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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

TOMADA DE POSIÇÃO


TOMADA DE POSIÇÃO

Aprendi a observar com mais cuidado as opiniões, posições e expressões dos políticos e dos homens e mulheres públicos, das autoridades e, também, das celebridades em geral, após uma advertência de um professor de filosofia que dizia basicamente que política é a arte de tomar posição. Meu professor João Carlos Brum Torres, não dizia exatamente que era uma arte, mas que o segredo da política é tomar posição. Hoje, passados alguns bons anos dessa lição, eu penso que ele seguia algo como uma inspiração sartreana desde jovem. Não conheço toda a história de militância dele, mas sempre observei suas tomadas de posição e de outros e percebia e percebo o quanto ele valorizava esse gesto e sua responsabilidade nisso. Assim, apesar de nossas divergências partidárias e também algumas refregas eleitorais, sempre pude considerar sua posição como importante no debate. E é assim até hoje, por exemplo, quando ele se posicionou contra o golpe de Temer ou quando considerou um crime o fechamento da FEE – Fundação de Economia e Estatística, entre outras posições que o separavam das iniciativas dos membros do seu partido.   

Ele queria dizer com isso que a questão não era tanto se a posição estava certa ou errada, mas sim que ela demonstrasse uma abordagem alternativa à realidade e à opinião frágil ou fraca sobre ela.

Numa perspectiva mais formal, nós podemos até mesmo fazer inquérito sobre as posições divergentes e tentar monitorar a evolução dos acontecimentos para ver que posições se mostraram acertadas, quais, mesmo erradas ou equivocas, contribuíram para a reflexão pública sobre determinado assunto e, também, quais representavam apenas um beco sem saída ou a mera negação de uma outra perspectiva ou posição.

Na trajetória política deveria ser balanceado isso de alguma forma. Alguns somam pontos por sua lucidez e eventual ousadia em tomar posição, outros perdem pontos por simplesmente vomitarem suas biles, seu ódio, raiva ou grosseria no debate público.

Com o tempo se aprende a observar a mísera diferença entre fanfarrões, oportunistas, parlapatões, grossos e a perceber a grandiosa diferença daqueles que se expressam com responsabilidade e serenidade de tal modo que conquistam nosso respeito e deveriam receber mais atenção do público, enquanto os demais deveriam ser desvalorizados no grande mercado de ideias políticas. Porém, ocorre que de vez em quando observamos uma espécie de surto de insensatez e algumas figuras grosseiras cujo destino deveria ser a nota de pé de página da história, procuram ter capítulo especial como se tivessem algo a dizer, algo a ensinar e algo a fazer, mas não.

Lembrei deste tema da tomada de posição ao saber que uma menina muito querida se posicionou contra o coiso e faz isso muitas vezes ao dia porque não suporta a ideia de ver o Brasil nas mãos desses caras e que tem também muitas precauções contra a mentalidade que ele desperta ou dissemina em seus apoios. Ela toma posição e argumenta todos os dias por #EleNão e #EleNunca.

Eu fico muito orgulhoso ao ver isso. Porque sei que assim ela assume posição e responsabilidade pelos assuntos públicos e vai à medida que o fizer com juízo e serenidade conquistar o respeito público e contribuir de alguma forma para a sociedade. Para aqueles que gostam de ficar sobre o muro, seja por prudência seja por auto preservação, talvez seja importante observar que quem não tem posição ou não contribui no debate público, tem muito pouco a dizer na esfera privada que tenha algum valor e que o valha.

Tomar posição é da essência da política e só quem toma posição compreende o quão sério deveria ser o tratamento dado aos assuntos públicos.



P.S.: Homem fraco em política é aquele que é incapaz de controlar a sua ambição e vaidade nos assuntos públicos. E, em geral, quem não controla essas duas partes de sua alma comete sucessivamente um absurdo ou estupidez atrás do outro. Num seriado que assisto, há um homem mau para cada temporada e a mocinha se vê às voltas com ele. Na vida real, há muitos homens maus e a maior parte deles se engendra sobre a proteção vaidosa da expressão homens de bem que apenas esconde o propósito de fazer mau a outros seres humanos. Veja que aqui ambição está em desmedida e que toda vez que ela aparece e triunfa, ocorrem tragédias. Eu admiro e respeito muito todas as pessoas que estão lutando contra isso e respeitando aqueles que estão ao seu lado, bem como, respeitando, na expressão de suas palavras, mesmo aos seus adversários. O estado de beligerância não será desarmado sem essa atitude e os alegados extremismos deveriam ser melhor sopesados no espectro político brasileiro. Nesse sentido, eu só vejo dois lados no cenário todo. Um, daqueles que usurparam o poder ou que querem persistir fazendo isso e, o outro, daqueles que resistem e vão continuar lutando contra estas tentações e iniciativas. Assim, para mim, homem fraco e homem mau é aquele que se posiciona do lado dos primeiros. O resto é apenas ensaio de diferença.

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