MERLI - DEBATE NA 33• FEIRA DO
LIVRO DE SÃO LEOPOLDO - RS
Nesta quinta-feira, às 19 horas,
vou conversar com a Professora Elvira Hoffmann, apaixonada pela série e com o
público que prestigiar o evento. Tudo com a mediação e a proteção do mestre
Jari da Rocha, Diretor de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura e Relações
Internacionais de São Leopoldo.
A SÉRIE E O ENSINO DE FILOSOFIA
NO ENSINO MÉDIO
Convido para comparecerem ao
debate sobre esta série e apresento algumas considerações sobre ela aqui. Sem
spoiler nem da série e nem da minha fala sobre ela para a ocasião.
A série tem como personagem
principal Merli que é um professor de filosofia razoavelmente excêntrico,
crítico e que se arrisca muitas vezes em relação ao ambiente escolar, em
algumas errando e em outras acertando, mas que é muito dedicado e que
estabelece uma relação intensa e dialética com seus alunos e alunas e também
colegas na escola. É um personagem muito bem construído pelos autores e pelo
ator, cujas experiências apresentam uma espécie de somatório de muitas
experiências de outros educadores que são orientados pela ousadia e
criatividade. Ele encara as contradições da vida e provocativamente gera nos
alunos e alunas uma espécie muito singular de autoconhecimento e
autocompreensão que os estimula a ter uma vida refletida em suas relações com
os outros seres humanos.
Na série, é importante destacar,
os jovens alunos, meninos e meninas apresentam características muito bem
boladas e construídas em seus personagens. Apesar da turma ter 25 alunos, a
série se concentra nas vivências e experiências de 11 alunos e alunas. Os demais
da turma são coadjuvantes sendo citados e nominados apenas mais cinco. Os
demais alunos da escola figuram no cenário dando uma bela ambientação e ideia
de um ambiente escolar completo. Destaco em relação a escola mais duas coisas.
De um lado a estrutura física da escola é razoável e também o fato da escola
ficar em frente a uma bela praça arborizada - na minha opinião isso poderia ser
uma diretriz excelente para todas as escolas brasileiras.
Em quarenta episódios a série
apresenta os três anos na formação do ensino médio de jovens espanhóis, em
Barcelona, em uma escola pública de ensino médio. A série nos permite
estabelecer claramente uma leitura da experiência formativa dos alunos e
alunas, as contradições e conflitos geracionais entre alunos e pais, os
conflitos e desafios pedagógicos inerentes ao espaço escolar e também consolida
- ao meu ver - um paradigma educativo que é fundado no conhecimento dos alunos
e alunas por parte dos professores.
Um outro aspecto muito importante
e bem trabalhado na série é a questão da educação afetiva e sexual dos
adolescentes com exemplos muito bem trabalhados sobre este tema, seja no
universo dos jovens, seja no universo dos adultos, pais e professores. Ao mesmo
tempo, a série nos permite ter uma visão da educação como uma atividade e uma
prática de cuidado e de proteção, apoio, amparo e compreensão dos jovens. As
experiências em três anos mudam a compreensão dos jovens e promovem o seu
amadurecimento, melhorando suas relações sociais e afetivas. As questões de sexualidade
e gênero tem papel fundamental também ao longo de toda a trama.
No que respeita aos conteúdos
filosóficos ministrados pelo professor Merli é preciso destacar a inclusão de
autores mais contemporâneos a uma série de autores considerados mais clássicos.
O tratamento resumido dos autores é exemplar e auxilia muito aos professores e
professoras da disciplina a repensarem ou trabalharem estes autores e os temas
elegidos em cada um deles. Creio que a principal lição pedagógica da série se
expressa no seguinte: é possível lecionar filosofia no ensino médio desde que
se estabeleça uma relação entre os temas dos autores e as questões existenciais
atuais suscitadas pelas vivências dos alunos, alunas, professores e
professoras. Em meio a isso tudo destaco quatro ou cinco temas que me parecem
centrais na série toda: a sinceridade, o segredo, a surpresa, a mentira e a
verdade. E isso no que toca a questões de adultos e de jovens.
Por fim, a minha impressão
pessoal é que a série valoriza de forma muito adequada um método dialético e
libertário de ensino de filosofia, quer dizer, o uso do diálogo, da
interrogação e da provocação sistemática e ousada da leitura, reflexão e
expressão dos alunos e alunas em relação a si mesmos e ao mundo, dissolvendo
preconceitos e confrontando as tendências a mera reprodução de conteúdos,
convenções e tradições.
Daniel Adams Boeira - Professor
de filosofia licenciado na UFRGS em 1993 e que exerce o magistério em escola
estadual desde 1998, atualmente na
Escola Estadual Olindo Flores da Silva,
em São Leopoldo, Rio Grande do Sul.
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