Enquanto a roda da história ainda
está girando e podemos dizer alguma coisa antes do fim definitivo de nossa
liberdade e da democracia brasileira.
Recebi um questionamento ou
pedido de auxílio e orientação de um ex-aluno sobre dois temas de Marshall
MacLuhan. Os dois temas não me eram muito distantes, mas fui rever isso.
Trata-se do que ele apresenta como distinção entre meios quentes e meios frios
de comunicação e também o que é paradigma midiológico ou tecnológico?
Confessei de saída que não tinha
domínio do autor. Em seguida me dispus a dar uma “olhadinha”. Fazendo isso me
defrontei com dois temas que estão relacionados diretamente a um tema que já me
desafia em reflexões sobre o que ocorre na cultura e nas sociedades que vivem
fenômenos regressivos de volta a sistemas mais autoritários e menos
democráticos e o abandono de uma perspectiva emancipatória ou progressista.
A única pista que encontrei sobre
isso em minhas especulações – que merece verificação ou demonstração, refutação
ou correção dos historiadores e dos especialistas, é basicamente certa
coincidência nos períodos históricos desses processos: em quase todos que
observei há uma espécie de avanço dos meios de comunicação ou de circulação de
informação e de conhecimento que causa certo atrito entre as visões
tradicionais e as visões mais elaboradas ou reflexivas e no mais das vezes as
visões tradicionais ganham num primeiro momento por simplificação e as forças
progressistas resistem – com diversos tipos de vítimas, entre elas a verdade e
a justiça entre os homens e mulheres – para mais adiante conquistarem algum
terreno, após uma árdua disputa de valores e de concepções de vida e de
sociedade. Abaixo meu debate que deixo como contribuição especulativa e
prospectiva talvez de alguma saída progressista ao impasse que vivemos com
fascistas, golpistas, usurpadores, manipuladores e interesseiros inescrupulosos
que fazem pouco caso da democracia ou em relação a vida dos cidadãos comuns,
ainda que apelem justamente ao sentimento de insegurança dos cidadãos comuns e
“banais” para triunfarem.
A segunda questão do paradigma
midiológico é simples para mim. Envolve apenas a ideia de que uma nova
tecnologia de comunicação traz consigo um novo paradigma dominante. Observo que
o conceito de paradigma foi utilizado de forma muito importante em filosofia da
ciência por Thomas Kuhn nos anos 60 para marcar as mudanças de concepção e
visão do mundo que ocorrem quando as ciências mudam, após uma árdua batalha
entre paradigmas concorrentes para explicar os seus fenômenos. Após, um período
em que a ciência normal e a ciência revolucionária concorrem disputando entre
elas seguidores ou após o desaparecimento dos defensores da ciência normal,
ocorre um período de transição e a mudança.
O termo paradigma tem sido usado
e disseminado largamente na academia e já está de certa forma popularizado e
banalizado também. Mas veremos adiante que esse é uma espécie de risco de
teorias novas ou de novos conceitos tendem a ser apropriados, simplificados e
mesmo que suas definições sejam muito claras – o que no caso de Kuhn é
controverso por muitas outras razões internas ao tema de filosofia da ciência –
ocorre com ele um empobrecimento e achatamento. Pode se dizer que as teorias de
Darwin, Comte, Marx, Freud, Nietzsche, Foucault e muitos outros e outras
autoras sofrem o mesmo processo.
Assim, apesar de achar essa
questão do paradigma mais importante do ponto de vista histórico, cabe aqui uma
aplicação mais ampla ao meu ver. Você pode compreender muitos processos do tipo
de uma revolução industrial ou tecnológica e também tentar analisas as suas
consequências sociais, políticas e culturais a partir disso. Em se tratando de
formas e novas formas de produção, disseminação, distribuição e deturpação de
conhecimento, comunicação, informação e formação de opinião veremos o tamanho
da minha especulação e seu alcance no tempo atual.
Aliás, tenho pensado muito que a
cada avanço nas comunicações, desde Gutemberg ocorrem dois processos
combinados. De um lado, o acesso a mais informação e conhecimento e, de outro
lado, uma espécie de rebaixamento e simplificação do conhecimento e da
informação que marca os conflitos de opiniões e, também, algo como uma
regressão cultural ou um retrocesso civilizatório que nos coloca de novo frente
aos abismos da barbárie e das guerras de extermínio. Os exemplos desses meios
novos: literatura, jornal, novelas, revistas, rádio, televisão, internet,
telefonia, não exatamente nessa ordem. Após um momento ideológico de
instabilidade e dos seus riscos regressivos, tipo fascismo na América, na
Europa e no mundo, mas quem quiser pode dar uma olhadinha nas revoluções
modernas, no século XIX e todo o século XX, como lhes aprouver, vejo que ocorre
um reequilíbrio e um avanço de forças progressistas.
Se minha tese está correta, o que
ele chama de meio quente não existe mais porque, por maior que seja a definição
da mensagem sempre vai haver participação e distorção ou interpretação o que
vai diversificar o sentido e rebaixar a qualidade do conteúdo por simplificação
e banalização.
Tem um fenômeno, assim me parece,
semelhante em economia no que eles chamam de taxa de confiança que envolve a
formação das expectativas nos agentes econômicos e sociais e a disseminação de
uma certa interpretação após concorrência dos fenômenos econômicos que chegam
simplificados aos consumidores. As ondas de consumo de determinados produtos e
o marketing por traz disso, faz uso desse mesmo mecanismo. Simplificação e
confecção de um atrativo ou embalagem ao produto ou mensagem.
Para mim, usando a terminologia
de MaCLuhan, com certa distorção deliberada e intencional, esse processo
deveria ser considerado hot ou dançante enquanto o outro seria mais passivo e
contemplativo. Ao contrário do que ele mesmo propugnava. Quanto maior a
definição, mais quente o processo. Não sei se me entendem ou se me faço
compreender. Quero dizer que o que torna uma comunicação mais conflitiva e
poderosa e o que gera um maior engajamento é justamente a sua alta definição e
seu alto poder de disseminação. Então, quanto maior a disseminação e definição
maior a influência e a participação dos expectadores na defesa de suas ideias.
Essa seria a base da manipulação de massas e dos efeitos manadas que temos
assistido no Brasil promovidos por forte direcionamento de retos na mídia dominante
e nos setores dominantes e elitistas contra alternativas progressistas e mais
populares.
Estou, com todo risco inerente a
isso aqui, cruzando áreas bem grandes de conhecimento aqui. Mas é uma reflexão
especulativa que pretende apenas provocar.
Quando Macluhan fala em menos
informações, nos meios frios, em outras palavras, ele parece esquecer que essa
simplificação dissemina standards de interpretação, chavões e simplificações
que tendem a ser mais conflitivas porque jogam fora o que já existe de qualitativo
no tema.
Meu exemplo objetivo é Bolsonaro
que está conseguindo doutrinar um bando de preguiçosos mentais, com muita anti
intelectualidade e criando uma horda quente de opinião em torno de si com
algumas poucas ideias simples e absurdamente estúpidas que jamais teriam vez se
não fosse esse ciclo de imbecilização e banalização do conhecimento e da
informação que vivemos, com impactos elevados em setores antes imunizados a
isso, como o judiciário, os cursos de direito, economia e outras carreiras de
novel superior. É quase a mesma coisa que Hitler e Goebbels fizeram na
Alemanha. Lá também empresários, intelectuais, quadros superiores de estado e
um populacho caminharam para o sacrifício de seus concidadãos judeus e de si
mesmos em duas guerras.
Curiosamente ele faz isso
acompanhando um ciclo de disseminação da comunicação via celular, smartphones,
redes sociais e quetais. Na mesma onda do Donald Trump.
Bem, chega, vou voltar ao meu
soninho filosófico.
Boa noite!
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