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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Merli - 1


MERLI - DEBATE NA 33• FEIRA DO LIVRO DE SÃO LEOPOLDO - RS

Nesta quinta-feira, às 19 horas, vou conversar com a Professora Elvira Hoffmann, apaixonada pela série e com o público que prestigiar o evento. Tudo com a mediação e a proteção do mestre Jari da Rocha, Diretor de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais de São Leopoldo.

A SÉRIE E O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

Convido para comparecerem ao debate sobre esta série e apresento algumas considerações sobre ela aqui. Sem spoiler nem da série e nem da minha fala sobre ela para a ocasião.

A série tem como personagem principal Merli que é um professor de filosofia razoavelmente excêntrico, crítico e que se arrisca muitas vezes em relação ao ambiente escolar, em algumas errando e em outras acertando, mas que é muito dedicado e que estabelece uma relação intensa e dialética com seus alunos e alunas e também colegas na escola. É um personagem muito bem construído pelos autores e pelo ator, cujas experiências apresentam uma espécie de somatório de muitas experiências de outros educadores que são orientados pela ousadia e criatividade. Ele encara as contradições da vida e provocativamente gera nos alunos e alunas uma espécie muito singular de autoconhecimento e autocompreensão que os estimula a ter uma vida refletida em suas relações com os outros seres humanos.

Na série, é importante destacar, os jovens alunos, meninos e meninas apresentam características muito bem boladas e construídas em seus personagens. Apesar da turma ter 25 alunos, a série se concentra nas vivências e experiências de 11 alunos e alunas. Os demais da turma são coadjuvantes sendo citados e nominados apenas mais cinco. Os demais alunos da escola figuram no cenário dando uma bela ambientação e ideia de um ambiente escolar completo. Destaco em relação a escola mais duas coisas. De um lado a estrutura física da escola é razoável e também o fato da escola ficar em frente a uma bela praça arborizada - na minha opinião isso poderia ser uma diretriz excelente para todas as escolas brasileiras.

Em quarenta episódios a série apresenta os três anos na formação do ensino médio de jovens espanhóis, em Barcelona, em uma escola pública de ensino médio. A série nos permite estabelecer claramente uma leitura da experiência formativa dos alunos e alunas, as contradições e conflitos geracionais entre alunos e pais, os conflitos e desafios pedagógicos inerentes ao espaço escolar e também consolida - ao meu ver - um paradigma educativo que é fundado no conhecimento dos alunos e alunas por parte dos professores.

Um outro aspecto muito importante e bem trabalhado na série é a questão da educação afetiva e sexual dos adolescentes com exemplos muito bem trabalhados sobre este tema, seja no universo dos jovens, seja no universo dos adultos, pais e professores. Ao mesmo tempo, a série nos permite ter uma visão da educação como uma atividade e uma prática de cuidado e de proteção, apoio, amparo e compreensão dos jovens. As experiências em três anos mudam a compreensão dos jovens e promovem o seu amadurecimento, melhorando suas relações sociais e afetivas. As questões de sexualidade e gênero tem papel fundamental também ao longo de toda a trama.

No que respeita aos conteúdos filosóficos ministrados pelo professor Merli é preciso destacar a inclusão de autores mais contemporâneos a uma série de autores considerados mais clássicos. O tratamento resumido dos autores é exemplar e auxilia muito aos professores e professoras da disciplina a repensarem ou trabalharem estes autores e os temas elegidos em cada um deles. Creio que a principal lição pedagógica da série se expressa no seguinte: é possível lecionar filosofia no ensino médio desde que se estabeleça uma relação entre os temas dos autores e as questões existenciais atuais suscitadas pelas vivências dos alunos, alunas, professores e professoras. Em meio a isso tudo destaco quatro ou cinco temas que me parecem centrais na série toda: a sinceridade, o segredo, a surpresa, a mentira e a verdade. E isso no que toca a questões de adultos e de jovens.

Por fim, a minha impressão pessoal é que a série valoriza de forma muito adequada um método dialético e libertário de ensino de filosofia, quer dizer, o uso do diálogo, da interrogação e da provocação sistemática e ousada da leitura, reflexão e expressão dos alunos e alunas em relação a si mesmos e ao mundo, dissolvendo preconceitos e confrontando as tendências a mera reprodução de conteúdos, convenções e tradições.

Daniel Adams Boeira - Professor de filosofia licenciado na UFRGS em 1993 e que exerce o magistério em escola estadual desde 1998,  atualmente na Escola  Estadual Olindo Flores da Silva, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul.

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