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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

QUEM ESTÁ FALANDO SOBRE EDUCAÇÃO?


Em Janeiro de 2011, ao tomar posse a Presidenta Dilma Rousseff expressou em seu discurso um compromisso em ouvir os educadores. De lá para cá as coisas não tem melhorado neste sentido não. Penso que ao saber que precisamos ouvir mais os professores que estão em sala de aula não estamos dizendo que não podemos ouvir os demais cidadãos e sujeitos sociais. Agora creio que precisamos retomar este debate e melhorar em muito o nível e a qualidade desta consideração.



Precisamos abandonar de vez este impulso de buscar soluções para a educação em grandes intelectuais que estão fora das escolas fundamentais e secundárias. Não se trata de negligenciar suas opiniões, posições e convicções, nem de desprezar novas abordagens e propostas, muito menos de proibir alguém de dar opinião ou falar sobre educação. Por melhores que sejam as idéias, os teóricos, as leituras e os diagnósticos e propostas, é preciso muita práxis educativa e concreta para construir alternativas dentro das escolas e em diálogos com os educadores.

Penso que este processo de esvaziamento da educação e de afastamento da comunidade e dos pais das escolas se deve também ao esvaziamento do sentido da escola e de sua importância pelo especialista ou palpiteiro externo, mas também pela adoção de um hábito pernicioso e irresponsável e que é carregado de desprezo e desconsideração pela voz dos educadores.

Eu expresso isto não por preconceito com intelectuais, teóricos ou cidadãos, mas é que percebo um processo pesado de aumento da responsabilidade, censura e intervenção tecnicista na educação e um esvaziamento do papel reflexivo e político do sujeito educador. O exemplo é que está cheio de imbecil falando besteira sobre educação, inclusive com mandatos e a última coisa que fazem é perguntar democrática e coletivamente aos educadores o que eles acham, pensam, sabem, consideram melhor e etc.

Nos tratam, em muitos e demasiados casos, como se nossa pauta fosse exclusivamente economicista, como se nós fossemos exclusivamente funcionários desta sociedade em que vivemos e não sujeitos comprometidos e que dão sentido a suas existências participando deste processo social. Esquecem ou não refletiram ainda que se a questão economicista fosse determinante e prioritária de nossa escolha pela profissão com educação, não estaríamos mais trabalhando nisto. E a imprensa tem sido muito hábil e perfeccionista em excluir a voz do educador de suas páginas. Não vemos os professores serem perguntados sobre a escola.

Agora mesmo no RS, em SP e em PR, e também em São Leopoldo, os educadores tem muito a dizer e o que vemos são gestores públicos, secretários de educação e técnicos que sequer botaram um pé em sala de aula na condição de professores do ensino básico. A grande maioria deles são gerentes de contas ou produtos de barganhas políticas conjunturais e eleitorais. Há um sequestro da educação e uma tunga do nosso trabalho e reflexão sobre educação, por sujeitos que mal compreendem nossas condições, ideias e atividades reais.  A educação e os educadores merecem muito mais respeito e muito mais consideração e o fato de termos no Rio Grande do Sul um governador eleito que fez piada sobre o salário dos educadores demonstra que este respeito não deve vir apenas da classe política, que esta conta não é somente uma conta política, mas sim também uma conta social,  porque também nos deve mais respeito a maioria da sociedade.

O que tem de nababo, especialista, consultor, sabidinho e metido falando em educação isto e educação aquilo que não trabalharam um dia com tal atividade e com ares de especialista por ai é um negócio para lá de estúpido. Estão completamente por fora, emitindo opinião e juízo sem saber da missa a metade. E a maioria gera apenas mais confusão sobre o assunto. Um exemplo disto foi a lei de gestão democrática de nosso estado e outro é a proposta de promover censura ou filtro ideológico na escola.   

Curiosamente também conheço milhões de pessoas que vivem dando palpite, mas que já recusaram a educação básica como opção de trabalho. Assim, baseiam suas opiniões em grande parte em suas frustrações próprias e incompreensões próprias do processo educacional, de sua realidade, desafios, objetivos e dos próprios cavacos do ofício. Dai fica fácil falar...Alguém acredita mesmo  que a solução da educação será construída por quem não está comprometido com ela? Ou por quem frente ao primeiro insucesso, ou boato ou desafio, opta por correr da atividade e não encarar e superar suas mazelas? Por quem está de passagem ou circunstancialmente envolvido com a educação? Ora, já faz muito tempo que todos sabemos e que nos ensinaram que não é razoável perguntar ao inexperiente como tornar a experiência melhor. A voz da experiência não pode ser negligenciada e aqueles que são comprometidos com a educação devem ser mais considerados e ouvidos.

Para terminar e contemplar aqueles que já devem estar refletindo sobre as implicações do que digo, vou enunciar algo que é para mim radicalmente fundamental no tema da educação: se queremos uma sociedade realmente democrática, e se reconhecemos que para tal precisamos de uma educação democrática, então todo projeto educacional deve passar sim pelo crivo, discussão, debate, apreciação e reflexão dos educadores e ser bem adequado a uma “vontade geral dos educadores” senão será sempre um projeto passageiro, transitório e episódico que não irá contribuir para a consolidação de uma educação de qualidade para todos.


Sendo assim, poderemos finalmente superar e consolidar avanços na educação brasileira, gaúcha e leopoldense, sem sofrer tanto com suscetibilidades eleitorais e prioridades alheias e externas à educação e sujeitas ao sabor e flutuação da ignorância, da insensatez ou do capricho coletivo.

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