Ontem estava mesmo dizendo algo
sobre o pano de fundo de tudo isto. Algo que tenho conversado muito com colegas
e amigos no que toca ao meu modo de ver certas crenças da gente. Minha esposa
Regina Porto tem sido uma espécie de grande parceira neste debate também.
Porque nós dois possuímos crenças diversas, em alguns caso conflituosas, mas
preservamos nossos afetos comuns. E sempre lembro do meu falecido irmão - o
Rafael que nos faz falta a cinco anos já - neste tema. Tínhamos muitas crenças
em conflito, seja em detalhes, por nuances ou por ênfases, mas possuíamos
muitos afetos comuns também e a gente ria muito disto também. Os conflitos
políticos, religiosos, tradicionais ou inovadores e epistêmicos ou morais,
pertencem todos eles e encenam todos eles um certo regime de crenças, uma
economia de crenças. Então, na real certos conflitos não se dão entre pessoas,
mas sim entre sistemas de crenças e as pessoas que se lançam neste conflitos
agem como peões orientados por certas crenças, valores e também desejos e
intenções. Alguns são mais autoconscientes e percebem isto e aprendem a separar
toda aquela convicção e de seus afetos, já outros não. Assim, trato aqui do
recorrente conflito entre nossos regimes de crenças, sistemas de crenças e
nossos afetos. Nossas crenças mudam, podem mudar, podemos descobrir seus
equívocos e falhas, erros e enganos, mas nossos afetos não. Apesar dos afetos
mudarem em grau, noto que eles não deixam de existir. Mesmo quando nossas
crenças comuns deixam de existir, fica ali entre nós uma base afetiva. Desta
forma nossos afetos devem ter maior consideração em nossa economia da vida. E
devemos cuidar muito deles e dos seus objetos que realmente tem importância
para nós. Tenho muito respeito pelas crenças de todos, e aprendi mesmo a não me
apegar por demais em certas crenças, tendo em vista minha disposição a fazer
mais sínteses positivas do que conflitos, mas prefiro mesmo respeitar mais
nossos afetos. Quando mudarmos nossa economia de crenças por uma economia de
afetos, mudamos esta lógica perversa. E eu creio que nosso mundo será muito
melhor, nossas relações com os outros serão melhores. Esta é a a posta que
faço. Aliás, lembrei disto em três situações ontem. Na primeira, lembrei com
minha colega Carolina Sá Mendes, disto e relacionei com Jesus Cristo que
mandava amar uns aos outros muito mais do que a qualquer coisa - penso que
crenças também devem se subordinar a este princípio. E que, portanto, amar é um
ditame orientador de todas as nossas disposições apesar das crenças que
possamos ter. Na segunda situação, relacionada a uma brincadeira com amigas do
Ceprol, Andreia Nunes, Angelita Lucas e Cristiane Maria Mainardi, expressei que
meu afeto era independente do que quer que eu viesse a acreditar ou pensar
sobre qualquer coisa. Depois, numa situação de debate com um velho amigo professor
sobre saúde e alimentação, ao final, o que restou de nossas clássicas
divergências foi a graça. Sim, a graça infinita de nos sabermos nesta vida,
próximos e num mundo comum. A educação e o diálogo, a democracia e o respeito
sempre vão acabar por nos guiar para isto.
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