Tendo a discordar de um discurso que fala em perda de identidade em São Leopoldo devido ao progresso ou a perda de um passado ou dos bons tempos ou de uma malvada e perversa decadência da cidade. Em alguns aspectos este discurso é um saudosismo sem memória e sem conhecimento algum, apesar de ser expresso por nativos e por pessoas que olham para a história só vendo sua dimensão aparente e não estrutural.
Não creio que se trata ai de perda de identidade e penso, inclusive, que isto é uma incompreensão histórica da cidade também sobre as suas raízes. Tendo a dizer que deveríamos estudar mais elas para compreender porque a cidade tem esta diversidade e este permanente ar de choque cultural e de etnias. Isso porque estas identidades locais não são exclusivamente alemãs ou portuguesas. E quando se olha mais de perto a história da cidade, se visitam os seus cemitérios, se investigam seus jornais e revistas e muitos testemunhos, não vemos uma pureza de identidade, mas uma demonstração de uma grande diversidade étnica que aqui e ali se apresenta. Apesar de que devem ser reconhecidos os troncos majoritários e visto que eles são de afrodescendentes, portugueses e alemães, nesta ordem, é possível cindi-los em sub-troncos (e. gr. pelo viés religioso católicos e luteranos, cristãos novos, maçons, anglicanos, judeus e muitos outros) e ainda mais encontrar outras personagens e etnias para além destas três.
Não é sem razão que nos últimos exemplares do jornal VS vemos migrantes de diversas etnias que labutaram para a formação da cidade dando nomes a diversas ruas.
Sobre o mercado lojista da Rua Grande estas mudanças que hoje se vem, de desaparecimento de grandes lojas tradicionais da cidade, também são aceitáveis haja visto que um dia mesmo, no passado, todas estas grandes lojas tradicionais que sucumbiram foram também pequenos estabelecimentos e empórios em um tempo atrás..
São Leopoldo é uma cidade cujo setor econômico dominante é a área de serviços - praticamente 70% e estável, mesmo com todos os diferentes ciclos e modalidades de industrialização que já viveu, mas não é uma cidade pobre.
Esta cidade atrai migrantes ainda hoje e desde tempo antigos - seculo XIX e XX é referência regional estável e em nada prejudicada, seja por emancipações ou crises econômicas e políticas.
O detalhe notável para mim aqui é que ela expressa tudo isto com mais nitidez do que muitas outras cidades e é mais visível também, justamente, pelo seu mercado dominante ser o de serviços que envolve uma dinâmica externa maior e mais intensa ao mobilizar um grande número de pessoas em seu passeio público.
Se você por curiosidade ou por método resolver entrevistar as pessoas na Rua Grande vai descobrir que elas estão em trânsito, mas trabalhando.
E isto é uma afirmação bem forte, que é sintoma do tipo de economia desta cidade e não de outras..
E sempre foi assim, desde o longevo período em que a cidade era o centro das colonias alemãs e durante algum tempo também italianas da encosta da serra.
Falo disso com um misto de depoimento pessoal e de observação pelo fato de conhecer parte deste trânsito econômico e do mercado das trocas e serviços a partir de um local onde labutei durante quase dez anos, a Rodoviária Municipal.
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