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segunda-feira, 6 de abril de 2020

A METAFÍSICA EM TEMPOS DIFÍCEIS


A METAFÍSICA EM TEMPOS DIFÍCEIS



Peguei As Confissões entre as mãos ontem e comecei a ler de verdade dessa vez. Talvez Santo Agostinho seja um dos poucos filósofos que viveu uma grande mudança de época com certa consciência de qual era a melhor direção a seguir.

Ou seja, ele nos dá seu testemunho e é o testemunho de uma escolha determinada em tempos difíceis. Me parece mesmo que do ponto de vista dele não há escolha e que a escolha dele não é uma opção da liberdade, mas sim o reconhecimento do único caminho a seguir.

Foi uma escolha intuitiva por assim dizer. Devo confessar que essas sempre foram as minhas escolhas. Nada muito planejado. Talvez esse seja um dos exemplos paradigmáticos das últimas possibilidades de escolha em tempos difíceis. Esse livro ou aquele em uma biblioteca qualquer. Pelo menos, por enquanto.

Por conta da leitura de um artigo de uma filósofa respeitável e benevolente em ZH, sugerida pelo Nilson Lopes, que afirma que tempos difíceis trazem escolhas difíceis me vi num dilema fundamental. Temos escolhas em tempos difíceis?

Tudo me leva a crer que não. Vou dispensar aqui uma longa exposição de exemplos para justificar essa crença. Não é possível crer em outra coisa para mim. E este é um modesto testemunho de alguém que percebe que precisa aceitar os fatos como eles são e que só há mesmo um caminho a seguir.

Estou propenso a pensar em uma metafísica mais rígida. Em tempos difíceis não temos escolha. Eles nos impõem uma única opção razoável sempre. A questão crucial é reconhecer e compreender ela e agir de acordo com isso. Nesse sentido, em tempos difíceis a liberdade é uma ilusão. Temo por aqueles que ainda imaginam alguma possibilidade de escolha.

Tempos difíceis, veja bem, nos levam a querer que as coisas fossem diferentes, a sentir saudade de quando eram diferentes, mas elas não podem ser diferentes mais.

Talvez essa seja a Vitória de Parmênides e a Superação de Heráclito: a eternidade desaba sobre a tua cabeça e só um único caminho a seguir. Superar a contradição e o jogo dos contrários e seguir por uma única via da verdade, se não, não haverá chance alguma de botar o pé no mesmo rio de novo.

Se te parecer uma reflexão confusa, ficarei agradecido, porque segundo um psicanalista esse é um bom indício de que nesse aspecto não estou tão mal assim.

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