Eu acho bem legal a Denise
Bottman lembrar esta discussão dos INTELECTUAIS ORGÂNICOS. Sou do tempo em que
isto parecia um tabu moral. político e
ideológico. O camarada que é oriundo da classe média ou da elite jamais poderá
liderar os trabalhadores. Foi bem bom para o Lula isso. Mas me parece uma
espécie de purismo ou preservacionismo de classe. Conheci diversos filhos de
classe média e da elite mais consistentes e renhidos na defesa da esquerda e do
proletariado do que outros que deveriam ser. Envolve isto, de um lado, a idéia
de que a libertação, emancipação ou revolução dos trabalhadores será obra deles
mesmos ou então não será e, também, aquela coisa meio maluca de que um
intelectual de esquerda oriundo da classe média ou da elite, mesmo fazendo uma
opção bem radical de esquerda, fazendo todos os sacrifícios materiais e
existenciais para ser de esquerda o que incluía se proletarizar e ir trabalhar
como peão, jamais poderá ser o intelectual da classe trabalhadora. Hoje vejo
isto como uma fantasia ou delírio teórico de base paranoide. A traição ou o
desvio que é o elemento a ser temido pode ser efetivado por qualquer um. Tanto
pelo indivíduo oriundo das classes trabalhadoras,quanto pelo filho da elite ou
da classe média burguesa. A questão de fundo é: a serviço do que você coloca
tua inteligência, conhecimento e experiência? Qual método e que resultados você
alcança com tuas ideias. Posso estar errado, e tenho sido muito mais prudente
em minhas afirmações, mas creio que este tema deve ser relativizado, que o dogmatismo
por traz disto deve ser dissolvido e para ser superado precisamos falar,
discutir, contestar e ultrapassar esta questão. E hoje é justamente 9 de
outubro, o dia em que foi sacrificado um intelectual orgânico de esquerda
oriundo da classe média e que pegou em armas, foi traído e desprezado e mesmo
abandonado por um partido comunista apinhado de indivíduos que sob esta
descrição poderiam ter sido intelectuais orgânicos, mas não o foram, nem em
teoria, num acordo com os conceitos, e nem na prática, num acordo na ação.
Denise Bottman lembrou assim: “antigamente
a gente lia gramsci e tinha aquela tal história dos intelectuais orgânicos x os
intelectuais tradicionais. claro que todo mundo queria ser intelectual
orgânico, que era muito mais bonito, e ficava naquele maior desconforto porque
sabia que não era nem poderia ser um intelectual orgânico em relação ao que, na
época, se chamava de proletariado. e ninguém queria ser intelectual orgânico de
sua classe (classe média, pequena burguesia, como lá se chamasse) e tampouco
jamais se concebia como um "intelectual tradicional", ora, imagina
só!
mas esse problema de identidade
para a intelectualidade de esquerda ou mesmo meramente progressista daquela
época era sério, quando não meio burlesco. pois, se o intelectual tradicional
gramsciano era aquele que estava unido a determinado grupo ou instituição e se
fazia de porta-voz dos interesses específicos daquele grupo ou instituição - e se
considerássemos que um partido, por mais de esquerda que fosse, era um grupo ou
instituição -, parecia um pouco difícil recusar a classificação de
"tradicionais" para seus intelectuais.
era um drama danado para os mais
suscetíveis.”
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