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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

JOHN LOCKE E AS TEMPESTADES DESTE MUNDO

 

JOHN LOCKE E AS TEMPESTADES DESTE MUNDO

 

E eu lendo John Locke um dia destes qualquer, o que após um longo namoro, me vem nos Ensaios Políticos, agora:

"Assim que eu me apercebi no mundo, eu me vi no meio de uma tempestade."

E de fato, Locke vive um dos períodos mais conflituosos de toda a história da Inglaterra. Estes conflitos eram baseados em diferenças religiosas, envolviam o permanente conflito político entre protestantes e católicos e também eram produto de disputas de interesses econômicos concorrentes entre a aristocracia e a burguesia em ascensão isso produz um conjunto de guerras civis e mudanças de regime político que marcaram a ascensão da burguesia na Inglaterra. Locke nasce neste ambiente de efervescência política onde a Inglaterra se debatia nestas lutas sociais, religiosas, políticas, intensas e incessantes. Ele nasceu no ano de 1632, na cidade de Wrington, Somerset, em uma família de comerciantes e artesãos puritanos. Locke perdeu a sua mãe quando ainda era criança. Posteriormente ao manifestar-se sobre a sua infância e muito provavelmente falou em sentir-se no meio de uma tempestade tão logo se percebeu no mundo. A primeira revolução inglesa eclodiu com a disputa entre as forças reais e o exército do Parlamento liderados por Oliver Cromwell. Essa Revolução Puritana foi um conflito ocorrido na Inglaterra na década de 1640 entre a monarquia e o parlamento. Carlos I, rei do país, não aceitava a intervenção política dos parlamentares e, de forma autoritária, governava exclusivamente movido por seus interesses e pelos interesses. O rei foi derrotado nessa disputa e acabou executado em 1649. Locke tinha então 17 anos. Mais tarde ocorre a Revolução Gloriosa é o nome que se dá para os acontecimentos que levaram à deposição de Jaime II, sucessor de Carlos I e à coroação de Guilherme de Orange e Maria Stuart como rei e rainha da Inglaterra. A monarquia absolutista inglesa transformou-se em uma monarquia constitucional, que consolidou o domínio da burguesia na Inglaterra e do que restou o regime vigente na Inglaterra de uma Monarquia Constitucionalista com um Rei e um Parlamento fortalecido.

Uma expressão que ele usou aos 29 anos no seu primeiro retorno saturnal confirma também essa percepção da tempestade em que ele estava envolvido e eu olho para mim mesmo aos 29 anos e penso nisso também. Na minha formatura, no meu anno mirabilis de 1994. E me dou por conta das tempestades que vi em minha vida também.

 

Quantas curvas a história vai dar à minha volta até eu conseguir fixar uma imagem clara do que anda sempre mudando tudo em meu mundo? Vejo que desde que tenho me entendido por gente e pensado que sou capaz de tentar explicar ou compreender alguma coisa de forma mais profunda, essa sensação de estar às voltas em uma tempestade.

 

Uma aluna me perguntou uma vez se eu não me confundia ao ler tantas coisas?

 

E eu não respondi essa pergunta dela, simplesmente porque eu não sei, jamais tive este tipo de sentimento, sempre penso que não estou entendendo ou que não está claro o suficiente para mim isso ou aquilo. Mas eu continuei lendo e me aventurando nos livros com todo meu ecletismo e também de uma forma sempre muito mais ampla para aumentar a possibilidade de estar perdido ou mais perdido.

 

E, com o tempo, nos últimos 21 anos agora já, desde a primeira vez que tratei dessa sensação, em especial, algumas vezes nesse tempo todo quando sinto alguma confusão tendo a adotar a cautela e não falar sobre algo que não me é claro ou cujas opções não são claras para mim e fico pensando, meio silencioso meio ruminante sobre isso ou sobre alguma confusão em meu pensamento ou raciocínio.

 

Houve uma época em que eu resmungava, mas não há nada que me deixa mais feliz do que ter uma sensação determinada de que os problemas se dissolvem ou que me adveio uma ideia melhor sobre algo.  E isso acontece no mais das vezes quando se abstrai do labirinto em que estamos metidos e se pensa em outras coisas.

 

Mas gosto muito de descobrir soluções por conexões aleatórias e acidentais, por analogias, metáforas e às vezes faço troça de um problema tentando dissolvê-lo com humor e ironia.

 

Mas alguns problemas resistem e eu também resisto a resolver eles com soluções simples. Porém, é ótimo ler alguém que tem o mesmo sentimento de dúvida e da mudança e que não faz de conta que está tudo organizado à sua volta. É ótimo ler alguém que confessa estar perante um problema ou questão que o desafia e que lhe impõe lidar com contradições ou dificuldades que não tem superação garantida.

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