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sábado, 19 de setembro de 2009

Nossa Virtudes, Nossas Façanhas

A REVOLUÇÃO FARROUPILHA situa-se na história do Rio Grande como um problema interpretativo. As declarações dos seus líderes ao longo dos seus dez anos de determinada independência frente ao Império (1835-1945), o que é uma façanha, oscilaram entre o separatismo republicano e liberal e a mera constestação dentro do sistema monárquico (FLORES. 1998). Mas este problema não tira o mérito da iniciativa social - a sua virtude, representada pela revolução. Pois a revolução era liberal em suas divisas LIBERDADE, IGUALDADE e HUMANIDADE e, ao mesmo tempo, tinha o objetivo de movimentar um pouco mais a população gaúcha já tão adaptada à defesa não bem correspondida do território Brasileiro. E isso fez-se HISTÓRIA, colocando-nos como protagonistas dos grandes momentos do Brasil.

Sabe-se, com rigor, que as relações políticas e econômicas entre o Regime Monárquico e os cidadãos da Província de São Pedro não eram lá essas coisas. Do ponto de vista ECONÕMICO, a província era sobretaxada pelo Império. Do ponto de vista POLÍTICO, a Província de São Pedro era absolutamente submetida às vontades do Império, com nenhum poder de auto-determinação. Sejam estes cidadãos poucos dentro de uma sociedade de classes cuja hierarquia era determinada pela propriedade da terra, das armas ou da lei, ou os muitos que constituiam a base social de escravos, peões, colonos, soldados, pequenos comerciantes, etc.

De qualquer modo, o maior mérito da Revolução Farroupilha talvez tenha sido justamente ter provocado, semeado e aprofundado uma certa UNIDADE POPULAR de caráter liberal, que fizesse frente aos poderes ilimitados e excessivos do regime e de seus representantes. A Revolução Farroupilha, de certo modo, nem foi uma revolução, pois que a ruptura por ela produzida não foi duradoura, mas e daí? Afinal, a Revolução Francesa também teve seus retrocessos em Napoleão e após Napoleão. E a Revolução Russa idem.

Mas porque, então, nos orgulhamos dela? Será que é porque ela foi farroupilha, farrapa, ou seja, um levante dos miseráveis, dos maltrapilhos, dos esfarrapados? Em parte sim, mas já se sabe bem que a tal Revolução Farroupilha tinha um LIBERALISMO dirigido à satisfação dos interesses da elite dos estancieiros e dos grandes comerciantes exportadores e importadores, não aos anseios de liberdade do populacho. Mas isso não rebaixa o nosso orgulho. Por quê? Talvez porque a Revolução Farroupilha seja a extrema expressão da virtude preferida aqui nesse território.

Pois então vejamos. O que há de comum entre os Heróis da Revolução, as diversas batalhas da Revolução e os Movimentos Revolucionários, isto é, em todos os PROTAGONISTAS e FATOS da Revolução, mesmo naqueles que se colocavam ao lado do Império? O que tinham de "mais" Bento Gonçalves, Davia Canabarro, Giuseppe Garibaldi, Anita Garibaldi, Bento Manuel Ribeiro, General Neto e os "outros"? O que tinham de "mais" a tomada da capital pelos Farrapos, a Batalha de Fanfa, o Combate do Taquari, a Retomada da Capital e etc.? Qual era a graça desses senhores e dessa senhora, quais eram as graças destes eventos?

Parece que, indubitavelmente, a Revolução Farroupilha serve para nos indicar uma certa VIRTUDE que produzirá sempre FAÇANHAS quando for acompanhada dos meios adequados para o seu exercício. Isto é, ela aponta a virtude da coragem a qual, como já dizia o Filosófo é a condição para o exercício de qualquer outra virtude, mas que depende de um juízo avaliativo prudencial que seja capaz de medir as possibilidades de sucesso, para a evitar a gravidade da desventura ou da infelicidade pela iniciativa tomada.

Os Gaúchos admiram a CORAGEM e, ao mesmo tempo, não se sentem muito bem até hoje quando tentam rebaixá-los ou dominá-los. Isso tudo tem um caráter profundamente libertário, pois, apesar de suas características conservadoras, os gaúchos estimam também a liberdade de pensamento - um sinal de coragem, e, assim, julgam até comum e adaptam-se muito bem às diferenças de opinião, posição e preferência. Talvez essa seja a lição importante hoje, saber que nossas façanhas só são possíveis por causa de nossas virtudes. Esta lição que a Revolução Farroupilha nos coloca, com mérito e rigor, merece aplicação no presente e no desenho do futuro.

COMISSÃO ORGANIZADORA
DA SEMANA FARROUPILHA
ESCOLA ESTADUAL OLINDO FLORES DA SILVA
SETEMBRO DE 2000

PS.: Este é um texto feito para um belo trabalho realizado no ano de 2000 na escola. Houve, inclusive, acampamento Farroupilha na escola naquele ano. As controvérsias histórica merecem uma discussão à parte. recomendo agora uma visita no Blog Diário gauche que faz um bom debate sobre a comparação entre o 20 de setembro e o 14 de julho na história do Rio Grande do Sul. Um debate bem respeitável e admirável por sinal. Recomendo também a leitura de textos sobre patriotismo aqui neste Blog e sobre o Hino do Rio Grande no Blog do Nassif.

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