POR QUEM AS BANDEIRAS TREMULAM?
POR QUEM AS VOZES ECOAM?
Nesta semana um velho amigo me
perguntou o que explicava a minha entrega e de muitos outros como eu e toda a
nossa surpreendente dedicação na defesa de um governo, um partido, um projeto e
de determinadas pessoas. Foi numa manhã em que estávamos ali juntos enterrando
o corpo de um grande talento musical de nossa geração - Paulo Pink - e ele não
me perguntava isso como um deboche, para me ofender ou para me provocar, era
uma pergunta singela e carinhosa - Como é que vocês conseguem? - Fazia isto por
estar realmente surpreso - e eu também me surpreendo com isto - que todos os
seus amigos engajados na política de esquerda no Brasil e em certos partidos
estavam em estado de alta tensão. Ele me olhou nos olhos e disse que me via
exausto e cansado e que tentava me entender. Apresentou um conjunto de
perguntas bem razoáveis e plausíveis que ele no seu recôndito lar e vida quase
reclusa de um aposentado que se dedica a conseguir viver com tranquilidade sua
vida não precisa saber. Eu, com muita calma, passei a arrolar um conjunto de
políticas e propostas políticas a serem executadas e, após passar pela
indicação de que no fundo lutava por minhas filhas, meus netos que não conheço
ainda, meus alunos e as noivas gerações sempre desde muito tempo e muitas vezes
sem ver a cor da conquista - os exemplos são tristes, a democracia foi
conquistada para mim somente em 1989, quando eu já tinha 24 anos e militava a
mais de dez, nosso amigo Paulo Pink estava nos últimos tempos dedicado a passar
no vestibular de Música da UFRGS, o que não pode fazer durante todos os anos
70, 80, 90 e 00. Havia feito um curso na IFRS e sonhava fazer isto, não deu
tempo. E então eu apontei para ele a luta dos sem terra, falei do Master do
Francisco Julião que antes do golpe da ditadura em 1964 lutava pela reforma
agrária e lembrei da fundação do MST na Fazenda Anonni, o Argemi testemunhou o
diálogo e assentia com a cabeça, pois então meu amigo me perguntou se isso era
uma luta mesmo, daí passei a citar as vitimas do Massacre de Eldorado dos
Carajas, que ocorreu a 20 anos e cujos mandantes e assassinos continuam de
certa forma impunes e que a reforma agrária ainda não foi feita. Não lembrei na
hora da Freira Doroty Stang assassinada covardemente porque acompanhava e
ajudava na organização de sem terras, não lembrei de muitos outros que
continuam sendo assassinados o que inclui a prefeita Dorcelina Folador de uma
cidade chamada de Mundo Novo no Mato Grosso do Sul por sua ligação com os sem
terra. Bem, ao final do diálogo eu dizia mais ou menos assim, a gente não
desiste de lutar por mais justiça, mais direitos, mais mudanças e uma sociedade
melhor, alguns não acreditam, mas é também a luta pela democracia que é a
condição fundamental para podermos disputar o poder e implementar estes
programas. Após o final do enterro, após ficarmos ali vendo nosso ente querido
e lamentarmos junto de outros familiares e amigos, ele veio me dar um abraço e
dizer apenas: não desista, eu nem sei fazer este tipo de coisa que vocês fazem,
mas eu sei que nós precisamos alguém que faça para este país ser melhor.
Em memória de todos que lutam...
Em memória de todos que amam...
Em memória de todos que sonham...
Em memória de todos que abraçam..
Em memória de todos que cantam...
Em memória de todos que caem...
À todos que levantam...
À todos que andam...
Aos que marcham...
Aos que gritam:
#NãoVaiTerGolpe
#ChegaDeGolpes
o Movimento Sem Terra sofre em seu grande corpo humano, mas
o povo vai continuar lutando por terra, justiça e democracia!
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