David Hume foi um aventureiro filosófico bafejado pela sorte e por uma espécie de jogo oscilante de ocasiões difíceis, sucedido por êxitos quase inacreditáveis.
Foi, após um colapso nervoso, que o jovem Hume iniciou a
escritura do seu livro mais célebre e notável. O Tratado da Natureza Humana,
recomendável a todos e todas que amam a filosofia, em especial a boa filosofia de
língua inglesa, que já era esboçado pelo jovem com apenas 23 anos.
Curiosamente, boa parte das imagens ou pinturas que temos
dele são tardias. Um homem volumoso e quase mastodôntico, para poupar outros
adjetivos.
E é por isso que vaguei procurando uma imagem do jovem muito
ágil nas ideias e veloz e preciso nos pensamentos e argumentos. O que eu
encontrei, mais semelhante ao que buscava, é esta aqui publicada. Nela, ele
parece já ter seus 30 anos. Nota-se o olhar arguto e bem humorado com certa
tendência às profundidades, para além das superfícies.
E é preciso muita agilidade intelectual para repentinamente
saltar a outro aspecto ou outra perspectiva das questões.
E os exemplos dessa agilidade e ligeireza, quase singeleza,
de uma simplicidade lacônica e muitas vezes irrefutável estão em toda parte da
sua obra, que vai da juventude aos seus últimos dias.
A obra de Hume é praticamente um oceano recheado de belas
conchas que carregam pérolas de diversos tamanhos. Dá para fazer uma coleção de
colares de pérolas filosóficos em praticamente todas as áreas do pensamento. Da
lógica à metafísica, da ética à epistemologia, passando pela política e também
por diversas outras curiosidades a que muitos e muitas dedicam seus pensamentos
e reflexões, investigações e inquirições.
O Sol vai nascer amanhã? Poderia perguntar qualquer jovem
contemplando o entardecer. Hume avança sobre essa questão com a segurança de um
velho sábio que sabe o quanto a vida e o curso dos fatos e acontecimentos é
imprevisível, fugaz e pode ser surpreendente. Talvez, não há nada que garanta
isso de um ponto de vista lógico, a não ser a nossa crença no curso repetido
dos acontecimentos. E está crença se regozija quando eles se repetem e a gente
se sente sapiente e esperto quando isso acontece. Porém, pode ser diferente.
Para terminar, como termina esse ano de 2023, da Graça de
Nosso Senhor, vamos ler rapidamente uma descrição do Cético por Hume, que
alguns amigos e amigas consideram uma autodescrição e que para mim é um exemplo
de o quanto o nosso pensamento pode nos levar a uma entre outras perspectivas
diferentes sobre a vida, sobre as regras da vida e nosso modo de encarar ela
num jogo continuo, em que a sorte e a circunstância nos testam como num jogo. E
nesse jogo nosso temperamento e humor são chaves cruciais para o modo de
enfrentar tudo, venha como vier, seja como for, esteja como estiver.
D'O Cético
«Em suma, a vida humana é mais governada pela sorte do que
pela razão; há que vê-la mais como um passatempo maçante do que como uma
ocupação séria; e ela é mais influenciada pelo temperamento de cada um do que
por princípios gerais. Deveremos aplicar-nos na vida com paixão e ansiedade?
Ela não merece tanta preocupação. Deveremos ser indiferentes ao que aconteça?
Com a nossa fleuma e desatenção, perderíamos todo o prazer do jogo. Enquanto
pensamos sobre a vida, a vida foi-se; e a morte, embora talvez seja recebida
diversamente pelo tolo e pelo filósofo, trata-os da mesma maneira. Reduzir a
vida a uma regra e a um método exactos costuma ser uma ocupação desagradável e
frequentemente infecunda. E não constituirá também uma prova de que damos valor
a mais ao prémio pelo qual nos batemos? Mesmo meditar com tanto cuidado sobre a
vida, e definir precisamente a sua justa ideia, seria sobrevalorizá-la, não
fosse esta ocupação, para alguns temperamentos, uma das mais divertidas em que
podemos empregá-la.» (David Hume),
Extraído do post do
Professor Eduardo Vicentini de Medeiros.
Meu grande amigo a quem homenageio junto de todos os demais amigos e amigas que
se dedicam à filosofar e à educar para o filosofar.
Ah....o fundo vermelho é acidental ou talvez, melhor
dizendo, fortuito.
Feliz Natal
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