TOMADA DE POSIÇÃO
Aprendi a observar com mais
cuidado as opiniões, posições e expressões dos políticos e dos homens e
mulheres públicos, das autoridades e, também, das celebridades em geral, após
uma advertência de um professor de filosofia que dizia basicamente que política
é a arte de tomar posição. Meu professor João Carlos Brum Torres, não dizia exatamente
que era uma arte, mas que o segredo da política é tomar posição. Hoje, passados
alguns bons anos dessa lição, eu penso que ele seguia algo como uma inspiração
sartreana desde jovem. Não conheço toda a história de militância dele, mas
sempre observei suas tomadas de posição e de outros e percebia e percebo o
quanto ele valorizava esse gesto e sua responsabilidade nisso. Assim, apesar de
nossas divergências partidárias e também algumas refregas eleitorais, sempre
pude considerar sua posição como importante no debate. E é assim até hoje, por
exemplo, quando ele se posicionou contra o golpe de Temer ou quando considerou
um crime o fechamento da FEE – Fundação de Economia e Estatística, entre outras
posições que o separavam das iniciativas dos membros do seu partido.
Ele queria dizer com isso que a
questão não era tanto se a posição estava certa ou errada, mas sim que ela
demonstrasse uma abordagem alternativa à realidade e à opinião frágil ou fraca
sobre ela.
Numa perspectiva mais formal, nós
podemos até mesmo fazer inquérito sobre as posições divergentes e tentar
monitorar a evolução dos acontecimentos para ver que posições se mostraram acertadas,
quais, mesmo erradas ou equivocas, contribuíram para a reflexão pública sobre
determinado assunto e, também, quais representavam apenas um beco sem saída ou
a mera negação de uma outra perspectiva ou posição.
Na trajetória política deveria
ser balanceado isso de alguma forma. Alguns somam pontos por sua lucidez e
eventual ousadia em tomar posição, outros perdem pontos por simplesmente
vomitarem suas biles, seu ódio, raiva ou grosseria no debate público.
Com o tempo se aprende a observar
a mísera diferença entre fanfarrões, oportunistas, parlapatões, grossos e a
perceber a grandiosa diferença daqueles que se expressam com responsabilidade e
serenidade de tal modo que conquistam nosso respeito e deveriam receber mais
atenção do público, enquanto os demais deveriam ser desvalorizados no grande
mercado de ideias políticas. Porém, ocorre que de vez em quando observamos uma
espécie de surto de insensatez e algumas figuras grosseiras cujo destino
deveria ser a nota de pé de página da história, procuram ter capítulo especial
como se tivessem algo a dizer, algo a ensinar e algo a fazer, mas não.
Lembrei deste tema da tomada de
posição ao saber que uma menina muito querida se posicionou contra o coiso e
faz isso muitas vezes ao dia porque não suporta a ideia de ver o Brasil nas
mãos desses caras e que tem também muitas precauções contra a mentalidade que
ele desperta ou dissemina em seus apoios. Ela toma posição e argumenta todos os
dias por #EleNão e #EleNunca.
Eu fico muito orgulhoso ao ver
isso. Porque sei que assim ela assume posição e responsabilidade pelos assuntos
públicos e vai à medida que o fizer com juízo e serenidade conquistar o
respeito público e contribuir de alguma forma para a sociedade. Para aqueles
que gostam de ficar sobre o muro, seja por prudência seja por auto preservação,
talvez seja importante observar que quem não tem posição ou não contribui no
debate público, tem muito pouco a dizer na esfera privada que tenha algum valor
e que o valha.
Tomar posição é da essência da
política e só quem toma posição compreende o quão sério deveria ser o
tratamento dado aos assuntos públicos.
P.S.: Homem fraco em política é
aquele que é incapaz de controlar a sua ambição e vaidade nos assuntos
públicos. E, em geral, quem não controla essas duas partes de sua alma comete
sucessivamente um absurdo ou estupidez atrás do outro. Num seriado que assisto,
há um homem mau para cada temporada e a mocinha se vê às voltas com ele. Na
vida real, há muitos homens maus e a maior parte deles se engendra sobre a proteção
vaidosa da expressão homens de bem que apenas esconde o propósito de fazer mau
a outros seres humanos. Veja que aqui ambição está em desmedida e que toda vez
que ela aparece e triunfa, ocorrem tragédias. Eu admiro e respeito muito todas
as pessoas que estão lutando contra isso e respeitando aqueles que estão ao seu
lado, bem como, respeitando, na expressão de suas palavras, mesmo aos seus
adversários. O estado de beligerância não será desarmado sem essa atitude e os
alegados extremismos deveriam ser melhor sopesados no espectro político
brasileiro. Nesse sentido, eu só vejo dois lados no cenário todo. Um, daqueles
que usurparam o poder ou que querem persistir fazendo isso e, o outro, daqueles
que resistem e vão continuar lutando contra estas tentações e iniciativas.
Assim, para mim, homem fraco e homem mau é aquele que se posiciona do lado dos
primeiros. O resto é apenas ensaio de diferença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário