Ninguém suporta por tanto tempo um estado de ambivalência da vontade. De querer e não querer. Você fica se distraindo em relação ao impasse ou às mudanças de humor, tentando usufruir do que há de bom na indecisão e na situação, mas aquilo vai te roendo por dentro e cada episódio de negação reforça teu instinto ou impulso para decidir. Mesmo que você não goste da decisão ou não queira sofrer você começa a pensar seriamente. Tens conseguido controlar tua raiva, mas não a dor e o vácuo que vão surgindo. A distância vai aumentando, os silêncios de repetem e você fica sem ação, com uma decepção te aborrecendo, mas tu sabes que não adianta dar muita voz ou vasão para ela. Não tens mais um endereço para enviar. Isto deve ser a solidão e mesmo que tenhas muitos à tua volta, cala e faz um meneio com a cabeça que já não é mais de contrariado, mas sim de um corpo que recebe mais uma contusão dolorosa, uma pancada. É assim que eu sinto todas estas coisas e de cada vez elas todas.
BLOG DO DANI
POLÍTICA, HISTÓRIA, FILOSOFIA, SOCIOLOGIA, DEMOCRACIA, DEMOGRAFIA, GEOGRAFIA, lITERATURA, POESIA E ARTE - TEXTOS PARA INFORMAR, DIVULGAR, LER E CRITICAR - Daniel Adams Boeira - 13 de junho de 2009 - daniel underline boeira arroba yahoo ponto com ponto br
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
O IMPULSO DE DAR SENTIDO ÀS COISAS
Mas fiquei pensando numa possível posição entre o "não sei" ou a negação e o "eu acredito nisso" ou "penso assim". Na verdade, fiquei relacionando isso às teorias ou tipos de teorias epistêmicas ou mesmo atitudes epistêmicas que, ao longo da história, tem sido dominantes sobre as nossas crenças.
Eu aceito a crítica a essa minha tendência a tentar dar sentido às coisas e às situações. Esse esforço psíquico - por assim dizer - que é muito persistente em mim de dar sentido a experiência em palavras, numa narrativa e com significado. É um habito adquirido que eu creio que tem me mantido equilibrado na vida e em todas as situações e que envolve um esforço de compreensão e aceitação da realidade. Me parece compensatório e me faz manter uma abordagem positiva das situações.
Aceito essa crítica, por que de fato de um ponto de vista afetivo é muito difícil dar sentido às perdas e ao sofrimento.
Não se fecha as questões da vida e da existência por decreto ou racionalização. Nenhum argumento explica a violência, o desamor, a dor e a morte. E os argumentos ou narrativas que explicam só dão conta da dimensão causal ou fatual, não do sentimento ou do modo como isso fica embolado em nossa cabeça ou trancado na garganta e roendo o nosso coração.
Eu entendo quando você diz que esse sentido ou narrativa não resolve. Porque penso que se eu me confrontar a mim mesmo com as narrativas que eu uso para assimilar ou acomodar as dores do mundo na minha experiência ou biografia, eu sei que posso erguer uma profunda e dolorosa dúvida e pôr abaixo o edifício inteiro da minha personalidade.
Eu fico imaginando que esse enfrentamento é o mesmo que nos coloca numa grande encruzilhada em que as opções são: racionalizações e imposição de um sentido construído com um esforço de compreensão, as mistificações ou construções religiosas ou psíquicas que nos levam a um esforço criativo e interpretativo em que a ficção e a credulidade ficam muito acima de uma racionalidade - que pode até chegar ou carregar para um dogmatismo ou fanatismo, e, por fim, o ceticismo mais negativo que rejeita absolutamente as duas opções anteriores, ou seja, nem a crença crítica e nem a crença desmedida resolvem a explicação da realidade. Uma, porque se satisfaz com pouco e oferece muito pouco e algo insuficiente para nós termos algum conforto, e a segunda porque aposta demais, para muito além dos limites de possibilidade de demonstração ou verificação.
Isso é uma das questões filosóficas - de fundo - mais centrais na história do pensamento humano. Mas temos bons exemplos em todos os três casos. E quase todos eles se resolvem por um único conceito ou juízo bem simples: opto por essa versão porque para mim é melhor assim, ou, para mim tal perspectiva me traz mais conforto.
Eu, por exemplo, adoto a racionalização e a construção de sentido, mas muitas vezes me relaciono com a mistificação e a credulidade e mesmo com a negação ou o ceticismo. É um processo dinâmico na minha cabeça. De fato, o que me ocorre é uma adaptação às três perspectivas dependendo de o quanto elas me trazem conforto. Sobre o término de uma análise disso com um juízo desse tipo: assim está bom, me sinto seguro assim, faz sentido assim ou assim posso esperar ou, em casos muito graves e difíceis, admito minha impotência e incapacidade de responder e aceito a negação ou a incerteza incorporando ela a esse lugar na minha vida ou experiência.
Parece que o sentido da negação e da desmedida são irmãos. Nesse último caso, eu aceito a melhor a minha falibilidade ou incapacidade, dou de ombros e me curvo ao imponderável e ao absurdo. Digo: tá legal, não consigo explicar, não há argumentos que resolvam, não posso fazer nada. E suspiro.
Eu acho que o Freud, por exemplo,
com a interpretação dos sonhos fica na linha de divisão entre as duas primeiras
posições. E, curiosamente, ele é muito autoconsciente disso. Com uma outra
característica que me chama muita atenção que é a de compreender muito bem no
seu pessimismo sobre o destino da humanidade nos anos vinte, em especial, sobre
O futuro de uma ilusão e Mal estar da civilização.
Não tenho escrito muito por
aqui...mas adoro ler os comentários dos amigos...sempre vem algo diferente ou
que melhora nosso humor e abordagem...agradeço sempre a participação quando vem
desta forma. E é tão bom poder falar de coisas sérias ou amenidades com serenidade
e sabedoria...sem aleivosia ou precipitações, sem rispidez ou grosseria...isso
aqui seria melhor se as pessoas tivessem uma orientação assim...agradeço muito
aqueles que entendem isto....
QUANDO OS HOMENS FALAM A VERDADE - CLIFFORD
"Os homens falam a verdade
uns aos outros quando cada um reverencia a verdade na sua mente e na mente do
outro; mas como é que o meu amigo reverenciará a verdade na minha mente quando
eu próprio sou descuidado com ela, quando acredito nas coisas porque eu quero.
Acreditar nelas, só porque são confortantes e agradáveis? Será que ele não
aprenderá a clamar, "Paz", para mim, quando não houver paz? Por tal
curso eu me rodearei de uma atmosfera espessa de falsidade e fraude, e nisso eu
devo viver. Pode pouco importar para mim, no meu castelo sob uma nuvem de doces
ilusões e mentiras queridas; mas importa muito para o Homem que eu tenha feito
os meus vizinhos prontos para enganar. O homem crédulo é pai do mentiroso e do
traidor; ele vive no peito desta sua família, e não é nenhuma maravilha se ele
deve tornar-se como eles são. Tão estreitamente estão os nossos deveres unidos,
que aquele que deve guardar toda a lei, se, no entanto, a ofender num único ponto,
ele será culpado por todos "
"A ética da crença", Clifford.
O FIM DE TODAS AS COISAS: NOTAS
“Ora, está muito próximo o fim de todas as coisas; portanto, tende bom senso e vigiai em oração. Antes de tudo, exercei profundo amor fraternal uns para com os outros, porquanto o amor cobre uma multidão de pecados...”
Pedro, 4:7-8. Bíblia Sagrada.
"Negamos as causa finais: se a existência tendesse a um fim a esse fim já teria atingido."
Nietzsche
Existem, com certeza e deve ser admitido em princípio, diversos modos de se observar a natureza das coisas. Estou dizendo observar aqui num sentido em que a nossa cognição, conhecimento os experiência sempre nos impõe uma certa maneira de dar atenção a algo, seja como apreensão sensível, seja como um certo produto da nossa imaginação em que a percepção é aquilo que nos faz compor essa imagem ou desenho.
Apreendemos, entretanto, e de um modo cuja distinção é clara
e evidente, que a partir da experiência podemos observar as coisas de modo
direto ou indireto. Essa consideração, porém, não basta para nos dar alguma
garantia definitiva e alguma certeza absoluta aos nossos conhecimentos sobre as
coisas, sobre a natureza das coisas e aquilo que elas são ou serão em um futuro
próximo ou num futuro mais remoto ou no passado e no presente que possamos
poder considerar. Isso, para muitos, é compreendido como uma limitação razoável
e por outros apenas um detalhe. Mas não é. A nossa linguagem permite discernir
com base em nossas experiência e dos modos de observação das coisas, da
natureza das coisas ou de todas as coisas que podemos fazer um repto temporal,
ou seja, podemos ver todas as coisas, a sua natureza e uma coisa, no passado,
no presente e no futuro de forma imediata ou remota, sendo o grau disso
regulado por nosso apelo a meios de chegar nas coisas ou em todas as coisas que
é dependente do maior ou do maior uso de instrumentos auxiliares e da nossa
própria imaginação. Essa perspectiva menos rígida por assim dizer, me parece
ser exatamente a perspectiva necessária para a metafísica e todas as nossas
especulações.
Ocorre que esse detalhe faz muita diferença, em especial,
quando procuramos com máximo esforço obter alguma pista sobre uma causa
primeira de todas as coisas ou sobre um final último para todas as coisas. Os
modos diretos ou indiretos de se observar as coisas e num grau maior de
observação todas as coisas nos levam a crer que a observação direta é sempre
imediata e abrangente, mas que somente a observação indireta e mediada pode nos
permitir observar ou se julgar que se observa todas as coisas em seu princípio
ou numa totalidade última e definitiva. Dentre as formas indiretas de se
observar as coisas constituímos com a ciência e com razoável esforço
especulativo muitas propostas de solução para certos problemas, interrogações
ou inquietações nossas. Já foi dito que é uma pretensão característica dos
filósofos e filosófas procurar observar todas as coisas, seja no seu passado
mais remoto e mais primordial, seja no seu futuro mais remoto e final. Essa
pretensão, desejo ou ambição à totalidade sempre foi considerada como ultrapassando
os limites do nosso conhecimento ou atingindo as fronteiras últimas do nosso
conhecimento.
É assim que quando consideramos como os primeiros filósofos, os grandes físicos e todos os cosmólogos e metafísicos ou poetas sobre a totalidade, nos vemos frente a questão de onde vem todas as coisas e para onde elas estão a se dirigir em seu movimento ao derradeiro ou só seu ciclo final. Nós humanos temos uma tendência derivada de nossa experiência existencial que é sempre temporal, mesmo que não façamos as contas do tempo, ou sempre desafiada pela finitude ou morte, mesmo que julgamos que a morte não seja o fim do nosso espírito, a pensar que haverá um final ou concerto final de todas as coisas. Essa consideração parece estar associada diretamente a um outro impulso característico da filosofia ou do nosso modo de contemplar o mundo, todas as coisas e as nossas vidas e a existência, deveria haver uma ordem ou harmonia ou certo modo de organização na natureza das coisas que nos permite racionalizar, discriminar, explicar e discernir como as coisas estão.
Mas há, podemos observar também, uma espécie de procura de um final feliz. Como personagens românticos que estivessem à deriva em um oceano a procura de uma ilha prometida ou do paraíso na terra.
Nosso impulso em busca de sentido nos leva tanto, portanto, para o caminho das religiões, como para o caminho da filosofia e da metafísica, quanto para o caminho da literatura e da poesia, bem como, para o caminho da ciência ou das ciências que com seus poderes sempre sendo renovados, fazem com que frente a frente nossa falta de sentido e nosso impulso em busca de sentido nos compensem sobre este mundo, todas as coisas, a natureza das coisas e essa ou aquela coisinha ou pedrinha que está no nosso caminho. Aqui se encontra talvez a resposta enviesada e incompleta da questão da possibilidade da metafísica como ciência.
Lar Doce Bar - filme imperdível
Para nós que somos adultos e temos consciência de nossa responsabilidade na educação de nossos filhos e também dos filhos de nossos amigos e conhecidos, mas também desconhecidos, é um lugar comum dizer que o bom exemplo, a boa vontade, o bom conselho e a firmeza tranquila e serena pode mudar a vida destes jovens. Para os professores e professoras mais ainda quando percebem a importância dos seus papeis humanizadores na educação dos jovens. No filme The Tender Bar, ou sua versão PT Lar doce bar, temos uma boa oportunidade para refletir sobre isso. O filme é um drama de 2021, dirigido com maestria e cuidados especiais por George Clooney, que além de bom ator tem se mostrado um diretor muito bom em explorar detalhes afetivos e subjetivos na direção de personagens exemplares e que precisam enfrentar as situações da vida. Neste filme a situação da vida é não ter um pai ou ter um pai cuja voz só se escuta no rádio. O texto do roteiro foi escrito por William Monahan em uma adaptação muito bem acentuada do livro de memórias com o mesmo nome do jornalista e escritor J. R. Moehringer. Ele narra a vida de Moehringer enquanto crescia em Long Island com a mãe na casa de seu avô e sob a vigilância carinhosa, afetiva e protetora de seu tio. Nesse sentido, é um filme cuja principal característica é apresentar um romance de formação de um jovem. O tio é representado muito bem por Ben Affleck como o tio Charles ou Chaz que faz às vezes de orientador na iniciação na vida masculina e de formação moral e cultural de seu sobrinho. Tye Sheridan que já tem interpretado outros personagens maravilhosos no cinema se apresenta como o JR adolescente e Daniel Ranieri, um ator cuja estréia promete, interpreta muito bem o JR menino. Lily Rabe interpreta a mãe cujo pai de JR abandonou e Christopher Lloyd como o avô maluquete, mas muito sábio e afetuoso. Temos aí um filme sensível, com uma ótima mensagem anti machista também e que mostra o quão importante um familiar e outros membros de uma comunidade de boa cabeça pode fazer bem e educar bem um menino. A mão conscienciosa e muito ponderada e generosa do Diretor Clooney em uma dinâmica muito boa com os atores aparece claramente. Vou deixar sem mais informações, recomendando que assistam no canal de Streeaming Prime Video. MB.
SOBRE MAPA DE CRENÇAS
O amigo e filósofo Gregory
Gaboardi (1), extremamente dedicado à epistemologia, escreveu uma postagem em
2017 citando David Malet Armstrong (2), com sua abordagem dinâmica sobre Mapa
de Crenças. Ele estava usando um texto de Armstrong, que eu não conhecia, sobre
o tema e esse aspecto dinâmico foi o que me saltou aos olhos. Hoje visto com
mais calma e distância e me beneficiando do seu tradutor quero um pouco tratar
disso. Penso que agora, passados alguns anos in progress – em 2019 escrevi
a base desse comentário - posso tecer algumas considerações mais longas sobre esse
tema que me persegue no estudo da filosofia. Vou começar citando Armstrong:
"Se pensarmos em crenças
como mapas, então podemos pensar na totalidade das crenças de um homem num
momento particular como um único grande mapa do qual as crenças individuais
são sub-mapas. O grande mapa abraçará todo o espaço e todo o tempo, passado,
presente e futuro, juntamente com qualquer outra coisa que ao crente demore
para existir, mas terá como ponto de referência central o eu presente do
crente. Mas não devemos pensar no grande mapa como o mapa de um cartógrafo
moderno da superficie da terra. Tal mapa é um mapa demasiado bom para ser uma
imagem adequada. (Não é só crença, é conhecimento.) O grande mapa de crenças
será muito parecido com os mapas antigos, contendo inumeráveis erros, fantasias
e vastos espaços em branco. Pode até envolver representações contraditórias de
porções do mundo. Este grande mapa, que está continuamente a ser adicionado
e continuamente a ser tirado enquanto o crente viver, é um mapa dentro
da sua mente."
D. M. Armstrong, grifos meus.
Fica clara a dimensão ou as múltiplas
dimensões dinâmicas desse mapa de crenças. De um lado, ele possui uma dimensão
temporal, de outro lado, que pode ser considerado relacionado à essa dimensão
temporal, esse mapa está continuamente em mudança e suas crenças sob apreciação,
adição e retiradas. As crenças são adicionadas ou retiradas, portanto, trata-se
de um mapa em aberto, com ingresso de novas crenças, com retirada de crenças e
com mutações de crenças.
Na descrição de Armstrong, além
disso, também podemos observar que nesse mapa de crenças temos crenças até
mesmo contraditórias. Podemos imaginar isso muito facilmente quando pensamos
que possuímos versões verdadeiras sobre os fatos e também versões ficcionais
sobre os fatos. A existência dessas crenças antagônicas ou sutilmente diversas sobre
os fatos estão depositadas “dentro da nossa mente”. Esse tipo de sacada de
Armstrong pode ser reconhecida por qualquer um de nós que se coloque a examinar
os conteúdos de suas próprias reflexões, opiniões ou conhecimentos. Alguns de
nós tem inclusive a capacidade de narrar as mudanças em suas próprias crenças a
respeito das coisas, dos fatos ou das pessoas ao longo da própria vida.
Entendemos isso perfeitamente bem
também quando lemos obras literárias, poesias ou mesmo ensaios e artigos em que
ao longo de um processo esses conteúdos complexos sofrem alterações de
vocabulário, estilo, narrativa e também de significado e modo ou forma de
construção. Percebemos isso também quando nos damos ao trabalho de colecionar,
por exemplo, traduções dos Sonetos de Shakespeare.
Na mente de um escritor ou
escritora, de um pesquisador ou pesquisadora, tradutor ou tradutora essas
variações são compatíveis e permanecem presentes no seu mapa de crenças, sendo
as mais recentes ou mais aperfeiçoadas ou consideradas melhores mais utilizadas
sem que, no entanto, na maior parte dos casos, este autor perca ou abandone em
seu mapa mental as outras versões. Lemos constantemente ou podemos ler relatos
de tradutores, autores, poetas ou mesmo cientistas sobre as mudanças de suas
crenças ao longo de um processo determinado.
Poderíamos avançar aqui em outros
exemplos, mas acredito que isto já basta para se ter uma ideia desse aspecto dinâmico
do Mapa de Crenças de cada um de nós. Ressalte-se, apenas, que isso não significa
que não escritores não colecionem também em seu mapa de crenças, crenças antagônicas
ou distintas no todo ou em detalhes em relação aos mesmos fatos, às mesmas
coisas e às suas próprias fantasias.
Tenho uma intuição geral forte
sobre este tema e essa imagem de Armstrong me ajuda muito a desenvolver essa
intuição aqui um pouco mais. Desde que li as Meditações de Descartes e, em
especial, a Primeira Meditação, pela primeira vez, tive um insight absurdo:
posso enumerar todas as minhas crenças? Minha resposta foi que posso começar a
anotar minhas crenças em um caderno. E em sequência imaginei que não conseguiria
enumerar todas as minhas crenças em um caderno. Mais tarde isso me conectou a
um outro insight a partir daquilo que poderia ser o que Wittgenstein chamava de
proposições elementares.
Tomando uma medida ou método
diverso do dele que simplifica em tipos de crenças por redução, podemos dizer
que Descartes faz na primeira Meditação, uma espécie de roteiro ordenado e
enumeração dos capítulos ou tipos possíveis das nossas crenças. Veja que quando
ele faz a exposição sistemática e geral do método da dúvida, ele faz isso por
tópicos, ou seja, em vez de refutar cada crença em especial ele opta por ir
metodicamente por partes e usa argumentos conhecidos para fazer isso atacando
por conjuntos ou capítulos certos tipos de crenças.
A ideia de um mapa das crenças de
Armstrong corresponde ao exemplo que eu usava para exemplificar a escolha de
Descartes. Você pode adotar um outro caminho para refutar suas crenças e chegar
ao “eu penso” como substrato final ou como pressuposto inegável ou uma crença
irrefutável - toda vez que a proferir em seu pensamento ou expressar ou simplesmente
erguer seu caderno de crenças e dizer: bem, algumas ou muitas podem estar
erradas, assim como não podem todas estarem certas, mas algumas crenças estão
certas neste caderninho ou nesse mapa de crenças.
Uso até hoje o exemplo do caderno
de crenças. Se você começar a anotar num Caderno tudo que acredita o trabalho
será quase infinito, mas por hipótese, vais aceitar que é possível fazer isso e
que algumas coisas que você coloca ali são tão óbvias ou quase irrefutáveis e
outras são deveras banais ou corrigíveis ou até já corrigidas mas continua ali
e são lembradas com ironia e humor por cada um de nós. Vais encontrar nessa
caminhada ou auto exame, crenças mais seguras, então, aquelas a que você dá
mais crédito e crenças mais instáveis, sutis ou sensíveis a uma ou outra forma
de refutação e outras que parecem ser carentes de alguma correção ou reparo. Em
todo caso, você pode fazer isso e pode, portanto, revisar suas crenças. Uma
curiosidade aqui é que mormente erros, incorreções ou imprecisões, essas
crenças equivocas não são simplesmente depositadas em uma lixeira e esquecidas.
Você pode não fiar mais nelas, mas elas permanecem no seu mapa mental de
crenças.
Não é difícil imaginar que com o
tempo, será uma tendência racional que você vai acabar por classificar essas
crenças em tipos de crenças e aos poucos vai acabar também tendo a capacidade
de as ir revisando. Você irá hierarquizar suas crenças ou ordenar suas crenças,
dividindo elas em crenças mais importantes ou prioritárias e crenças menos importantes
ou menos prioritárias. Ao longo da vida, e é no curso da vida que o pensamento
deve caminhar, você pode mudar o conteúdo desse caderno, despachar algumas
crenças e também corrigir essas crenças e construir novas crenças. Alguns
alunos e alunas mais entusiasmados chegaram mesmo a topar fazer isso e os
resultados foram incríveis porque boa parte deles acabou por me dizer que a
coisa mais importante nesse processo não era saber o que era seguro ou
inseguro, mas sim como algumas crenças seguras acabavam por estar relacionadas
a outras crenças que pareciam ser apenas definições ou decisões conceituais.
Tem aquele aluno que também pensou em algo como nós ou núcleos analíticos
espalhados no meio dessas crenças.
O mapa de crenças ou o caderno de
crenças parece explicitar uma exposição cartesiana de crenças no detalhe. Aqui
não se trata mais de usar um método da dúvida para encontrar a certeza, mas sim
o método da exposição das crenças para visualizar a rede ou a trama de crenças
que constitui o nosso horizonte e perspectiva epistêmica existencial. Algumas
crenças foram adquiridas por hábito, porque não havia ou fazia sentido ter
razões para duvidar no curso normal da vida. E assim fomos acumulando crenças
sobre crenças e formamos uma rede vasta de crenças. Algo que também me veio a
cabeça agora, foi o lugar dos sistemas filosóficos e o impacto deles nos
sistemas, mapas ou cadernos de crenças de um filósofo ou filósofa qualquer. É
de se pensar que esses sistemas acabam organizando em diversos níveis e dos
diversos tipos de crenças desse personagem. E não é assim que ocorre de fato?
Outro aspecto importante me
parece ser o fato de que: nossos mapas pessoais de crenças, tem conexões com os
mapas de outros indivíduos. Incluso, indivíduos que já não estão mais por aí.
Em certo sentido, todos nós temos uma certa consciência de crenças
compartilhadas e em muitos casos consciência de algumas fontes pessoais de
nossas próprias crenças que só são próprias porque as possuímos, mas nos foram
dadas e tiveram a sua origem em uma fonte exterior a nossas mentes.
Por fim, é preciso arguir aqui,
porém, que algumas crenças são absolutamente pessoais. Suas fontes não são externas.
Nós as criamos e produzimos por própria reflexão e intuição. Ou seja, nós
produzimos crenças também por interpretação e por uma espécie de jogo de busca
de sentido e significado, narrativa e compreensão sobre as coisas, os fatos e
as pessoas. E essas crenças também podem possuir valores de verdade especiais
ou aguardarem confirmação, correção ou refutação no nosso jogo amplo da vida e
da busca de sentido da vida.
Obs.: O mapa de crenças pode
corresponder a um caderno de crenças ou a um sistema de crenças. Mas deve haver
uma espécie de dinâmica entre crenças rígidas e crenças moles, crenças mais
estáveis e crenças que vão mudando de conteúdo a partir de sua situação no
mapa, localização ou de suplementação de informações. Vou dar um exemplo
simples aqui. A Revolução Farroupilha é um episódio histórico que não somente
faz parte do imaginário simbólico dos gaúchos e gaúchas – ainda que existam
gaúchos e gaúchas que não dão a mínima para isso, mas que tem gerado muitas
controvérsias e polêmicas no último período. Creio que vale examinar isso sob
as luzes de um mapa de crenças compartilhados socialmente que sofre abalos
pontuais e no todo. Isto é, há uma disputa sobre a conformação das crenças a
respeito desse episódio histórico. A única pergunta que me surge é como
corrigir crenças equivocadas ou mal informadas sobre esse episódio, sem gerar,
apenas resistência e/ou uma guerra do osso cujo resultado é soma zero.
(1) Gregory
Gaboardi.
(2) Mapa
de Crenças.
(3) David
Malet Armstrong.
(4) Rene
Descartes
(5) Ludwig
Wittgenstein
“A PRIMEIRA VITIMA DE UMA GUERRA É A VERDADE”
Assistir ao filme Munique: no limite da guerra, pela Netflix, gera uma sensação estranha, um certo Deja Vü, do tipo já vi esse filme antes. Aquela complacência burocrática e encenada com o modo como os cuidados com a Paz e as possibilidades de uma guerra, eram tratados e são tratados pelos líderes das nações e seus staffs. No caso deste filme, o modo como as grandes potências européias no século XX tratavam esses assuntos aparentemente triviais e cotidianos, de tal modo que nenhuma dramatização parece fazer sentido, quando o que ocorre de fato é uma marcha quase combinada de ambos os lados para a insensatez e a barbárie, o terror e o sac5rifício de inocentes com uma complacência cerimoniosa.
Não é uma sensação distante aliás
daquela que temos quando vemos a história da relação entre os EUA e a URSS ou
hoje EUA e Rússia sobre a Ucrânia ou com
o Oriente Médio ou as Repúblicas próximas ou seus quintais, incluso Balcãs,
Cáucaso, África, América Latina e alhures. Essa sensação nos faz associar
diretamente esse modo com a gigantesca carnificina ocorrida durante todo o
Século XX e que prosseguiu nas duas primeiras décadas do Século XXI. E nos faz
pensar nas responsabilidades e impunidades.
A coisa é tão facilitada, sem ONU
ou com ONU, que parece haver no ar uma espécie de diálogo onipresente e de
consentimento nas cabeças dos líderes dessas grandes potências globais ou
regionais: ah, guerra ali? Vai lá e faz. Simples assim. E esse é o modo padrão como
as potências regionais ou globais lidam com os países vizinhos, próximos, um
pouco distantes ou nas suas áreas de influência e interesses. Simplesmente
mandam ver e combinam antes, numa espécie de diplomacia de encenação.
Veja bem, que antes mesmo da
primeira guerra mundial, em meio a ela, depois dela, na segunda guerra mundial,
na guerra fria e a partir dos anos 90 até os dias de hoje essa é a dinâmica
padrão dos Foreign Affairs. Fazer guerra no início do século só dependia de construir
uma narrativa a priori ou sobre um determinado pretexto ou interesse
inegociável, indepoendentemente da sua legimidade e de alguma contestação, ou
então como é muito corrente hoje, a posteriori e impor essa narrativa criando
um ambiente de tal modo que pareceria razoável a qualquer observador, excluso
os povos desses países e as futuras vítimas civis e alguns observadores
idealistas internacionais, tudo bem, faz um arranjo aqui e ali, constrói um
discurso de legitimação e vai lá e faz. Ou seja, o velho ditado de que a
primeira vítima da guerra é a verdade, foi longamente aperfeiçoado no século XX
e hoje mudou de categoria passou de um enunciado constatativo para um enunciado
condicional. Essa mudança deveria deixar arrepiado qualquer cidadão e cidadã
desse planeta.
Assim, passamos sem a ONU de um
Constatativo:
A primeira vítima da guerra é a
verdade.
Para, com a ONU e o atual, amplo
e disseminado sistema de informações para um Condicional:
Se queres uma guerra, produza uma
mentira.
Alguém poderá pensar que estou
aqui sendo ingênuo ou desconhecendo as razões de estado ou que tenho
dificuldade para compreender a história. Porém, quando olhamos para o
Afeganistão e sabemos, só para variar um pouco o foco, que Osama Bin Laden e a
Al Qaeda foram o pretexto para aquela invasão e sabemos que a CIA e, portanto,
o governo americano teve em mãos já o endereço de Osama Bin Laden em Tora Bora
já em dezembro de 2001, para encerrar qualquer iniciativa de invasão ou de
guerra continuada no Afeganistão, mas negligenciou isso. Que o mesmo governo
apresentou a comunidade internacional a mentira de que Sadan Hussein possuía
armas de execução em massa, como justificativa para mais uma vez ir lá no
Iraque e destruir as vidas daquele povo.
O filme que me levou a enunciar
isso hoje aqui, narra com pinceladas de ficção e elementos de realidade
histórica um episódio diplomático decisivo que antecede a Segunda Guerra
Mundial. As pinceladas de ficção ficam por conta de algumas personagens que
seriam o elo de ligação na trama. Dois ex-colegas de Oxford, um alemão e outro
inglês, que se reencontram participando cada um deles nos dois lados opostos
das negociações do Acordo de Munique.
Dei mais atenção, porém, ao
assistir o filme a caracterização das personagens reais e concretas e para uma espécie de tentativa
de atenuação da responsabilidade ou erro de Neville Chamberlain na forma como
encarou Hitler. Haveria uma razão para isso, segundo a versão autoral dos
fatos. Neville Chamberlain estaria retardando o inicio da guerra para permitir
algum preparativo do seu lado e ir, por assim dizer, “levando no bico” o líder
alemão. Como se houvesse uma grande astúcia e um velho sabujo por trás dessa
estratégia de apaziguamento.
A interpretação de Jeremi Irons é
muito boa e permite, não apenas pela verossimilhança, mas mesmo pela
caracterização e o timing racional do ex-primeiro ministro inglês, identificar
a dimensão da mentira no preambulo da segunda guerra. É evidente que Neville
estava errado na estratégia de apaziguamento em relação a Hitler. Ele estava
tentando negociar até o limite com uma fera indômita, desconsiderando todos os
claros sinais de fanatismo e de fascismo que marcavam a atuação de Hitler, num
momento em que os judeus já eram perseguidos e em que a Alemanha Nazista já
tinha anexado a Áustria na Anchluss. Ou seja, num momento em que não poderia
mais subsistir nenhuma dúvida sobre as pretensões beligerantes e expansionistas
de Hitler.
Tendo a considerar que além de um
imperialista ensimesmado e conservador, ele possuía alguma espécie de complexo
de inferioridade em relação ao irmão seis anos mais velho já falecido na época,
um ano antes para ser mais exato. Porque, é justamente sobre a memória notável
dele que Neville procura promover uma ação diplomática exitosa com os alemães e
italianos. Austen colheu um Prêmio Nobel da Paz, já Neville a Segunda Guerra
Mundial. Vejamos um pouco disso aqui.
O irmão de Neville, Austen
Chamberlain que permaneceu 45 anos na Casa dos Comuns, havia recebido o Prêmio
Nobel da Paz em 1925, junto de seus companheiros de ações diplomáticas pelos oito
tratados de Locarno, assinados entre Alemanha, França, Inglaterra e Itália e
outros países para suplementar e reajustar os nefastos acordos ou tratados do
pós guerra. Ele era inventor de uma certa estratégia que pode ser a matriz da
estratégia usada por Neville “arranjos especiais para atender a necessidades
especiais”, criando uma espécie de regra de excepção para certos tratados. Não
sou um especialista nesse tema, mas acredito que não há como explicar as ações
de Neville sem esse pano de fundo em tela. E basta uma simples pesquisa para se
verificar as conexões entre o Tratado de Locarno e o Tratado de Munique. Sendo
o tratado de Munique algo como um reajuste do anterior mais ao sabor e gosto
dos interesses alemães, nazistas, e também italianos, fascistas.
Neville, como é retratado no
filme, parecia ser muito vaidoso e despreocupado em relação a operações de
inteligência e de espionagem ou contra espionagem, se sentindo superior na
estratégia a qualquer vantagem que pudesse ser retirada a partir da
inteligência. Se tem uma coisa que o filme mostra é que ele realmente optou por
um resultado diplomático imediato, contra uma política de longo prazo e
sustentada. Ele estava esticando a corda com Hitler ao máximo. Porém, o filme
apresenta também e mais uma vez a hipótese ou alternativa histórica de que uma
rejeição inglesa e francesa nas negociações enfraqueceria Hitler e fortaleceria
certa facção de militares de carreira alemães que gostariam de afastar Hitler
do poder. A dimensão histórica aqui mistura a característica irônica dessa
hipótese. E a personagem de Neville de certa forma expressa isso: nada deteria
Hitler, o máximo que se pode fazer é dissimular nossa objeção a ele e aguardar
um tempo melhor para enfrentar ele.
Todo mundo sabe que isso apenas
facilitou a invasão da Polônia e moto continuo a deflagração da guerra em
setembro do ano seguinte. Dando um ar de legitimidade as pretensões de Hitler
sobre os Sudetos e, portanto, admitindo as ambições expansionistas dele. A
teoria da busca de ampliação do espaço vital não uma quimera, é a própria
lógica imperial nazista levada as suas últimas consequências que envolve não
somente tomar um espaço, mas saquear esses territórios e submeter as populações
desses lugares a sua opressão étnica e social.
Churchill depois faz a metáfora
mortal dessa política de apaziguamento: colocaram a cabeça na boca de um leão
faminto e esperaram que ele não os devorasse? Foi de fato um erro. Acredito que
a vantagem desse firme é praticamente colocar a peça nesse episódio que faltava
e completar a grande narrativa ainda que cheia de dissonâncias sobre a
perspectiva inglesa da Segunda Guerra. Completa Dunkirk, Churchill e alguns
outros filmes.
Sobre a falta de uma Otan e a
questão de um staff estratégico a altura, chega a irritar ver a empáfia maníaca
da elite inglesa em relação ao processo histórico que estão enfrentando. As
cenas da hora do chá, o “não tratar disso agora”, o retardamento de informações
e mesmo observarmos que um assunto tão grave dependia de um staff limitado e
pedante, arrogante e torpe.
Por fim, a caracterização de
Hitler faz uma importante contribuição em desvendar sua força de
constrangimento contra um jovem que, por hipótese ou ficção, poderia ter
liquidado com ele. Pode não ter existido essa personagem, mas com certeza
diversos outros que passaram de admiradores a conspiradores contra ele, também
se sentiram constrangidos e demovidos de promover algo contra esse monstro.
Isso também aconteceu com Stalin.
É triste se perceber como é fácil
matar Gandhi, Luther King, etc, e quase impossível matar uma criatura dessas e
isso não é assim por um sistema de proteção erguido sob paranóia persecutória
sistemática, mas por certa caraterística da personagem que parece tornar esse
tipo quase inatingível. Os tiranos, em geral, quando são assassinados, o são
antes de terem o poder ou imediatamente depois de perder o poder, quase jamais
no exercício de seus mandatos. Aproveitei para esboçar parte de um longo
comentário sobre o filme que começaria com "a primeira vítima de uma guerra
é a verdade". E terminaria com a versão retórica de Churchill que era a
única resposta tática possível às consequências nefastas desse acordo de
Munique e a essa política de apaziguamento dos conservadores, que também
sofriam influência, é bom que se diga, de simpatizantes ingleses da política de
Hitler.
TENTANDO DAR SENTIDO E VALOR ÀS NOSSAS VIDAS
Cada um de nós, especialmente
aqui, dos que nos lêem nessas digressões filosóficas e humanas, demasiadamente
e simplesmente humanas, está tentando dar sentido às suas vidas, às pequenas e
às grandes coisas que nos ocupam.
Nossos trabalhos, nossas
leituras, nossas anotações, nossas relações, nossos discursos e narrativas e
nossas ações, enfim, nossos gestos e palavras são para nós a única forma de
fazer isso. E me parece que não há nada mais digno do que isso e nem nada mais
difícil do que isso, quando o mundo à nossa volta parece estar forra dos gonzos
e girando sem sentido algum, muitas pessoas à nossa volta nos assombram porque
parecem não ter um sentido e um sentimento comum.
Abrimos um aplicativo, lemos uma
notícia, olhamos para o lado, para a nossa frente e também para o presente e o
futuro e parece que o sentido desmorona, parece que o sentido está sendo
destruído perversamente e com brutalidades intoleráveis e insuportáveis. O
sentido, nessa percepção do mundo, procura nos escapar como se dissesse aqui
não, aqui não é mais possível, aqui não dá ou aqui falta muita coisa para um
simples e singelo sentido, sentimento ou sensibilidade.
Nossa busca de sentido se choca o
tempo todo ou no mais das vezes com uma brutalidade mundana que nos violenta e
nos agride.
Sinto como se o Mito de Sísifo fosse
encenado e reencenado até mesmo nas pequenas coisas, nos detalhes e em contatos
mesmo que rápidos com outros. E, eis que então, volto a um esforço de extrema
boa vontade para dar sentido e fazer sentido, apesar de tudo.
Muitas vezes falamos em
resistência e resiliência e parece mesmo que tentar dar sentido a tudo isso é
um grande combate, até mesmo contra si mesmo e seus próprios sentimentos.
Mas a gente consegue, e quando
consegue o sentido nos fortalece e nos inspira em continuar, por mais difícil e
mesmo pequeno que ele pareça. Um pequeno sentido vale, enfim muito mais que
toda grande desolação ou sofrimento que nos toca, que vivenciamos ou
testemunhamos dolorosamente e pesarosamente.
E assim, por mais perigosa que
pareça toda essa situação, por maior que seja a desesperança, persistimos, não
desistimos e prosseguimos, com uma vela acesa a iluminar cada pequeno sentido
conquistado diariamente que acaba nos dando força e luz para atingir o próximo
em seu coração e sua mente.
Parece ser preciso repetir a todo
enfrentamento e desalento esse ato de persistência e determinação em dar
sentido a algo apesar do caos e do ranger dos gonzos desse mundo que nos
ensurdece e nos obriga a cantar no tom apesar de toda a perturbação.
E conseguimos, persistimos mais
uma vez e de novo tentando dar sentido, como nessa luta com as palavras, como
um tapete que precisa sempre ser refeito para se escapar de todo mal e de toda
a perdição que nos ronda e nos cerca nesses dias de tempos tão sombrios e
tristes.
E quando encontramos esse sentido
que nos faz tecer mais uma linha ou ligação entre o passado e o futuro, nesse
presente, nos levantamos e sobrevivemos ajudando mais e mais amigos e amigas
como nós a andar nesse vale de lágrimas e apoiar aqueles que precisam uma gota
de orvalho para saciar a sede pelo sentido e por um bom sentimento.
terça-feira, 27 de dezembro de 2022
A LIBERDADE EXISTENCIAL
A sua vida é sua. Aprender isso é uma descoberta que pode
demorar tempo demais. E nossa liberdade está em risco, antes disso acontecer. E
pela nossa liberdade, a nossa forma de existência também depende disso. Talvez
a maior liberdade humana ou a se conquistar seja de fato decidir exatamente o
que fazer de sua vida e como ou com que se ocupar nela ou no tempo que ela
durar. Isso talvez nos imponha mais respeito com aqueles que se botam a se
ocupar somente de si mesmos. O cuidado de si deveria ser a primeira lição das
nossas vidas e quem cuida da gente ou nos educa deveria dar certa ênfase
contínua, constante e sistemática nesse assunto. Cuidar de si mesmo talvez seja
a tarefa número um de nossa existência. Todo o mais vem depois. Aprender isso
de verdade pode nos tornar de falto melhores aos nossos olhos, pode nos deixar
mais honrados e mais humildes também, mas também poderia servir de exemplo para
outros que não cuidam direito nem de uma coisa - de si mesmos, nem de outra
coisa, do mundo ou das outras pessoas. Essa é uma luz que pode não ser forte o
suficiente para nos despertar, mas que quando é vista, nos dá um conforto muito
próprio.
SARTRE SOLITÁRIO
"O homem não pode querer, a menos que tenha compreendido primeiro que não pode contar com nada além de si mesmo: que está sozinho, deixado sozinho na terra no meio das suas infinitas responsabilidades, sem ajuda nem socorro, sem outro objetivo senão aquele que ele irá definir r ele mesmo, sem não outro destino, mas aquele que ele irá forjar nesta terra. É essa certeza, essa compreensão intuitiva da sua situação, que chamamos desespero. Pode ver que não é um frenesim romântico fino, mas a consciência afiada e lúcida da condição humana. Assim como a angústia é indistinguível de um sentido de responsabilidade, o desespero é inseparável da vontade. Com o desespero, o verdadeiro otimismo começa: o otimismo do homem que nada espera, que sabe que não tem direitos e nada lhe chega, que se alegra em contar somente consigo mesmo e em agir sozinho para o bem de todos."
Livro: Os Escritos de Jean-Paul Sartre.
DAVID HUME & O NOSSO HUMOR PARA SOBREVIVER
David Hume foi um aventureiro filosófico bafejado pela sorte e por uma espécie de jogo oscilante de ocasiões difíceis, sucedido por êxitos quase inacreditáveis.
Foi, após um colapso nervoso, que o jovem Hume iniciou a
escritura do seu livro mais célebre e notável. O Tratado da Natureza Humana,
recomendável a todos e todas que amam a filosofia, em especial a boa filosofia de
língua inglesa, que já era esboçado pelo jovem com apenas 23 anos.
Curiosamente, boa parte das imagens ou pinturas que temos
dele são tardias. Um homem volumoso e quase mastodôntico, para poupar outros
adjetivos.
E é por isso que vaguei procurando uma imagem do jovem muito
ágil nas ideias e veloz e preciso nos pensamentos e argumentos. O que eu
encontrei, mais semelhante ao que buscava, é esta aqui publicada. Nela, ele
parece já ter seus 30 anos. Nota-se o olhar arguto e bem humorado com certa
tendência às profundidades, para além das superfícies.
E é preciso muita agilidade intelectual para repentinamente
saltar a outro aspecto ou outra perspectiva das questões.
E os exemplos dessa agilidade e ligeireza, quase singeleza,
de uma simplicidade lacônica e muitas vezes irrefutável estão em toda parte da
sua obra, que vai da juventude aos seus últimos dias.
A obra de Hume é praticamente um oceano recheado de belas
conchas que carregam pérolas de diversos tamanhos. Dá para fazer uma coleção de
colares de pérolas filosóficos em praticamente todas as áreas do pensamento. Da
lógica à metafísica, da ética à epistemologia, passando pela política e também
por diversas outras curiosidades a que muitos e muitas dedicam seus pensamentos
e reflexões, investigações e inquirições.
O Sol vai nascer amanhã? Poderia perguntar qualquer jovem
contemplando o entardecer. Hume avança sobre essa questão com a segurança de um
velho sábio que sabe o quanto a vida e o curso dos fatos e acontecimentos é
imprevisível, fugaz e pode ser surpreendente. Talvez, não há nada que garanta
isso de um ponto de vista lógico, a não ser a nossa crença no curso repetido
dos acontecimentos. E está crença se regozija quando eles se repetem e a gente
se sente sapiente e esperto quando isso acontece. Porém, pode ser diferente.
Para terminar, como termina esse ano de 2023, da Graça de
Nosso Senhor, vamos ler rapidamente uma descrição do Cético por Hume, que
alguns amigos e amigas consideram uma autodescrição e que para mim é um exemplo
de o quanto o nosso pensamento pode nos levar a uma entre outras perspectivas
diferentes sobre a vida, sobre as regras da vida e nosso modo de encarar ela
num jogo continuo, em que a sorte e a circunstância nos testam como num jogo. E
nesse jogo nosso temperamento e humor são chaves cruciais para o modo de
enfrentar tudo, venha como vier, seja como for, esteja como estiver.
D'O Cético
«Em suma, a vida humana é mais governada pela sorte do que
pela razão; há que vê-la mais como um passatempo maçante do que como uma
ocupação séria; e ela é mais influenciada pelo temperamento de cada um do que
por princípios gerais. Deveremos aplicar-nos na vida com paixão e ansiedade?
Ela não merece tanta preocupação. Deveremos ser indiferentes ao que aconteça?
Com a nossa fleuma e desatenção, perderíamos todo o prazer do jogo. Enquanto
pensamos sobre a vida, a vida foi-se; e a morte, embora talvez seja recebida
diversamente pelo tolo e pelo filósofo, trata-os da mesma maneira. Reduzir a
vida a uma regra e a um método exactos costuma ser uma ocupação desagradável e
frequentemente infecunda. E não constituirá também uma prova de que damos valor
a mais ao prémio pelo qual nos batemos? Mesmo meditar com tanto cuidado sobre a
vida, e definir precisamente a sua justa ideia, seria sobrevalorizá-la, não
fosse esta ocupação, para alguns temperamentos, uma das mais divertidas em que
podemos empregá-la.» (David Hume),
Extraído do post do
Professor Eduardo Vicentini de Medeiros.
Meu grande amigo a quem homenageio junto de todos os demais amigos e amigas que
se dedicam à filosofar e à educar para o filosofar.
Ah....o fundo vermelho é acidental ou talvez, melhor
dizendo, fortuito.
Feliz Natal
domingo, 5 de junho de 2022
R.I.P. ARY MOURA – 1954-2022
R.I.P. ARY MOURA – 1954-2022
O Leão Trabalhista
Lá se vai para uma outra
dimensão, nosso companheiro de lutas, disputas, vitórias e muitas alegrias. Merece meu testemunho esse
cidadão que foi um verdadeiro Leão Trabalhista e Democrata.
Conheci Ary Moura muito jovem,
numa peleia política em que estávamos de um lado com meus companheiros e ele e
seus então companheiros de outro lado. Foi uma disputa de época no movimento
estudantil leopoldense. Ary era um adversário duro, intrépido e extremamente
organizado.
Nós perdemos aquela disputa pela
UESLE, lá no início dos anos 80, mas de lá para cá, tirando as eventuais
disputas eleitorais que duraram até aproximadamente 2000, sempre tivemos uma
espécie de acordo tácito, daqueles que sabem de que lado estão da história e
com o passar do tempo, calhou de sermos no mais das vezes aliados em
praticamente todas as questões e debates. E nunca foi uma aliança pessoal ou de
interesses pessoais. Ary Moura foi a vida inteira um homem de partido e de
fidelidade partidária, algo muito importante quando vemos isso no quadro maior
da história de São Leopoldo. Eu o tinha como um amigo e um excelente parceiro
de prosa, diálogo e muito bom humor. Vou sentir muita falta da sua presença de
espírito e firmeza.
Sei que muitos sentiram a dureza
dele nas disputas, mas sei também que por mais duro que ele tenha sido, sempre
foi leal, jamais promoveu vendetas insensatas, nunca atuou de modo a conquistar
inimigos ou adversários venais. Veio para São Leopoldo como milhares de jovens
vieram entre os anos 70 e os anos 80 em busca de uma educação de qualidade,
trabalho e para conquistar e construir a sua cidadania. E conseguiu tudo isso.
Fundou um partido político com Brizola e muitos outros, se transformou em um
advogado respeitado em todos os foros, foi um político e um gestor público
muito produtivo e criou uma família, conquistou amigos e construiu a cidadania
em São Leopoldo em diversos espaços de atuação, que vão da modesta associação
de bairro, passando pelo time de futebol, pela escola de samba, pelo centro de
tradições gauchescas e também em todos os cantos da cidade onde sempre foi bem
recebido e bem vindo.
Sei que ao longo desses mais de
45 anos, o amigo Ary ajudou muitas pessoas, tanto como advogado quanto como
político. Se destaca na trajetória desse amigo a capacidade marcante em todos
os bons políticos em reconhecer os cidadãos e as cidadãs e também uma
característica fundamental para aqueles que buscam fazer política: Ary Moura
gostava de gente e tinha gosto por tratar bem as pessoas. Assim, apesar da
dureza de qualquer disputa, era um homem de bom coração, afável e muito gentil.
Conosco, do Partido dos
Trabalhadores, sempre teve uma atitude firme, mas em muitos momentos foi
generoso e grandioso em suas posições. De tal modo que contribuiu decisivamente
para essa cidade receber políticas públicas e milhares de cidadãos e cidadãs
devem a iniciativa dele e a sabedoria política dele, o fato de terem melhorado
de vida nessa cidade, tanto com os governos do PDT, quanto com os governos do
PT.
Ary Moura merece todas as
homenagens e seus familiares que se despedem dele hoje, com seus
correligionários e aliados políticos e mesmo com seus adversários que são
capazes de superar ressentimentos ou desentendimentos, merecem um grande e
fraterno abraço. Perdemos um grande e corajoso irmão da história política de
São Leopoldo hoje e que todos tenham conforto em seus corações, porque a luta
continua e a nossa luta precisa muito de fraternidade e solidariedade para ser
efetivamente vitoriosa e mudar de fato a vida do povo. E nós vamos continuar
nessa luta!
sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
O FOGO E A LENHA
O FOGO E A LENHA
Plutarco saca aqui duas grandes
linhas ou estilos de pensamento.
A metáfora não exige uma grande
explicação. Me interessa apenas sugerir a exploração do que talvez seja uma
falsa dicotomia, desde que não se esteja disposto a sentar em um extremo ou
outro dessa diferença e julgar que a partir dali tudo mais é desprezível.
Muitos filósofos e filósofas
podem ser considerados como sistemáticos ou cumulativos e é assim também na
ciências e nas artes. Não há neles algo como um brilho de gênio ou uma faísca
ou raio mágico do pensamento. Eles acumulam conhecimento, organizam, introduzem
e fazem quase algo como um jornalismo engenhoso do pensamento. A originalidade
deles aparece nos detalhes e aqui e ali, num ponto ou outro percebemos algo
notável. Muitas vezes é preciso se dar ao trabalho de compreender o ponto de
vista deles, seus métodos e estilos e comparar a outros de seu tempo para
perceber ou apreender algo realmente importante.
Outros filósofos e filósofas tem
um gênio mais surpreendente. Percebemos a chama prometeica da sua sabedoria num
pequeno fragmento de texto, em um aforismo ou nas primeiras linhas de seus
textos. Em geral, são esses que despertam paixões, adesões mais duradouras e
também dão mais prazer na leitura e geram uma cadeia de descobertas e surpresas
quase incessante. Eles tem essa chama da qual fala Plutarco e são notáveis de
forma até escandalosa. Não raramente participam de grandes controvérsias,
enfrentam as tradições consolidadas e as autoridades de muitos domínios, mas, o
que me parece mais importante geram em nós a espécie de espírito de liberdade e
impulso para topar certas paradas e não deixar assim.
Porém, me parece um bom desafio
compreender a ambos. E eu recomendaria ver como alguns filósofos ou pensadores
transitam de um extremo ao outro em suas obras. Porque parte dessa dicotomia me
parece estar ligada tanto ao próprio estilo, mas também em um modo de se
enfrentar os demais pensadores/as.
É evidente que todos que se apaixonam pelos incendiários
brilhantes e geniais tem pouca paciência para aqueles que são acumuladores e
ruminantes quase infinitos. Mas a fagulha depende da lenha para gerar um grande
incêndio.
GRATIDÃO E DIGNIDADE
GRATIDÃO E DIGNIDADE
Tenho postado muitas mensagens
com gratidão no Instagram e no Facebook. Esse excesso talvez pareça piegas ou
alguma espécie de demagogia de circunstância. Ter gratidão, porém, não
significa dizer que tudo foi resolvido, que minha vida foi um mar de rosas, que
as pessoas sempre são boas, honestas e generosas comigo.
Sim, tem o lado B dessa minha
vida e da passagem da gente na vida e na
história de outras pessoas. Não se iludam com narrativas lineares e
contínuas. Nem tudo ou quase nada se deu sem muitas difículdades.
Eu já tive o hábito de indiretas em rede
social e vez ou outra escapa um alerta ou sinal sutil do que penso sobre as
ideias, os discursos e as ações de muitas pessoas e algumas vezes de pessoas
com quem provei algum amargor, mas nada disso é realmente importante no fim da
nossa jornada ou quando já passamos da metade da vida.
A gente demora muito tempo em
compreender e aceitar que algumas pessoas mudam e mais ainda em aceitar que
alguns são o que são mesmo.
Porém, quando agradeço é a mais genuína
gratidão e ela é tanto maior quanto mais digno em reciprocidade for o outro.
Assim, 57 anos completos nesse
janeiro e eu sou realmente muito grato a todos e todas que são muito dignos da
minha gratidão.
Valeu!
P.S.: Escolhi esse número e desenho
porque gostei da combinação. 57 anos foi um tempo muito importante para muitos
seres humanos que admiro demais. Que eu tenha o favor devido para fazer algo
bom ou muito bom nesse ano.
LULA EM CAMBRIDGE E QUEM TEM MEDO DE LULA
LULA EM CAMBRIDGE E QUEM TEM MEDO
DE LULA
Lula causa medo em uma parte da
elite por suas habilidades de inteligência, mas isso só mostra o quanto essa
elite é incapaz de reconhecer virtudes ou quando topa com uma precisa encontrar
defeito. Alguns dizem que tem medo de Lula por suas habilidades, pois esses são
os covardes de sempre que votaram num torpe e inabilitado candidato a
presidente, contra um professor altamente preparado e ilibado.
É uma tradição dos covardes
transformar as virtudes dos outros em defeitos, seja com mentiras, seja com
meras negações e acabar elegendo medíocres e imbecis para cargos de alta
responsabilidade. Depois ficam com um discurso cínico dando justificativas
fúteis e pueris para não fazer o certo.
Quando Lula pisar em Cambridge
eles vão botar defeito nessa Associação de Cambridge, em Churchill e até mesmo
em Stephen Hawking.
Enquanto isso, espero que todos e
todas que não tem problema algum em reconhecer o outro e as virtudes dos seus
próximos aproveitem para aprender, prestem atenção e e se tiverem alguma
grandeza de caráter sigam o bom exemplo e reconheçam em todo aquele que possui,
as suas qualidades.
Nós professores e professoras
tornamos o mundo muito melhor quando somos capazes de educar os jovens para
isso.
Vai Lula, ser gauche em Cambridge
com seus méritos e virtudes!
Valeu Alberi!
SER PROFESSOR, ESTAR DIRETOR
SER PROFESSOR, ESTAR DIRETOR
Agradeço muito as oportunidades e
apoios que recebi para estudar, ingressar na universidade, fazer o curso que
fiz e iniciar a minha carreira praticamente um ano após ter me formado.
Agradeço todos os apoios.
Iniciei a docência em Porto
Alegre, em 1995, na Escola Técnica do Comércio da UFRGS, em seu prédio novo, ao
lado do Planetário. Foram dois anos e meio de ensino de filosofia no Ensino
Médio Técnico dessa escola. Lá já iniciei lecionando pela manhã e a noite.
Somente Filosofia.
Depois disso, em 1998, iniciei na
rede estadual na Escola Estadual Fernando Ferrari em Campo Bom. Um ano somente
com ensino no turno da manhã e tarde. Filosofia, Psicologia e Ensino Religioso
Em seguida, já em 1999, comecei
uma trajetória continua e ininterrupta de professor na Escola Estadual Olindo
Flores da Silva, em São Leopoldo, minha terra natal, no turno da noite e lá se
vão 23 anos nessa escola e nesse turno, com alguns períodos na manhã e durante
todo esse tempo à noite. Iniciei com História e Geografia e depois também
Sociologia e Filosofia, bem como, Ensino Religioso.
Lecionei também durante um ano no
turno da tarde na Escola Estadual Visconde de São Leopoldo, em 2004.
Principalmente Geografia.
Em 2016, assumi a vice-direção no
turno da manhã no Olindo, foi uma excelente experiência e agora, em 2022,
inicia a minha dedicação a direção da escola em que durante tanto tempo fui
professor.
Serão três anos no trabalho de gestão de todos
os aspectos da escola, com a colaboração da equipe Diretiva que formamos e com
a participação do grupo de professores, da comunidade escolar, incluso alunos e
alunas e pais e mães através dos conselhos e das assembléias da escola.
Apesar da atual legislação
excluir esse tempo para efeitos da aposentadoria do professor, acredito que é
uma contribuição nossa e de nossos pares que deveria ser mais reconhecida,
respeitada e valorizada.
Mas esse é um tempo amesquinhado
e sombrio, em que vamos resistindo a estupidez e ao desrespeito às nossas carreiras
e elevadas responsabilidades.
Isso vai passar. Hoje comemoro
com orgulho minha contribuição e o fato de que mantive a bandeira da esperança
erguida e vou prosseguir assim.
ELZA SOARES VIVE!
ELZA SOARES VIVE!
Lá se foi Elza Soares aos 91
anos. No mesmo dia que Garrincha faleceu 39 anos atrás. Aprendi a respeitar
muito as datas e efemérides ao longa da minha vida. Porque, como muitos dizem
não há coincidências. E eu estou fazem três semanas vendo a imagem dos dois e
pensando como os amores mais lindos das nossas vidas são maravilhosos e
inacreditáveis. E Elza e Garrincha certamente viveram um amor dessa natureza.
Então, lá se vai a Grande Elza,
essa que sim era quebra barraco, todo o resto é apenas similar, mas nada e nem
ninguém a sua altura. E para nos fazer pensar isso também acontece numa semana
em que todos e todas nós amantes da música brasileira e das cantoras
brasileiras e suas grandes personalidades, estivemos lembrando muito Elis
Regina e Nara Leão.
Todas essas três - e vale colocar
a Rita Lee que fica aqui conosco, foram verdadeiras leoas brasileiras contra os
brucutus e esse bando de inúteis que não tem alguma serventia e vivem se
impondo pela força e pelo abuso no uso da força Como Garrincha enlouqueceu
todos zagueiros ou todo João que na frente dele tentou impedir seus avanços com
dribles previsíveis, mas sempre inesperados, Elza e essas mulheres driblaram e
enfrentaram os truculentos que se lhes pararam pelo caminho.
Que todas elas, com a Elza agora
e todos eles olhem por nós e torçam por nós contra todos esses fascistas e
reacionários. Talvez, a sorte e a morte seja isso mesmo: o momento de nós enfim
estarmos juntos de novo, mas, dessa vez, definitivamente.
Na foto: Elza e Garrincha um dos
casais mais icônicos da história do Brasil.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
Provérbios do Inferno – William Blake
Provérbios do Inferno – William Blake
Tradução de Paulo Vizioli.
No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no
inverno, desfruta.
Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.
A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.
A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela
Impotência.
Quem deseja, mas não age, gera a pestilência.
O verme partido perdoa ao arado.
Mergulha no rio quem gosta de água.
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.
Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma
estrela.
A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.
A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.
As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum
relógio mede as de sabedoria.
Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou
redes.
Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez.
Nenhum pássaro se eleva muito, se eleva com as próprias
asas.
Um cadáver não vinga as injúrias.
O ato mais sublime é colocar outro diante de ti.
Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando
Sábio.
A loucura é o manto da velhacaria.
O manto do orgulho é a vergonha.
As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis,
com os tijolos da Religião.
O orgulho do pavão é a glória de Deus.
A luxúria do bode é a glória de Deus. A fúria do leão é a
sabedoria de Deus. A nudez da mulher é a obra de Deus.
O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora.
A raposa condena a armadilha, não a si própria.
Os júbilos fecundam. As tristezas geram.
Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha.
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.
O sorridente tolo egoísta e melancólico tolo carrancudo
serão ambos julgados sábios para que ejam flagelos.
O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado.
A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as
raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.
A cisterna contém; a fonte derrama.
Um só pensamento preenche a imensidão.
Dizei sempre o que pensa, e o homem torpe te evitará.
Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade. A
águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a
gralha.
A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.
De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de
noite, dorme.
Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece.
Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus
recompensa orações.
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.
Da água estagnada espera veneno.
Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é
mais que suficiente.
Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano!
Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a
barba, de terra.
O fraco na coragem é forte na esperteza.
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão,
ao cavalo, como apanhar sua presa. Ao receber, o solo grato produz abundante
colheita.
Se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser.
A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.
Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Genialidade. Levanta
a cabeça!
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para
deitar seus ovos, assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais
belas.
Criar uma florzinha é o labor de séculos.
A maldição aperta. A benção afrouxa.
O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova.
Orações não aram! Louvores não colhem! Júbilos não riem!
Tristezas não choram!
A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a
Beleza; as mãos e os pés, a Proporção.
Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o
desprezo para o desprezível.
A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo
fosse branco.
A Exuberância é a Beleza.
Se o leão fosse aconselhado pela raposa, seria ardiloso.
O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas
tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade.
Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos
insatisfeitos.
Onde o homem não está a natureza é estéril.
A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem
ser acreditada.
É suficiente! Ou Basta.
William Blake
E AQUELES QUE NÃO ESCUTAM?
E AQUELES QUE NÃO ESCUTAM?
Os sinais e avisos são dados.
Sons e imagens
por diversos canais
exibem claramente
o que está ocorrendo,
mas eles não observam
e não escutam.
É correto chamar isso de
Negacionismo.
A realidade está aí
perante teus olhos,
ela grita e você recebe
as informações todas.
O mundo real está acessível.
Mas você nega
o que a realidade te apresenta
e constrói um sistema
de crenças para sustentar isso.
É um tipo de insulamento dogmático
que ergue uma barreira
fortemente reforçada
pela recusa à interpretação,
pelo excesso de fé no altíssimo
ou em outra criatura
e a ausência completa de amor
e confiança no próximo.
Há aí uma ética da suspeita.
Essa ética da suspeita
que constrói essa barreira
que impede a assimilação
de qualquer ideia do outro.
Você nega deliberadamente
toda e qualquer informação
que te é oferecida,
mesmo por aqueles que te amam
e gostariam de te proteger.
Eles tornam impossível
a tarefa de salvação
pelo amor mais genuíno ao próximo.
Nem Jesus aguenta eles,
como muito bem
citou no ano passado,
o filósofo Renato Janine Ribeiro.
No exemplo,
Jesus deve esperar eles em algum lugar
e perguntar porque
você não aceitou a ajuda que te enviei?
Porque não ouviu meu aviso
através daquele homem
ou daquela mulher
de bom coração
que queriam te salvar?
Esperava o quê?
Um milagre?
Saiba, que o maior milagre na humanidade
será produto do amor ao próximo!
Essa é a minha mensagem.
Capice?