AQUELE DIA NORMAL
Hoje tá um dia pacato e tranquilo. É o típico dia perigoso na expressão do meu pai para todas as escadas. Ele dizia simplesmente que todas as escadas eram perigosas. Por isso, em seguida, ao se referir a elas dizia escada assassina. O que há de comum entre um dia como hoje e a escada assassina é que parece mesmo que nada vai acontecer. Entretanto... É em dias assim que as coisas acontecem. Podes crer. E não precisa ter muita experiência ou literatura para saber disto. Aliás, não é algo que se sabe. É algo que se sente no ar. Parece que está tudo esperando os acontecimentos. Aguardando a entrada em cena no segundo ato da chave de um drama. Até as pausas entre os cantos dos pássaros, latidos dos cachorros, canto do galo, marretadas do pedreiro, vãos entre os carros parecem aguardar a entrada de algo especial. De um solo de clarineta, de um trompete enlouquecido, uma guitarra flamejante, a voz de um barítono apaixonado ou de uma soprano em desespero de causa, um ataque célere e decisivo sobre o mundo e tudo que há. Um acontecimento propício, um grito de prazer e nada mais volta ao normal, nada mais será como foi um dia...
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