Ontem dei dois nocautes
argumentativos em duas pessoas que bradaram à minha volta argumentos fascistas
e reacionários contra qualquer forma de manifestação ou movimento político e
senti que o que mais calou fundo para eles foi apontar que de fato toda a
violência que eles pregam contra as violências que eles denunciam também ira
mais cedo ou mais tarde recair para eles.
Lembrei que o tempo passa, muitos
envelhecemos e seremos substituídos ou sucedidos por outros e que a vida acaba
um dia e que de fato a morte ou o fim é que nos chega absolutamente igual para
todos e que a questão importante é o que vamos fazer até lá. Olhei para eles e
vi pessoas estáticas, sem mobilidade alguma, com uma rotina entediante e muitas
queixas em relação a perturbação ou algaravia que causam os que lutam e que
fazem movimentos sociais e vi, então, como de fato eles se encontram passivos,
resmungando e assistindo a história passar sobre seus olhos. E entendi porque
eles reclamam. Porque a mobilidade dos outros, a luta pela vida dos outros e a
movimentação e agitação dos outros prova o quanto eles estão parados, o quanto
eles não tem mais nenhuma serventia e não fazem mais nenhuma diferença qualitativa
neste mundo. E eles adoram defender seus patrimônios imobilizados, seus
neurônios estabilizados e seus axônios calcificados.
Pela primeira vez na minha vida
olhei nos olhos deles e não senti raiva alguma, nem qualquer tipo de mágoa ou
rancor, nada de pensar em lhes refutar mais um pouco, mas senti tão somente
PENA, muita pena deles, por suas vidas desperdiçadas e cujo sentido sequer
floreia alguma paixão, alguma grande reflexão e algum grande propósito e me dei
por conta também o que o dinheiro e certo simulacro de poder faz com estas
pessoas. Elas não somente são contrárias a qualquer mudança estrutural em nossa
sociedade, mas elas simplesmente não querem viver esta vida neste tempo, não
querem saber, não querem ouvir e não querem pensar um pouco mais sobre as
perspectivas dos outros.
Poderiam, como pelo menos um
destes o fez flagramentemente, sorrir um pouco ao flagrar a contradição entre a
vitalidade de quem luta e daqueles que sentados no café, no bar ou sofá olham,
resmungam e latem ao ver a caravana da história passar, e, ao fazer assim, se
libertar desta vida aprisionada.
E, então, me lembrei o quão
tristes devem ser aqueles que se aprisionam nas certezas da velhice, na
nostalgia do que já foi e vão se extinguindo a nossa frente, reduzindo suas
funções vitais e mentais enquanto a vida transborda a sua volta.
Um tempo atrás disseste quase a
mesma coisa, Marcia Tiburi, com precisão: "O fascista não sente angústia.
E isso porque a morte não é, para ele, uma alternativa. Ele não lembra que vai
morrer. Ele não morre simbolicamente como acontece às pessoas em geral algumas
vezes na vida. Ora, o fascista não morre porque não pode morrer. Não morre
justamente porque, como o confirma sua rigidez, ele já está morto."
Jogar ou lançar um fascista
contra sua própria finitude parece ser a melhor refutação.
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