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domingo, 17 de abril de 2016

AS COISAS NÃO PODEM MUDAR E EU NÃO POSSO PASSAR, MAS ELAS MUDAM E NÓS VAMOS PASSAR SIM

Ontem dei dois nocautes argumentativos em duas pessoas que bradaram à minha volta argumentos fascistas e reacionários contra qualquer forma de manifestação ou movimento político e senti que o que mais calou fundo para eles foi apontar que de fato toda a violência que eles pregam contra as violências que eles denunciam também ira mais cedo ou mais tarde recair para eles.

Lembrei que o tempo passa, muitos envelhecemos e seremos substituídos ou sucedidos por outros e que a vida acaba um dia e que de fato a morte ou o fim é que nos chega absolutamente igual para todos e que a questão importante é o que vamos fazer até lá. Olhei para eles e vi pessoas estáticas, sem mobilidade alguma, com uma rotina entediante e muitas queixas em relação a perturbação ou algaravia que causam os que lutam e que fazem movimentos sociais e vi, então, como de fato eles se encontram passivos, resmungando e assistindo a história passar sobre seus olhos. E entendi porque eles reclamam. Porque a mobilidade dos outros, a luta pela vida dos outros e a movimentação e agitação dos outros prova o quanto eles estão parados, o quanto eles não tem mais nenhuma serventia e não fazem mais nenhuma diferença qualitativa neste mundo. E eles adoram defender seus patrimônios imobilizados, seus neurônios estabilizados e seus axônios calcificados.

Pela primeira vez na minha vida olhei nos olhos deles e não senti raiva alguma, nem qualquer tipo de mágoa ou rancor, nada de pensar em lhes refutar mais um pouco, mas senti tão somente PENA, muita pena deles, por suas vidas desperdiçadas e cujo sentido sequer floreia alguma paixão, alguma grande reflexão e algum grande propósito e me dei por conta também o que o dinheiro e certo simulacro de poder faz com estas pessoas. Elas não somente são contrárias a qualquer mudança estrutural em nossa sociedade, mas elas simplesmente não querem viver esta vida neste tempo, não querem saber, não querem ouvir e não querem pensar um pouco mais sobre as perspectivas dos outros.

Poderiam, como pelo menos um destes o fez flagramentemente, sorrir um pouco ao flagrar a contradição entre a vitalidade de quem luta e daqueles que sentados no café, no bar ou sofá olham, resmungam e latem ao ver a caravana da história passar, e, ao fazer assim, se libertar desta vida aprisionada.

E, então, me lembrei o quão tristes devem ser aqueles que se aprisionam nas certezas da velhice, na nostalgia do que já foi e vão se extinguindo a nossa frente, reduzindo suas funções vitais e mentais enquanto a vida transborda a sua volta.

Um tempo atrás disseste quase a mesma coisa, Marcia Tiburi, com precisão: "O fascista não sente angústia. E isso porque a morte não é, para ele, uma alternativa. Ele não lembra que vai morrer. Ele não morre simbolicamente como acontece às pessoas em geral algumas vezes na vida. Ora, o fascista não morre porque não pode morrer. Não morre justamente porque, como o confirma sua rigidez, ele já está morto."


Jogar ou lançar um fascista contra sua própria finitude parece ser a melhor refutação.

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