NIETZSCHE E SCHOPENHAUER
Além da obrigação e do cuidado de
não se citar Nietzsche fora de contexto é preciso prestar atenção também ao seu
humor e radical indisposição com a humanidade e as relações sociais. Vejo que
tem algo do seu ânimo e do seu espirito e modo de ser que não é recomendável
aqueles que querem viver de forma satisfatória em sociedade. Então temos dois problemas ai: o primeiro da coerência
da sua obra e o segundo do seu humor excessivamente pessimista.
Alguns autores facilitam muito a
nossa vida de compreender e interpretar o que pensam, construindo obras com
muita coerência e unidade e ainda prestam a nos tornar mais livres e animados a
viver esta vida que podemos ter neste mundo. Autores como Kant e Descartes, por
exemplo, apresentam tal unidade de pensamento que facilitam muito a nossa vida.
Já outros dizem algo aqui e outro ali. Mudam de posição ou simplesmente
passam boa parte do tempo amaldiçoando nossa miserável vida. O mundo é sim um
vale de lágrimas, mas este aspecto terrível que já nos traz dor que chega não
precisa ser diluviano. São autores que
tratam de certa forma de questões vistas de perspectivas diferentes num tempo e
em outro de suas trajetórias. Isto não é um defeito, pois podem estar apenas
evoluindo de um tipo de abordagem para outra. Ou como se poderia dizer em uma
investigação científica progredindo de uma abordagem e método para outro.
Mas é claro que citar o contexto de
onde se tira uma citação de suas obras de forma adequada e precisa é importante
porque o uso mais rigoroso de qualquer autor deve ser sempre incentivado em
respeito a importância de sua obra e ideias e algo que sempre ajuda na
interpretação ao se ter uma leitura contextualizada. Porém, eu poderia dar
exemplos aqui de expressões e citações que são usadas de forma incorreta e com
objetivos escusos, sem respeitar o espírito do autor.
Ele Nietzsche é muito bom e
genial porque literalmente ataca os problemas sobre os quais reflete com muita
radicalidade e coragem. A filosofia feita a martelos dele não é uma força de expressão,
é real, pois ele de fato massacra com muita precisão os argumentos que encara,
de forma impiedosa e sem concessões à tradições de todo tipo. Nada para ele é
sagrado, nenhum ídolo se impõe em sua investigação. Porém, isso leva para uma
postura de tal desprendimento que acabar podendo incidir sobre as relações
objetivas dos leitores desavisados. Assim poderá parecer que ele é o orientador
da maior libertação da tua vida, mas há
um problema semelhante a este mesmo de deixar a gente perdido num labirinto.
Este falar do problema, apontar
muito bem o problema e a questão que ele apresenta, ainda não é, entretanto,
resolver o problema. Eu diria que aqui Nietzcshe parece para mim um filósofo da
crise e também da obra inacabada. Pois não há saída e não há futuro após a sua
filosofia feita a marteladas.
Nietzsche é um autor que eu
comecei a ler muito cedo, antes dele havia lido Platão e Kant, porém, tinha uma
advertência e orientação bem qualificada que me orientava não por preconceito,
mas por reconhecer o poder dele nestes e em outros temas, mas a situação de SEM
SAÍDA que você aponta no labirinto. Eu adoro ler Nietzsche mas aprendi a ler
ele sempre com alguns descontos bem fortes o que é muito bom também porque
evita a idolatria e a tal perdição que joga água abaixo a necessidade de pensar
por si mesmo e ser capitão de seu próprio navio nesta vida.
Já Schopenhauer comecei a ler
agora com prudência redobrada. Mas com muito respeito porque ele não era nada
bobo mesmo. Tinha seus excessos em relação a outros pensadores, mas a leitura dele
é algo muito bom.
Eu li com 17 anos Nietzsche.
Praticamente morando sozinho e andando como aquele cara na carta do tarot à
beira do abismo. Eu sabia assim que cada passo para cá e para lá era
responsabilidade minha. Mas já que estais a dizer isto, vi hoje a biografia do
Nietzsche escrita por Rudiger Safranski num sebo e recomendo. Aliás a biografia de Schopenhauer escrita por ele também é notavelmente bem escrita e eu diria que é inclusive um extraordinária abordagem ao tema em Schopenhauer a tal ponto de ser boa parte da base do Livro de Irvin B. Yalon A Cura de Schopenhauer que tarta desta crise existencial dele. .É muito bem
escrita a obra de Niezsche e serve de bom guia para quem como você que chegou até aqui parece dirigido e firme em ler
toda obra dele.
E Kant...bem Kant é algo. Sou aqui como Schopenhauer, tenho a
maior admiração por Kant e Platão. Além de outros.
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