Em Janeiro de 2011, ao tomar posse
a Presidenta Dilma Rousseff expressou em seu discurso um compromisso em ouvir
os educadores. De lá para cá as coisas não tem melhorado neste sentido não. Penso
que ao saber que precisamos ouvir mais os professores que estão em sala de aula
não estamos dizendo que não podemos ouvir os demais cidadãos e sujeitos sociais.
Agora creio que precisamos retomar este debate e melhorar em muito o nível e a
qualidade desta consideração.
Precisamos abandonar de vez este
impulso de buscar soluções para a educação em grandes intelectuais que estão
fora das escolas fundamentais e secundárias. Não se trata de negligenciar suas
opiniões, posições e convicções, nem de desprezar novas abordagens e propostas,
muito menos de proibir alguém de dar opinião ou falar sobre educação. Por
melhores que sejam as idéias, os teóricos, as leituras e os diagnósticos e
propostas, é preciso muita práxis educativa e concreta para construir
alternativas dentro das escolas e em diálogos com os educadores.
Penso que este processo de
esvaziamento da educação e de afastamento da comunidade e dos pais das escolas
se deve também ao esvaziamento do sentido da escola e de sua importância pelo especialista
ou palpiteiro externo, mas também pela adoção de um hábito pernicioso e
irresponsável e que é carregado de desprezo e desconsideração pela voz dos
educadores.
Eu expresso isto não por
preconceito com intelectuais, teóricos ou cidadãos, mas é que percebo um
processo pesado de aumento da responsabilidade, censura e intervenção
tecnicista na educação e um esvaziamento do papel reflexivo e político do
sujeito educador. O exemplo é que está cheio de imbecil falando besteira sobre
educação, inclusive com mandatos e a última coisa que fazem é perguntar
democrática e coletivamente aos educadores o que eles acham, pensam, sabem, consideram
melhor e etc.
Nos tratam, em muitos e demasiados
casos, como se nossa pauta fosse exclusivamente economicista, como se nós fossemos
exclusivamente funcionários desta sociedade em que vivemos e não sujeitos comprometidos
e que dão sentido a suas existências participando deste processo social. Esquecem
ou não refletiram ainda que se a questão economicista fosse determinante e
prioritária de nossa escolha pela profissão com educação, não estaríamos mais
trabalhando nisto. E a imprensa tem sido muito hábil e perfeccionista em
excluir a voz do educador de suas páginas. Não vemos os professores serem perguntados
sobre a escola.
Agora mesmo no RS, em SP e em PR,
e também em São Leopoldo, os educadores tem muito a dizer e o que vemos são gestores
públicos, secretários de educação e técnicos que sequer botaram um pé em sala
de aula na condição de professores do ensino básico. A grande maioria deles são
gerentes de contas ou produtos de barganhas políticas conjunturais e
eleitorais. Há um sequestro da educação e uma tunga do nosso trabalho e reflexão
sobre educação, por sujeitos que mal compreendem nossas condições, ideias e
atividades reais. A educação e os educadores
merecem muito mais respeito e muito mais consideração e o fato de termos no Rio
Grande do Sul um governador eleito que fez piada sobre o salário dos educadores
demonstra que este respeito não deve vir apenas da classe política, que esta
conta não é somente uma conta política, mas sim também uma conta social, porque também nos deve mais respeito a maioria
da sociedade.
O que tem de nababo,
especialista, consultor, sabidinho e metido falando em educação isto e educação
aquilo que não trabalharam um dia com tal atividade e com ares de especialista por
ai é um negócio para lá de estúpido. Estão completamente por fora, emitindo
opinião e juízo sem saber da missa a metade. E a maioria gera apenas mais confusão
sobre o assunto. Um exemplo disto foi a lei de gestão democrática de nosso
estado e outro é a proposta de promover censura ou filtro ideológico na escola.
Curiosamente também conheço
milhões de pessoas que vivem dando palpite, mas que já recusaram a educação
básica como opção de trabalho. Assim, baseiam suas opiniões em grande parte em
suas frustrações próprias e incompreensões próprias do processo educacional, de
sua realidade, desafios, objetivos e dos próprios cavacos do ofício. Dai fica
fácil falar...Alguém acredita mesmo que
a solução da educação será construída por quem não está comprometido com ela? Ou
por quem frente ao primeiro insucesso, ou boato ou desafio, opta por correr da
atividade e não encarar e superar suas mazelas? Por quem está de passagem ou circunstancialmente
envolvido com a educação? Ora, já faz muito tempo que todos sabemos e que nos
ensinaram que não é razoável perguntar ao inexperiente como tornar a experiência
melhor. A voz da experiência não pode ser negligenciada e aqueles que são
comprometidos com a educação devem ser mais considerados e ouvidos.
Para terminar e contemplar
aqueles que já devem estar refletindo sobre as implicações do que digo, vou
enunciar algo que é para mim radicalmente fundamental no tema da educação: se
queremos uma sociedade realmente democrática, e se reconhecemos que para tal precisamos
de uma educação democrática, então todo projeto educacional deve passar sim
pelo crivo, discussão, debate, apreciação e reflexão dos educadores e ser bem adequado
a uma “vontade geral dos educadores” senão será sempre um projeto passageiro,
transitório e episódico que não irá contribuir para a consolidação de uma
educação de qualidade para todos.
Sendo assim, poderemos finalmente
superar e consolidar avanços na educação brasileira, gaúcha e leopoldense, sem
sofrer tanto com suscetibilidades eleitorais e prioridades alheias e externas à
educação e sujeitas ao sabor e flutuação da ignorância, da insensatez ou do capricho
coletivo.
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