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quarta-feira, 1 de abril de 2020

FIM DA AGENDA NEOLIBERAL - O NOCAUTE DO PROJETO E DA COALIZÃO DE BOLSONARO


FIM DA AGENDA NEOLIBERAL - O NOCAUTE DO PROJETO E DA COALIZÃO DE BOLSONARO

Eu, Daniel Boeira, que te escrevo: não há mais futuro, sem mudança.



“Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.”

Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels.

Teve que aparecer essa PANDEMIA GLOBAL de COVID19 ou CoronaVírus no mundo e no Brasil para sepultar de vez todo esse papo furado de neoliberais, estado mínimo, controle do déficit fiscal, reformas, teto dos gastos e acabar de vez com a supremacia do interesse econômico contra o interesse político ou do bem comum ligado a defesa da vida e do direito à vida digna de todos. Marx interpretava isso como a indestrutível, no capitalismo, supremacia dos interesses da esfera econômica sobre os interesses da esfera política. Que era essa a marca fundamental da subordinação da política aos interesses da burguesia acumuladora de capital com base na exploração do trabalho e na alienação dos sujeitos das classes subalternas.

A História fez com que a profunda e radical transformação das forças produtivas redundasse na substituição do esquema colônia metrópole em centro e periferia e foi das margens dessas periferias que saíram as alterações genéticas que transformaram um vírus de animais que atacava o sistema respiratório desses animais, num vírus fatal ao humanos com um poder galopante de disseminação.

Esse vírus com sua violenta capacidade de contágio que impressiona ao atingir em média entre 50 a 80% de toda a população humana de regiões, países, continentes e no mundo,  em poucas semanas, em caso da não adoção de medidas radicais de isolamento horizontal para tentar suprimir essa disseminação. Desses 80%, uns 20% passam a sintomas e desses automáticos, uns 10% necessitam de internação em UTIs, com uma letalidade de 1,2 a 3% de todos os contagiados. Para piorar o vírus é também mutável e tende a se adaptar ao perfil humano de certas regiões do planeta. Ao fazer isso, ele combina a distribuição da sua letalidade com pessoas que possuem comorbidades anteriores a criar pacientes cuja letalidade não se justifica por isso. Ele tem, portanto, é preciso admitir um grupo de risco, mas também dispara suas cerdas mortais para além desse grupo de risco atingindo pessoas saudáveis e jovens e adultos e não somente idosos ou adultos com comorbidades. É isso que tem se mostrado na sua letalidade na Europa, Espanha, França e Portugal e também nos Estados Unidos da América. 

No Brasil, essa tendência a diversificação já se exibe nos primeiros 159 óbitos até o dia de hoje. E com essa imposição racional, técnica e científica do isolamento como única política ou medida protetiva eficaz para sustar o avanço do vírus e impedir que se gere o Colapso do Sistema de Saúde, se sacrifica claramente as atividades econômicas não essenciais e todas as cadeias de consumo, distribuição e produção dos produtos dessas atividades. O axioma fatal é ou a economia ou a vida. A bolsa ou a vida. De certa forma o Vírus promove um assalto ao sistema capitalista, as suas relações de produção e ao modo de vida contemporâneo e suas respectivas formas e padrões de relações sociais, materiais, culturais, espirituais e políticas   

Aqui no Brasil, em virtude disso e por certo certo um infortúnio do destino, os que vão ter que cumprir essa tarefa de fazer frente com os instrumentos de estado, segurança, proteção social, saúde e infra-estrutura, ou seja, retomar uma agenda de New, New Deal ou Welfare State, são justamente aqueles que lhe são mais antagônicos a isso e que forma eleitos vendendo – com apoio intenso da imprensa também liberal ou ultra liberal – com um projeto de desmanche do estado, das políticas de proteção social e de geração de renda ou trabalho formal.

Eles são obrigados pela história agora, sob pena de não sobreviverem a ela pelas suas consequências e colocarem o povo numa situação mais grave do que aquela em que já se encontrava, a girar a agenda e começar imediatamente a fazer tudo aquilo que eles não consideravam estratégico fazer e que poderia ser mitigado ou atenuado. As Bolsas Família viraram política necessária e não mais dispensável. Para ser objetivo, ao contrário do que o ministro Onix Lorenzoni dizia a menos de um mês atrás – com uma ar de satisfação típica de seu caráter – a porta de saída do Bolsa Família deverá ser fechada e a porta de entrada deverá necessariamente ser aberta e aumentada para acolher mais brasileiros e brasileiras.

Bolsonaro fala agora dos trabalhadores informais como se tivesse compromisso efetivo com eles. Mas foi um dos agentes políticos que junto com o Condomínio Golpista, contribuiu para promover as Reformas Trabalhista e a Reforma Previdenciária. Os recursos do SUS e a sustentação efetiva do SUS vai ter que voltar. O Programa Mais Médicos por força da necessidade vai virar prioridade de novo. Talvez mudem o nome, mas terá que ser promovido algo em escala igual ou semelhante ao programa original criado em 2013. O tema da segurança pública e tudo que vem junto com ele agora vira de fato por força do cenário social uma questão estratégica na sociedade brasileira e eu aposto que nenhum desses energúmenos vai fazer arminha mais. Poderia seguir sobre muitos outros exemplos cujas direções, decisões, medidas e políticas precisam necessariamente ser abandonadas e revertidas.     

Fico imaginando o que passa na cabeça dos militares que estavam caindo nessa ladainha liberal e ultra liberal, desde que preservassem os seus próprios privilégios, ou dessa cambulhada do judiciário que tinha essa mesma perspectiva. Agora não tem volta. Vão ser obrigados a dividir o pão com o povo. 

Tudo que eles imaginavam líquido e certo, sólido e estável nos seus projetos de chegar ao estado mínimo - preservando os seus próprios máximos e satisfazendo a ganância insaciável do rentismo do mercado, dos seus especuladores e da concentração de renda - se esboroou e se desmanchou nos ares de um Vírus.

Agora é que são elas. Muitas cabeças vão ter que mudar e essa mudança vai inclusive atingir aqueles que se julgavam protegidos da miséria ou da dependência do estado. Eles vão ter que limpar direitinho toda a sujeira e perversidade que estavam fazendo e promovendo e reparar, amparar e viabilizar de verdade as condições de vida dos 14 milhões de desempregados, das donas de casa sem renda, dos trabalhadores informais sem renda, dos trabalhadores empregados sem renda e com baixos salários sendo desvalorizados por eles. 

Além disso, a situação provocada pelo Corona Vírus ou Covid19 é tão grave que boa parte da classe média que tonitroava a sua adesão a essa agenda neoliberal também vai precisar agora de bolsas família e ajudas para sobreviver porque todo o seu sistema de sustentação econômica está se dissolvendo aos seus olhos. Alguns querem voltar a trabalhar porque tem mais pânico de ter que viverem como os pobres que eles desprezavam e dos quais desprezavam as políticas de proteção social que os amparavam, do que morrer. O sonho de ficar por cima e melhor do que a grande massa do povo brasileiro acabou de vez. E a vida nunca mais será como antes.

Dá para imaginar muito bem, portanto, porque é tão difícil para eles que essa ficha caia e que eles abandonem o Negacionismo e também toda essa coleção de teorias lastreadas em engodos, mentiras, burrice e ignorância que os fazem resistir a admitir a gravidade da pandemia do Corona Vírus e a adotarem imediatamente uma outra conduta condizente com o isolamento horizontal, a solidariedade ao próximo ou a quem de fato precisa de apoio para sobreviver – isso inclui os trabalhadores que eles não querem ver parar de trabalhar e os mais pobres que precisam de alimentos e mais proteção e essa perversa falta de empatia com os trabalhadores das áreas da saúde que estão clamando que os cidadãos Fiquem em Casa.

Para eles é difícil aceitar que o sonho deles acabou e é difícil aceitar também que não havia nada de sólido no projeto deles que acaba de ser desmanchado por uma força da natureza e que gerou uma outra força social que vai se conformando a medida que os acontecimentos vão evoluindo. Isso, entretanto explica, mas não justifica.

Não há, porém, nenhuma salvação para essas velhas fantasias da elite, as ilusões burguesas e essa profunda falta de solidariedade e empatia com a vida do mais próximo ou do povo brasileiro que já andava se disseminado também naqueles que deveriam pesar mais sobre o que é que realmente importa para as suas vidas e a vida do povo brasileiro ao qual pertencem de forma inextrincável e profunda.

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