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sábado, 24 de agosto de 2013

REDE ELÉTRICA, CÍRCULO E FILOSOFIA DE CHAVEIRO

Bom Dia....amanhecemos sem luz em casa...o disjuntor da entrada desarmou...fiquei pensando e lembrando de coisas que aprendi com meu pai...agora dar uma geral na rede e nas tomadas, lâmpadas e máquinas da casa inteira. 

O Cooler do PC quando liguei girou mal e fazendo aquele barulho que parece uma latinha batendo pode ter sido ele que aqueceu a rede?, não, pouco provável, tenho três outros suspeitos, até o fim do dia a investigação e a reflexão sobre isto termina. É preciso ser metódico e revisar tudo, dividir os problemas em unidades menores possíveis e seguir o princípio da velha lógica de uma rede de distribuição de energia imaginada mentalmente - uma planta mental - seus troncos, suas conexões e terminais e a ligação de cada coisinha que só funciona com eletricidade a sua tomada ou interruptor..as lâmpadas- aquelas pequenas resistências impacientes.

Lembrei da ventoiniha com as pás viradas ou tortas do radiador ao ouvir o Cooler...pela enésima vez disso passo para uma relembrança direta dos anos 70 e as DKWs que meu pai teve e a abertura do capô para  encontrar um motor e suas pás girando. Depois as velhas lembranças da oficina, do galpão do meu avô. Lembro dos diferentes tipos de ventiladores, hélices, discos, rodas, rotores, motores. Lembro que mostrei para a Antônia na semana passada uma das máquinas mais incríveis que encontrei bem cedo na vida: o tomo de oleiro, para fazer vasos de barro, argila ou cerâmica. Milhares de tipos de rodas me vem a cabeça agora. E eu fiquei associando isso à roda da pracinha dos brinquedos onde girávamos quando criança sem parar, a roda gigantes e tudo que você puder imaginar. Dos transferidores em que aprendi a desenhar as órbitas dos planetas, passando pelas lentes do microscópio. Os petits poas em preto e branco do vestido da minha irmã que quase transformavam ela numa dálmata humana. Muitas bolinhas de gude pelo chão. Uma verdadeira viagem por zilhões de imagens de lembranças, conhecimentos, técnicas, utensílios...   

Bem, não é por outro motivo que postei o PI como imagem de fundo do meu perfil aqui porque há uma relação quase sagrada entre um perímetro e um diâmetro de uma circunferência qualquer que é representada por este número e que nos parece quase impossível esgotar. Em 2011 atingiram a série de 10 trilhões de dígitos após a vírgula. 

Ontem no diálogo com os acadêmicos que me acompanham surgiu a questão da relação que o senso comum faz entre filosofia e delírio. Entre um pensamento que fala de coisas intangíveis, ininteligíveis, estranhas e também que beira à poética ou ao puro discurso técnico - dependendo do objetivo e do rigor de quem profere este discurso -  e eu disse simplesmente isso: a velha questão é que o ignorante ou mesmo os gênios desdenham ou negam tudo aquilo que não compreendem. E chamar um discurso filosófico de delírio pode até fazer sentido, porque alguns discursos filosóficos beiram de fato ao delírio, mas não revela nem acertos e nem sequer os erros daquilo que estás endo dito ou pensado, temos que ir para além do juízo definitivo ou mesmo antes deste e procurar compreender o que está sendo posto ali para nossa reflexão, sendo muitas vezes generoso com o interlocutor ou com aquele que expressa tal discurso considerado que talvez lhe faltem as palavras, ou lhe tenha faltado o tempo para desenvolver melhor suas idéias ou seu pensamento de forma integral e completa. 

O círculo nem sempre se fecha com o final da proposição. E muitos autores abrem suas obras com uma chave e ao final não dá mesmo para usar a mesma chave para sair. Tudo - neste caso e através desta metáfora - se passa como se um chaveiro tivesse trocado a fechadura ao longo do nosso percurso pelas ideías desenvolvidas por este autor e na hora de sair precisarmos de outra chave ou que nos perdemos procurando ela ao longo da obra. Indo e voltando. E também ocorre em alguns casos que alguns autores produzem algo que é tão surpreendente que chega a nos aprisionar em suas ideias. Quando leio Platão, Descartes, Kant, Heidegger (Ser e Tempo), Wittgenstein (Tractatus) e alguns outros tenho a sensação de ver uma mesma chave abrindo e fechando. Agora  quando leio algumas outras coisas tipo aqueles textos maravilhosos de Aristóteles, Hegel, Nietzsche, Wittgenstein (Investigações e seus textos publicados postumamente) tenho a sensação de que não há saída possível de que você entra em uma espécie de cilada filosófica. Mas penso que a única forma de se libertar disto é ter consciência deste limite interno à estas obras de que elas são obras in progress - aparentemente acabadas, mas que possuem um movimento interno e uma dinâmica interna que as relaciona tanto com uma tradição anterior quanto com o nosso horizonte de sentido, nosso contexto de interpretação e nossa disposição e generosidade a entender esta ou aquela barbeiragem de pensamento, tradução ou informação que nos falta.

Fiz uma ironia imperdoável de que esta experiência perturbadora para alguns tem dois exemplares magníficos. De uma lado, Nietzsche funciona como uma espécie de abre alas ou porteiro de boate, enquanto o maldito Hegel é o presidente do clube, e é quem manda neste negócio doido de fazer as pessoas ficarem prisioneiros de suas idéias. E você pode verificar facilmente que nenhum Hegeliano se afeiçoa a Nietzsche e nenhum Nietzschiano engole Hegel por um único motivo: ambos precisam sofrer um enraizamento e não o aceitam tão fácil assim. 

Marx percebeu bem mais do que a necessidade de inverter a relação entre ideal e real. Agora, Nietzsche é mesmo um filósofo perigoso: protejam as crianças e todas as pessoas com tendências antissociais ou idealistas. A negação pode ser somente a negação de si mesmo.

Bom dia....que delírio, que viagem, da rede elétrica ao círculo, do círculo à filosofia de chaveiro....

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