relação a esta causa do Patrimônio Histórico em São Leopoldo de que tenho notícia. Portanto, é algo muito simbólico e importante entre outras coisas.

Espero que se revertam as barbaridades à caminho e que já eram peticionadas antes do governo Ary Vanazzi se encerrar. Espero que o Compac seja mais respeitado por toda esta nova administração municipal também, haja visto que o início do ano foi marcado praticamente pelo enxotamento deste importante conselho do prédio da Prefeitura Velha, impedindo o mesmo de se reunir neste espaço público. Iniciativa tomada pela Procuradora Municipal provocada pelo Secretário Geral. Isto que marcou um dos primeiros atos de desrespeito à sociedade civil e a entidades devidamente credenciadas por parte da nova administração.

Espero também que esta valorosa categoria profissional dos Arquitetos e Engenheiros se proponham a começar a discutir a defesa do patrimônio histórico de São Leopoldo, através de medidas de preservação, restauração e valorização da estética do imóveis históricos da cidade. Seria ótimo que este segmento decisivo na cidade tivesse posição condizente com sua formação e seus conhecimentos. É importante considerar isto como uma forma de retribuição a esta cidade que abriga a universidade onde a maior parte destes profissionais obteve sua s formação e também porque nenhum projeto ou serviço de demolição, reforma ou ampliação ou restauração é apresentado no município sem um arquiteto/engenheiro responsável e a respectiva ART.

Tenho orgulho, por exemplo, de ver a Universidade onde obtive formação - UFRGS - investindo em patrimônio histórico com apoio dos alunos, professores, ex-alunos e de toda a comunidade interessada. Lá trata-se de um projeto que se iniciou de forma decisiva no início dos anos 90 e que já dá muitos frutos em preservação, conhecimento e desenvolvimento de técnicas e conceitos para todos. E para se ver o resultado disso, recomendo um tour àquela universidade.

Lamento profundamente que em minha cidade natal onde a história deveria e poderia ser muito mais valorizada e preservada, a ganância de herdeiros desesperados e incapazes de sobreviver sem dilapidar suas heranças, negan-se simplesmente a possibilidade de atuar para preservar suas heranças e patrimônios históricos e optam pela demolição dos imóveis que dão testemunho de uma história magnífica que por eles é profundamente desconhecida. E lamento também que quase toda uma geração de engenheiros e arquitetos compactue com isso produzindo projetos que adulteram a história, zeram o que há de significativo nesta cidade e façam obras que ao mesmo tempo erguem prédios cuja arquitetura tem expressão nula do ponto de vista criativo e construtivo. Vejo lojas esqueletos de dois pisos serem erguidas com sistemas pré-montados, ali onde haviam casas com identidade própria e história. Não vejo nenhuma solução de preservação, salvo raríssimas exceções, e de restauração em lugar algum. E tudo se passa numa lógica subjetiva confessada em quase todos os debates como se o único sujeito responsável pela preservação é o poder executivo. Como se só coubesse a ele restaurar prédios históricos. Assisto o jogo de Empurra do prédio da Câmara de Vereadores que requer mais cuidados e investimentos em preservação e restauração e também testemunhei argumentações das cabeças de planilha levantando a hipótese de derrubada do Castelinho para desobstruir o fluxo na avenida Dom João Becker. Se estes gênios do planejamento urbano se dedicarem somente na viabilização da abertura da Avenida Tomas Edison e na construção da quinta ponte já vão promover a desobstrução do trânsito e seria razoável também abrir os eixos de transporte público norte/sul e sul/norte para outras vias além da Saldanha da Gama e da Bento Gonçalves. Eliminado assim o X da Dom João Becker que é causado pelo resistente tráfego de interesses por estas vias.

E é muito claro que este problema é político, mas não é só político. As pessoas que fazem isto tem relações econômicas e projetos econômicos absolutamente gananciosos e completamente desinteressados em relação a qualidade de vida da cidade. Assim como também vejo aqueles que deveriam defender os interesses públicos, da cultura, da história e do respeito a memória fazendo vistas grossas e permitindo que os interesses exclusivamente privados e econômicos tenham supremacia.

Um Monumento em homenagem a esta mentalidade é o que aconteceu com o prédio na esquina das ruas Oswaldo Aranha e Saldanha da Gama. O que é aquela Casa da Central? uma absurda demonstração de que um lugar de garagem para dois ônibus, vale mais do que um prédio histórico, com fachada original. E alguns acham que não adianta lutar? Penso que adianta sim.

Nem que seja para dar testemunho e registrar na memória de amigos e amigas isto que acontece de tal modo que na próxima possibilidade de se reverter este quadro, se consiga finalmente optar pela nossa cidade e não por alguns poucos janotas e exterminadores do passado. São Leopoldo, a terra talvez mais pisada deste estado vai assim perdendo suas história, assim, sem cerimônia, sem nenhuma consideração, apesar da vitória parcial no prédio da Rua Independência.

A lei referida na matéria do jornal VS foi concluída em 2012 com base em estudo da Unisinos – o Revita II, que parte de um conjunto de posições do Conselho de Patrimônio Histórico desde sua primeira versão de meados dos anos 80 - com o Prof. Telmo Lauro Muller e outros, e também é elaborada a partir da Lista do Gaplan de 1991 (se não me engano a data). Esta lei tem também as contribuições e ampla participação de todos os membros do atual Conselho de Patrimônio Histórico e também do Conselho do Plano Diretor Municipal, no qual o atual Secretário Geral tinha assento como representante da Acis e do segmento empresarial. Este participou, inclusive, com representantes de arquitetos e engenheiros, empreendedores imobiliários e de entidades da sociedade civil organizada, da apreciação, revisão e discussão do projeto de lei integral. só para auxiliar no esclarecimento...e além disso o prédio é situado também em sítio histórico de projeto encaminhado ao IPHAE. Assim, é importante dizer que em todas as iniciativas tomadas entre 2005 e 2012 houve ampla e democrática participação do COMPAC, que sempre funcionou em sua plenitude respeitando seu regi mento e a legislação vigente.

Mas mesmo assim, há uma cultura persistente em São Leopoldo de demandar judicialmente contra o patrimônio histórico.

Curiosamente esta cultura é promovida por aqueles que enriqueceram em São Leopoldo na condição de imigrantes que adquiriram seus diplomas universitários aqui, e repito com o apanágio de herdeiros de cidadãos cuja história, valor cultural, contribuição econômica e política é desconhecida e desvalorizada pelos seus próprios herdeiros. Mas esta é uma luta que pode trazer ainda bons frutos econômicos (turismo e qualidade de vida) e políticos porque se pode separar e dividir o joio do trigo nesta cidade também a partir deste debate.

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