DITADURA NUNCA MAIS,
TORTURA NUNCA MAIS
"É preciso estar atento e
forte.
Não temos tempo de temer a
morte."
Caetano Veloso e Gilberto Gil
Tudo é divino, tudo é
maravilhoso.
A interpretação mais divina e
mais maravilhosa dessa canção é de Gal Costa. Eu amo esta canção desde a
primeira vez que a ouvi. E é bem estranho falar disso como uma memória, porque
é possível que eu tenha escutado ela com menos de cinco anos de idade, porque
estava ecoando de um apartamento vizinho. Essa é uma das canções do período
militar e de revoltas estudantis de 1968 1969, que contém uma plêiade de
mensagens filosóficas, políticas e combativas. A mais filosófica de todas e que
eu sempre cito como Professor de Filosofia, já está no título diretamente
derivado de Tales de Mileto: Panta Rei - "Todas as coisas estão cheias de
deuses" ou há deuses em todas as coisas (citada especialmente por
Aristóteles e Diogenes Laércio) e em todas as criaturas meu jovem, meu Amigo e
minha Amiga.
Caetano Veloso iniciou seus
estudos universitários fazendo Filosofia. Inclusive confessou em seu livro
autobiográfico Verdade Tropicais que é a outra coisa que gostaria de ter feito
na vida. Em tempos de internet essa mensagem pode chegar nele ainda. Então,
obrigado Caetano! pois saiba que tu ensinou muita Filosofia em tuas canções. Em
especial, sobre a vida, o amor, a beleza, a saudade e tudo que envolve aquilo
que há de mais humano em nós que é o amor ao próximo e o amor a vida e a
humanidade. E na minha opinião isso é uma importante mensagem política também.
As mensagens mais políticas da canção, vou trocar pelo que segue.
No ano passado em visita a
Argentina, Bolsonaro sofreu protestos intensos da população do nosso país vizinho.
Estava lá para apoiar a candidatura a reeleição do neoliberal que logo depois
foi derrotado pelo peronista. Um ano depois, o peronista é presidente e protege
a população com razoável eficácia e muita segurança e nossos vizinhos vão
superando a Pandemia muito melhor do que nós.
Enquanto isso, exatamente um ano
depois dessa visita a Argentina, aqui no Brasil nós vivemos a dolorosa
realidade de termos esse presidente incapaz, inepto e irresponsável, sem
empatia alguma pela população e que passa a esconder os números de óbitos para
esconder a tragédia que ele ajudou a construir com muita negligência,
desconsideração e contra todos os conselhos da OMS, de praticamente todos os
governadores, a grande maioria dos prefeitos, dois ministros da saúde demitidos
e mais uma batelada de esforços de ministros do STF, deputados federais e
senadores. Temos um presidente que não dialoga, não escuta, não é sensível a
conselhos dos mais experientes, mais sábios ou que possuem pais conhecimento e,
assim, simplesmente não lidera, não coordena e também não resolve os graves
problemas que enfrentamos. E as mortes vão aumentando e ele prioriza construir
dissensos e conflitos de toda ordem com os demais poderes da República e outras
unidades da federação.
É sempre bom lembrar e levar em
consideração que na Argentina, boa parte dos ditadores morreram na cadeia e que
todos eles foram processados e punidos por seus crimes contra a humanidade. Não
houve impunidade após a ditadura barbara e cruel Argentina. A anistia foi feita
para as vítimas de perseguição e os sobreviventes, não para algozes ou
criminosos.
É uma sociedade que tratou com
muito mais rigor os crimes dos ditadores e que até hoje tem um processo ativo
de busca e identificação, reconhecimento e reparação dos filhos e filhas dos
desaparecidos políticos. As mães da praça de maio e as avós da praça de maio,
são um caso exemplar de consciência cívica com apoio franco da população e do
estado e até hoje elas reencontram seus netos e netas, alguns filhos e filhas e
persistem na procura daqueles que ainda não foram encontrados.
A resposta e os protestos desse
povo nas ruas de Buenos Aires com a visita de Bolsonaro, é somente a ponta
afiada da memória desse povo, escrevendo mais um capítulo dessa história e
respondendo com firmeza contra aqueles que elogiam fascistas e seus regimes
autoritários.
Nós, no Brasil, não promovemos
esse processo e disso resultou que esses covardes e facínoras tenham retornado
da lata de lixo da nossa história para os espaços políticos. Eles se elegeram e
se reelegeram em eleições democráticas sem sofrerem nenhum óbice mais rigoroso
e em 2018 elegeram seu representante como presidente.
Esse é um resultado flagrante da
nossa impunidade e excessiva tolerância a esse tipo de personagem histórico e
mostra o quanto foi um erro do nosso sistema legal e político que eles não
tenham sido demovidos, punidos e limitados em proteção a democracia do Brasil.
E eles também estão aí com esses discursos autoritários, também por efeito de
uma grande omissão da imprensa - que ao tentar ser imparcial, foi
condescendente e concedeu espaços e audiência a esse personagens, e acabou por
promover ou permitir a volta do elogio ou a defesa do regime militar, da
ditadura militar, do golpe militar e das torturas e assassinatos políticos que
destruíram a vida de muitos brasileiros e brasileiras e suas famílias e amigos,
sem objeções e reparos.
E com a Pandemia estamos pagando
muito caro por isso.
Portanto, por mais séria que seja
a recomendação contra as mobilizações dos jovens de hoje, eu entendo
absolutamente esse impulso de protestar contra um Facínora e Criminoso. Eu
entendo e respeito muito cada um dos jovens e dos homens e mulheres que vão
sair às ruas hoje. A defesa da democracia pode ser feita de muitas formas e
modos, mas com certeza a maior defesa da democracia talvez acabe sendo
exatamente essa mesma, no meio de uma PANDEMIA ocupar as ruas com máscaras e o
maior distanciamento possível e protestar contra esse Facínora e qualquer
ameaça que seja posta contra a nossa democracia no Brasil e os direitos civis e
humanos.
É arriscado sim, mas nenhum risco
há de demover esses jovens e todos os cidadãos e cidadãs de lutarem contra as
ameaças que são covardemente expressas por esse presidente e seus apoiadores.
Atenção para o refrão:
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