Cada um de nós, especialmente
aqui, dos que nos lêem nessas digressões filosóficas e humanas, demasiadamente
e simplesmente humanas, está tentando dar sentido às suas vidas, às pequenas e
às grandes coisas que nos ocupam.
Nossos trabalhos, nossas
leituras, nossas anotações, nossas relações, nossos discursos e narrativas e
nossas ações, enfim, nossos gestos e palavras são para nós a única forma de
fazer isso. E me parece que não há nada mais digno do que isso e nem nada mais
difícil do que isso, quando o mundo à nossa volta parece estar forra dos gonzos
e girando sem sentido algum, muitas pessoas à nossa volta nos assombram porque
parecem não ter um sentido e um sentimento comum.
Abrimos um aplicativo, lemos uma
notícia, olhamos para o lado, para a nossa frente e também para o presente e o
futuro e parece que o sentido desmorona, parece que o sentido está sendo
destruído perversamente e com brutalidades intoleráveis e insuportáveis. O
sentido, nessa percepção do mundo, procura nos escapar como se dissesse aqui
não, aqui não é mais possível, aqui não dá ou aqui falta muita coisa para um
simples e singelo sentido, sentimento ou sensibilidade.
Nossa busca de sentido se choca o
tempo todo ou no mais das vezes com uma brutalidade mundana que nos violenta e
nos agride.
Sinto como se o Mito de Sísifo fosse
encenado e reencenado até mesmo nas pequenas coisas, nos detalhes e em contatos
mesmo que rápidos com outros. E, eis que então, volto a um esforço de extrema
boa vontade para dar sentido e fazer sentido, apesar de tudo.
Muitas vezes falamos em
resistência e resiliência e parece mesmo que tentar dar sentido a tudo isso é
um grande combate, até mesmo contra si mesmo e seus próprios sentimentos.
Mas a gente consegue, e quando
consegue o sentido nos fortalece e nos inspira em continuar, por mais difícil e
mesmo pequeno que ele pareça. Um pequeno sentido vale, enfim muito mais que
toda grande desolação ou sofrimento que nos toca, que vivenciamos ou
testemunhamos dolorosamente e pesarosamente.
E assim, por mais perigosa que
pareça toda essa situação, por maior que seja a desesperança, persistimos, não
desistimos e prosseguimos, com uma vela acesa a iluminar cada pequeno sentido
conquistado diariamente que acaba nos dando força e luz para atingir o próximo
em seu coração e sua mente.
Parece ser preciso repetir a todo
enfrentamento e desalento esse ato de persistência e determinação em dar
sentido a algo apesar do caos e do ranger dos gonzos desse mundo que nos
ensurdece e nos obriga a cantar no tom apesar de toda a perturbação.
E conseguimos, persistimos mais
uma vez e de novo tentando dar sentido, como nessa luta com as palavras, como
um tapete que precisa sempre ser refeito para se escapar de todo mal e de toda
a perdição que nos ronda e nos cerca nesses dias de tempos tão sombrios e
tristes.
E quando encontramos esse sentido
que nos faz tecer mais uma linha ou ligação entre o passado e o futuro, nesse
presente, nos levantamos e sobrevivemos ajudando mais e mais amigos e amigas
como nós a andar nesse vale de lágrimas e apoiar aqueles que precisam uma gota
de orvalho para saciar a sede pelo sentido e por um bom sentimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário