SOBRE LUTAS E ADESÕES - UM
DOMINGO PARA PENSAR
Coloquei a bandeira da França em
minha foto de perfil depois dos atentados de Paris. isso não quer dizer em
hipótese alguma que não me dói o que ocorreu em Minas Gerais com o Rio Doce e o
povo de lá, com mortes e a tragédia ambiental ou que não esteja terrivelmente
aborrecido com a violência e a insegurança de minha cidade. Porém, creio que
enfrentamos de fato uma crise global e que nossa solidariedade precisa ser
exercida. Me sinto chamado para toda luta sempre e luto sempre. Meu perfil
expressa isto claramente, então....
E vi muitos amigos colocando outras
cores em seus perfis. Perfis de lama, das cores de Minas Gerais, outros
continuam Guaranis Kaiowas e etc. Mas também vi um patrulhamento em relação a
isso: acusando esta solidariedade de seletiva. Bem, poderia ser uma
solidariedade global e sou daqueles que gostaria de ter uma única bandeira para
toda a humanidade, mas não há, assim como não há uma única luta que seja melhor
ou mais importante que outras o que há são as urgências e emergências, as lutas
continuas e quase permanentes.
Algumas pessoas parecem ficar em
repouso por dias, semanas, meses e anos e de repente saem das catacumbas para
cobrar dos outros que militam aqui e na vida real o tempo todo, posições ou adesões
certas. É a patrulha despertada e logo ali na frente volta a dormir de novo. E
eu posso e qualquer um pode lutar pelo que quiser e creio que é uma perda de
tempo ficar definindo que luta com mais justiça ou engajamento que outros. E,
além disso, estão a ficar construindo rivalidades a partir de coerências
verbais ou retóricas e não práticas e concretas.
Este processo de patrulhamento é
mais um aspecto do ódio em suas diversas formas de expressão...O mecanismo é
mais ou menos assim: precisa se encontrar um motivo para não aceitar o outro,
para recusar acordo e paz. Precisa se marcar e demarcar a diferença e corrigir
ao outro. Estes são aqueles que preferem ter razão do que construir a paz. E
tem em seu espírito racional e reflexivo, crítico e exigente uma grande
disposição a vencer o outro em todos os quesitos possíveis e ser melhor que o
outro em qualquer caso ou situação. Isto é para mim uma típica competição
pequeno burguesa...(quem tem o melhor emprego, quem tem a melhor casa, quem tem
o corpo mais bonito, o melhor carro, a causa mais nobre e as ideias mais
brilhantes...é vaidade de burguês e falta de contato com a vida real e pedestre.)
Na esquerda isso é querer ser mais marxista, leninista, bolchevique, trosko ou
revolucionário, radical ou crítico que todo outro...é aquela ambição vaidosa e
grandiloquente que estufa o peito e faz discurso de pureza. De uma pureza ainda
não testada ou que ainda não foi submetida ao juízo de outros. Para mim nenhum
ser humano merece violência...
Tenho muito orgulho de meus
amigos que se posicionam e que lutam. E a maioria deles faz exatamente isto:
tem alguma causa e adere a outras causas que julgar necessárias ou dignas de
apoio. E para mim qualquer luta vale, porque não conseguimos mesmo lutar em
todas as frentes. Por exemplo, não fiz nenhuma postagem sobre O MENINO MORTO NA
PRAIA, e isso não quer dizer que não fiquei extremamente furioso e indignado
com a forma como os refugiados foram tratados em toda Europa, dos chutes da
jornalista até o incêndio no abrigo de Calais ontem onde morreram queimados 100
refugiados de diversas nacionalidades. Não fiz nenhuma postagem sobre O CRIME
DE MARIANA, onde uma represa de resíduos de extração de minério extravasou
inundando cidades e tornando o Rio Doce um rio de lama poluindo de Minas Gerais
ao Espírito Santo, mas isso não quer dizer que não me indigno com aquilo lá.
Não considero um acidente e compartilhei uma coisa ou outra sobre aquilo. Não
negligencio também ou, pelo menos, não desconsidero como pertinente a questão
da Privatização da Vale do Rio Doce por FHC como relacionada à definição de
propósito da empresa e ao seu desleixo e descuido com o meio ambiente e a
tragédia na vida de todas aquelas pessoas atingidas, os mortos, feridos, casas
perdidas, bens e vidas prejudicadas. Também não postei nada sobre a Crise na
Siria e o ISIS. Tenho razoável dificuldade não para ir contra as guerras, mas
para saber o que está por traz daquilo tudo lá. Não apoio nem guerra e nem
massacres, nem destruição de monumentos históricos e meu silêncio não se deve
por indiferença também. Tem muita gente responsável se posicionando e
enfrentando estes e outros temas, me sinto feliz ao ver isto, curtir e quando
sinto segurança ou tive tempo de ler sobre o tema compartilho com firmeza.
Compartilhei uma trollagem sobre
o tal de Bolsonaro, porque já ando pelas trampas com seu facismo disfarçado de
moralismo e seus seguidores que simplesmente ignoram a história e não tem a
menor noção do perigo que ele representa não para mim, mas para eles mesmos. Os
ALUNOS QUE OCUPAM ESCOLAS EM SÃO PAULO, os JOVENS QUE LUTAM CONTRA AS TORRES EM
RECIFE, meus amigos e amigas que combatem o PROJETO DO CAIS DO PORTO DE PORTO
ALEGRE e diversas outras lutas tem meu apoio também. Mas eu também tenho minhas
lutas aqui bem no meu nariz, na escola onde leciono e na cidade onde vivo, aqui
no estado onde vivo e no nosso pais. E ainda tenho meus problemas pessoais e
familiares e tenho conseguido compatibilizar tudo isso e me sinto feliz. Fui
capaz de militar no último período no CPERS bem mais do que muitos que ficam
patrulhando a combatividade, as posições e a coerência dos outros ou tentando
ensinar o que não sabem. Em minha cidade lutei neste período todo em defesa da
cultura, do patrimônio histórico. No meu partido propus um ciclo de formação
política que teve só um evento de todos os dez propostos, mas não tem problema,
porque eu sei que a melhor formação é a luta. Acompanhei com muito orgulho o
mandato do Renato Janine Ribeiro Janine Ribeiro no MEC, e sei que a luta
continua com ele onde ele estiver. Apoiei de primeira o Richarde Mickael
Bartikoski desde o seu primeiro passo na rua. Então não creio que a questão
seja patrulhar adesões ou provar quem faz mais ou menos.
Tenho orgulho dos meus amigos e
amigas. Noto também que são todos eles envolvidos no cotidiano e no chão da
rua, da Escola e da vida nesta luta. Nenhum deles é um teórico, discursivo ou
palpiteiro, todos tem trabalho e militância mais com as pessoas do que com
gabinetes e escritórios. Em especial nós que somos professores e que temos que
dar ser o exemplo de solidariedade e de cuidado com o outro indiferentemente de
ideologia, credo religioso, posses ou qualquer atributo. Lutamos pela
humanidade e quem faz isto não faz exclusão, nem e discricionário, seletivo ou
parcial. Não gostamos de nenhum tipo de tragédia, guerra e temos posição
radical contra toda forma de guerra, violência e ódio. Se você expressa isto
nesta ou em outra questão cotidianamente não tem modinha. Tudo é luta e que
todos lutem e sejam apoiados nesta luta! Não gosto de tragédias de nenhum
tipo...e precisamos reagir e nos solidarizar sim.
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